As investigações da Polícia Federal (PF) revelam que a quadrilha que transportava drogas em aviões entre países da América do Sul, Estados Unidos, Europa e África recrutava pilotos e mecânicos que preparava as aeronaves, com revisões mecânicas nos estados de Goiás, Tocantins e Pará.
Os suspeitos adulteravam os aviões para aumentar a autonomia de voo, inserindo mecanismos irregulares de abastecimento adicional. Eles mudavam a pintura original dos aviões, antes e após os voos com vistas a mascarar os reais prefixos. Reaproveitavam a documentação de aeronaves inutilizadas no intuito de “esquentar” outras em condição irregular omitindo e falsificando planos de voo. Por meio de minuciosas limpezas internas, os criminosos destruíam possíveis vestígios de drogas.
A organização é alvo de uma operação da PF batizada de Flak, que é a maior já realizada no Brasil para combater a logística de transporte de drogas. Em apenas dois anos, o bando teria transportado mais de nove toneladas de cocaína.
Em trechos da decisão, a Justiça Federal aponta que as investigações foram realizadas ao longo de dois anos e que a quantidade de drogas transportada, neste período, representa “uma pequena fração” movimentada pelos investigados. “A organização, por meio dos seus líderes, cooptou pilotos, copilotos, ajudantes, mecânicos, empresários, familiares, entre outros sujeitos, para promover o tráfico internacional de entorpecentes. Nos dois anos de investigações, foram identificados 23 voos, sendo que cada um transportou cerca de 400 quilos de cocaína. O custo do frete cobrado pela organização investigada girava em torno de 150 mil dólares, de modo que ela teria sugerido no mínimo cerca de R$ 13 milhões.
Ao todo, foram emitidos 37 mandados de prisaão preventiva, 18 de prisão temporária e determinada busca e apreensão em quase 81 localidades diferentes, entre residências e sedes de empresas, além da apreensão de 47 aeronaves. Os mandatos foram cumpridos no Tocantins, São Paulo, Distrito Federal, Paraná, Roraima, Pará, Ceará e Goiás.
A organização, supostamente liderada por João Soares Rocha, chamou a atenção da Justiça por sua complexidade e detalhada divisão de tarefas. Na decisão judicial, o juiz federal Pedro Felipe de Oliveira Santos afirma que foram colhidas evidências consistentes de que o grupo teria forte atuação no Brasil e no exterior, “com ligações diretas e relações comerciais com agentes produtores e com agentes varejistas que também operam tráfico de drogas na Colômbia, na Venezuela, na Bolívia, em Honduras, na Guiana, no Suriname, na Guatemala, nos Estados Unidos, na União Europeia e na África”.
"As suspeitas iniciais indicavam que o transporte de drogas se desenvolvia via aérea, com rota entre países produtores (Colômbia, Bolívia), países intermediários (Venezuela, Honduras, Suriname e Guatemala) e países destinatários (Brasil, Estados Unidos e União Europeia)", diz trecho da denúncia
Crimes
Os acusados poderão responder pelos crimes de tráfico transnacional de drogas, associação para o tráfico, financiamento ou custeio para o tráfico transnacional de drogas, atentado contra a segurança do transporte aéreo, ocultação e dissimulação de bens e de valores e por organização criminosa.