Em recuperação pós-operatória no CAPSad Dona Ivone Lara, integrado à RUA Sonho Meu (Residência e Unidade de Acolhimento), em Cascadura, Leonardo Silva Monteiro de Arruda, de 38 anos, está começando uma nova etapa da sua vida. Impedido de trabalhar devido a uma hérnia inguinal muito avançada e diabetes, que agravava o seu caso, o ajudante de pedreiro brigou com a família, se afundou nas drogas e no álcool, abandonou seu município de origem, Duque de Caxias, e foi parar nas ruas do Centro do Rio. Quando ouviu falar de um serviço que a Prefeitura do Rio estava montando, foi conferir, e encontrou não só o amparo social de que precisava, mas também o cuidado para o problema de saúde que contribuiu para sua história de infortúnios.
Leonardo veio de Caxias para viver nas ruas do Rio há cerca de um mês. Ele conta que tentou tratamento para a hérnia em seu município de origem, sem sucesso. Quando o problema de saúde agravou, dificultando que pegasse peso e continuasse a trabalhar nas obras, a situação financeira apertou e ele se viu impedido de ajudar em casa. A frustração o levou para o álcool e as drogas e detonou as brigas familiares, até sair de casa e de sua cidade. Foi parar na Praça da Cruz Vermelha, no Centro do Rio, bem próximo de onde seria montado na última semana o PAR Carioca (Ponto de Apoio da Rua), equipamento que faz parte do Programa Seguir em Frente, da Prefeitura do Rio, voltado ao acolhimento e assistência da população em situação de rua.
“Eu já tinha trabalhado como camelô no Centro do Rio, por isso, quando briguei com minha família e saí de casa, vim para o Rio, na esperança de recomeçar. Mas não tive oportunidade e fiquei pelas ruas esse tempo todo. Até que ouvi falar de uma nova unidade da Prefeitura que tinha lugar para tomar banho, pegar kits de higiene e que tinha uma estrutura bem grande. Resolvi ir. Estava tudo novo, com um pessoal muito preparado e dedicado a ajudar quem precisa”, conta Leonardo, que chegou ao PAR Carioca no dia da inauguração, 21 de dezembro.
Na estrutura montada na Avenida Henrique Valadares, que oferta uma série de serviços para a população em situação de rua – como assistência em saúde e social, chuveiros para banho, máquinas para lavar roupa, corte de cabelo, distribuição de kits de higiene, veterinário para os animais de estimação, armários para guarda dos pertences, encaminhamento dos que desejarem para abrigos –, Leonardo foi acolhido e avaliado pela equipe de saúde, que, na anamnese, logo identificou seu problema clínico.
“Observei que ele tinha dificuldade de caminhar e, quando questionei o motivo, me disse que tinha diagnóstico de hérnia inguinal e diabetes. Fizemos a avaliação e classificação de risco, que na situação de grande vulnerabilidade em que ele estava, com o nível de glicemia bastante desregulado e uma hérnia bem grave, era de risco elevado. E com base nessa classificação de risco, a Central de Regulação do município providenciou a regulação e conseguiu a vaga no Hospital Municipal Ronaldo Gazolla, para a realização da cirurgia de urgência. No início ele não queria ser internado, mas depois de muita conversa, aceitou”, conta Raquel Caprio, enfermeira e assessora técnica da Subsecretaria de Atenção Primária, responsável pelo acolhimento.
Leonardo foi operado no dia 24 de dezembro, após estabilização da taxa de glicemia. Ele recebeu alta na última quarta-feira (27), quando foi levado para o leito clínico no CAPSad Dona Ivone Lara. Assim que estiver liberado pelo médico, assumirá sua vaga na RUA Sonho Meu. Agora, o ajudante de pedreiro não vê a hora de recomeçar e voltar a ajudar a família.
“Ainda estou sob cuidados diariamente. Desde a Raquel lá no Centro, até aqui em Cascadura, o pessoal tem cuidado muito bem de mim. No começo eu tinha medo de aceitar a ideia de ir operar e vir para cá, confesso. Mas hoje sei que foi a melhor decisão que já tomei. Eles já me falaram dos estágios, que dá para fazer atividades aqui e ser remunerado. Assim que eu receber alta definitiva, vou entrar nesses estágios e, quem sabe no futuro, consiga voltar a trabalhar de carteira assinada. Vou voltar para casa de cabeça erguida e pedindo a Deus que me aceitem de volta”, diz Leonardo, sonhando em seguir em frente.
Programa Seguir em Frente
O Programa Seguir em Frente é o plano de ação e monitoramento para efetivação das medidas de proteção à população em situação de rua na cidade do Rio de Janeiro. O planejamento estabelece diversas medidas de acolhimento, assistência social e saúde para o cuidado e diagnóstico desse grupo populacional mais vulnerável. O objetivo é criar condições para a ressocialização, promovendo a reinserção no mercado de trabalho e resgatando a cidadania. Três novos equipamentos foram inaugurados pela Secretaria Municipal de Saúde no contexto do programa: o PAR Carioca (Ponto de Apoio na Rua), no Centro, para atrair e dar um primeiro acolhimento à população em situação de rua; a RUA Sonho Meu (Residência e Unidade de Acolhimento) e o CAPSad III Dona Ivone Lara, que funcionam integrados em Cascadura.
A proposta do projeto é, em cinco fases sequenciais, criar condições para que as pessoas saiam das ruas para unidades de acolhimento; promover o tratamento de saúde que cada um precise; dar ocupação remunerada, no próprio projeto, em atividades de interesse público ou em instituições parceiras; construir um futuro com a preparação para o mercado de trabalho e geração de renda; conquistar autonomia para deixar o programa e seguir em frente, reinserido na sociedade e com a cidadania resgatada.