"'Será possível para o homem a total liberdade sexual? Foi dada ao homem esta capacidade, este privilégio?' Convenhamos que é uma pergunta importante, para uma espécie que está sempre discutindo seus limites de Liberdade. A narrativa de João Ubaldo Ribeiro contém nítida importância filosófica, disfarçada em folhetins de peripécias sexuais. O personagem 'sem nome' que Ubaldo criou é sem dúvida uma DEUSA. Ela possui uma liberdade divina almejada na imaginação por todos nós e, na prática, inalcançável por qualquer um de nós.Habilmente arquitetada está livre de repressão sexual. Trata-se, portanto, de um ideal inalcançável por qualquer um de nós", diz o diretor Domingos de Oliveira sobre a peça.
Quando Domingos leu pela primeira vez a obra de João Ubaldo percebeu imediatamente o valor dramático do texto. "Nem todo livro rende uma boa adaptação teatral, mas 'A Casa dos Budas Ditosos', é um livro escrito na primeira pessoa, o depoimento de uma mulher que deseja dizer ao mundo que ousou cumprir sua vocação libertina e foi feliz, não há danação na luxúria. Nasceu teatro porque é oral e é oral porque, segundo o próprio João Ubaldo, nas primeiras páginas do livro: 'é impossível falar sobre sexo na terceira pessoa'", afirma Domingos.
Para viver a personagem, Domingos pensou que "precisava de alguém que soubesse transitar por todas as idades, pelas diversas fases da personagem”. Ao diretor, pareceu que uma atriz que estivesse “entre os trinta e cinco e os quarenta e poucos, a melhor idade na vida de qualquer mulher”. Segundo a baiana do livro, seria o ideal para criar essa diversidade.
Esse artifício, simples e não realista, de ter uma atriz de meia-idade vivendo uma mulher de idade que se lembra de todas as suas idades, acabou por acentuar o discurso libertário da baiana de João Ubaldo. Quem prega, confessa e ri é a mulher no seu ideal, é uma imagem projetada e viva. Essa ilusão contribui para que a viagem sexo-sensorial, proposta por João Ubaldo, aconteça plenamente no teatro. É impossível ficar indiferente à seleção de homens e mulheres que a baiana evoca, como também é impossível, ao evocá-los, deixar de passar em revista o seu próprio memorial afetivo. Esse efeito colateral, talvez, seja a grande experiência sensorial do espetáculo.
“A narrativa de João Ubaldo Ribeiro contém nítida importância filosófica, disfarçada em folhetins de peripécias sexuais. O personagem sem nome que Ubaldo criou é sem dúvida uma deusa. Ela possui uma liberdade divina almejada na imaginação por todos nós e, na prática, inalcançável por qualquer um de nós”, diz Domingos.
Fernanda Torres encontrou nesse convite o projeto ideal para experimentar a possibilidade de se fazer teatro apenas com um ator, um texto e um microfone. Era uma vontade antiga que a atriz alimentava desde que assistiu pela primeira vez a "Spalding Gray". A contundência do discurso sexual da baiana e a qualidade do texto de João Ubaldo deram segurança aos dois, Domingos e Fernanda, de optar pela limpeza absoluta, de confiar na máxima de que quanto menos, mais. Arriscaram deixar a personagem sentada, acompanhada apenas de alguns objetos, entre os quais o maravilhoso livro "Nossa Vida Sexual", de Fritz Khan, da biblioteca do avô da personagem, "Tivemos a alegria de encontrar a obra num sebo de São Paulo e os dois Budas Ditosos, estatuazinha em miniatura de dois budinhas, praticando o sexo, 'essas coisas milenares, de Chinês'", revela Fernanda.
O espetáculo tem duração aproximada de 60 minutos e os ingressos já estão à venda. Eles podem ser adquiridos pelo site Sympla ou nas bilheterias do teatro.
FICHA TÉCNICA
Texto de João Ubaldo Ribeiro
Com Fernanda Torres
Direção – Domingos de Oliveira
Dramaturgia – Domingos de Oliveira e Fernanda Torres
Direção de arte – Daniela Thomas
Figurino – Cristina Camargo
Criação Maquiagem – Marcos Padilha
Light designer – Wagner Pinto
Produção – Bonarcado Produções Artísticas
Co-Produção – Trígonos Produções Culturais
Direção de Produção – Carmen Mello
Assistência administrativa e Produção – Elinete Barcellos