A Comissão ainda aprovou, por unanimidade, a realização de visitas a delegacias com maior incidência de prisões ocasionadas por falhas durante o reconhecimento e à Academia Estadual de Polícia Sylvio Terra (Acadepol). De acordo com a presidente da CPI, deputada Renata Souza (PSol), essas diligências serão importantes para acompanhar presencialmente como está sendo feito o procedimento de reconhecimento.
"Iremos fazer o levantamento das delegacias com maior número de casos registrados. Na Academia, vamos observar a formação e qualificação dos policiais. Esta CPI foi criada justamente por conta do elevado número de pessoas levadas à apreensão a partir do reconhecimento fotográfico. O objetivo da Comissão é impedir que esses erros não se tornem a própria política pública do Estado", explicou a parlamentar.
Sistema de Alinhamento Justo
Badaró apresentou à Comissão um panorama sobre os aspectos penais e processuais relevantes na produção de reconhecimento pessoal como prova penal. Ele destacou que a questão deveria estar sendo debatida em âmbito político e jurídico. “Essa é uma oportunidade ímpar para discutirmos um tema de suma importância para a sociedade fluminense, que é o erro judiciário a partir da perspectiva do reconhecimento fotográfico, em que as recorrentes prisões geram um sofrimento injusto para um grupo específico de pessoas, que têm pele e classe social”, declarou o advogado.
Segundo o especialista, o reconhecimento de pessoas como meio de prova visa a contribuir para que se possa investigar e atribuir corretamente a responsabilidade penal.
“O procedimento equivale a um teste de memória no qual a vítima ou testemunha de um determinado evento delituoso deve observar rostos, presencialmente ou em fotografias, para verificar na memória se o rosto corresponde àquele de quem cometeu um crime. Portanto, trata-se de um procedimento que depende da memória, que é suscetível a falhas. Isso significa que a vítima possa apontar uma pessoa, ainda que honestamente, como responsável por um crime, caracterizando um erro judiciário. É o que chamamos de falso positivo. Dessa maneira, pode um inocente ser condenado ou um culpado absolvido. Esta questão do reconhecimento facial deveria estar ocupando um papel central nos debates”, destacou Badoró.
Banco fotográfico estadual
Renata Souza perguntou ao especialista quais iniciativas a Alerj poderia adotar a fim de melhorar o sistema de reconhecimento. O especialista sugeriu que o Legislativo Fluminense proponha a adoção de um Banco Fotográfico Estadual. "É possível, como a Polícia Civil de São Paulo tem feito, pensar na regulamentação de um banco de dados que permita que haja o reconhecimento fotográfico por meio do alinhamento justo. Ainda que seja um tema para o Congresso Nacional, a Alerj poderia apresentar esta proposta", sugeriu o advogado.
O vice-presidente da CPI, deputado Munir Neto (PSD), indagou se Badaró é favorável ao sistema de reconhecimento fotográfico. O advogado respondeu positivamente, desde que seja respeitado o protocolo de alinhamento justo. "Se não há diferença em termos de eficiência em relação à capacidade de apresentar informação confiável, não há por que evitar. Desde que seja feito em conformidade com o que a ciência diz, o que não tem nada a ver com os álbuns de suspeitos que existem nas delegacias do Estado", ponderou o advogado.
O relator da Comissão, deputado Márcio Gualberto (PL), perguntou a Badaró quais seriam outras medidas para aprimorar o novo protocolo. Segundo o especialista, é fundamental informar à vítima que é possível que o autor do crime não esteja entre as pessoas apresentadas. "É preciso que sejam dadas recomendações e instruções prévias dizendo que o autor pode não estar ali. A pergunta feita anteriormente para que se descreva tem que ser correta, para que a vítima faça um relato livre daquilo que ela lembra", respondeu o especialista.