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Polícia Civil prende e MPRJ denuncia ex-PMs pela execução de Marielle e Anderson

A dois dias de se completar um ano do assassinato, Operação Lume prende suspeitos de dirigir o carro e de atirar contra a vereadora do PSOL e o motorista do mandato

Por Cezar Faccioli em 12/03/2019 às 09:58:03

Elcio de Queiroz e Ronnie Lessa. Fotos: Reprodução

O policial militar reformado Ronnie Lessa, de 48 anos, e o ex-PM Elcio Vieira de Queiroz, de 43 anos e expulso da corporação, foram presos e denunciados pelos homicídios qualificados da vereadora do PSOL Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes, além da tentativa de homicídio de Fernanda Chaves, assessora de imprensa do mandato.  As prisões ocorreram por volta das 4h desta madrugada na Operação Lume, realizada nas residências dos denunciados pela Polícia Civil.

De acordo com a denúncia, as investigações concluíram, por meio de diversas provas, que Lessa foi o autor dos crimes, tendo efetuado os disparos de arma de fogo, com a participação de Elcio que foi o condutor do Cobalt utilizado para a execução. Ronnie Lessa é policial militar reformado, tendo sido alvo de um atentado preparado pelo mesmo especialista que atuou na tentativa de homicídio contra o sobrinho do barão do bicho, Castor de Andrade, a mando do genro de Castor, Fernando Iggnácio. O atentado indica que Lessa tinha ligações com a Máfia dos Caça-Níqueis. Elcio, por sua vez, foi policial militar, tendo sido expulso da corporação.

Para os promotores do GAECO/MPRJ, a empreitada criminosa foi meticulosamente planejada durante os três meses que antecederam o atentado. As investigações preliminares revelaram que Lessa pesquisou desde outubro de 2017 a rotina de Marielle e dos parentes da vereadora, do deputado federal Marielle Freixo (PSOL-RJ), que presidiu há dez anos a CPI das Milícias, e do comandante da intervenção federal na Segurança Pública, general Braga Neto. O PM reformado teria pesquisado na web também armas de precisão e grande poder destrutivo, como a submetralhadora MP-5. Além das duas prisões, a operação  realiza mandados de busca e apreensão nos endereços dos denunciados para apreender documentos, telefones celulares, notebooks, computadores, armas, acessórios, munições e outros objetos.  

Junto com os pedidos de prisão e 32 mandados de busca e apreensão, o GAECO/MPRJ pediu a suspensão da remuneração e do porte de arma de fogo de Lessa.  Também foi requerida a indenização por danos morais aos familiares das vítimas e a fixação de pensão em favor do filho menor de Anderson até completar 24 anos de idade.

A Operação Lume foi batizada em referência a uma praça no Centro do Rio, conhecida como Buraco do Lume, onde Marielle desenvolvia um projeto chamado Lume Feminista. No local, ela também costumava se reunir com outros defensores dos Direitos Humanos e integrantes do Psol. Além de significar qualquer tipo de luz ou claridade, a palavra lume compõe a expressão 'trazer a lume', que significa trazer ao conhecimento público, vir à luz.

“É inconteste que Marielle Francisco da Silva foi sumariamente executada em razão da atuação política na defesa das causas que defendia”, diz a denúncia acrescentando que a barbárie praticada na noite de 14 de março de 2018 foi um golpe ao Estado Democrático de Direito.

Policiais que participaram da operação, coordenada pelo diretor da Divisão de Homicídios, delegado Giniton Lages, chegaram a usar o termo 'fio da meada' para ilustrar a importância da descoberta. O tempo de planejamento e a investigação feita na internet para outros alvos potenciais tornam mais provável, de acordo com os mesmos policiais, que os supostos executores tenham atuado a mando de outros grupos. A Polícia Civil já havia abortado uma trama para assassinar o deputado federal Marcelo Freixo, por ocasião de um evento na sede campestre do Sindicato dos Professores, em Campo Grande, e está investigando um grupo de ex-policiais e policiais da ativa que integram o chamado Escritéio do Crime. A nota oficial do MPRJ e as primeiras informações oficiosas da Polícia Civil não estabeleciam nexo entre as prisões de hoje e as detenções do miliciano Orlando de Curicica e de um policial militar cuja identidade é mantida em sigilo. 

Não houve menção, também, ao vereador Marcelo Siciliano (PHS), convocado a depor no curso das investigações sobre a morte da vereadora. Uma linha de investigação da Polícia Civil apontava desconforto de milicianos, influentes no mandato de Siciliano e no grupo de Orlando de Curicica, com a expansão do trabalho de Marielle na Cidade de Deus e em outras comunidades de Jacarepaguá, maior bairro em extensão do Rio, onde tem sido frequentes os confrontos a bala entre traficantes e milicianos pelo controle de territórios. Uma coletiva conjunta da Polícia Civil e do Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro foi marcada para as onze da manhã desta terça-feira.

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