Clima de medo impera na Cidade de Deus com os constantes tiroteios entre policiais e criminosos no bairro. Uma operação da Polícia Militar iniciada na quinta-feira (21) e finalizada na madrugada de sexta-feira (22) teve como saldo dois mortos, um adolescente ferido, a apreensão de armas e drogas, além de pânico entre adultos e crianças.
Durante o confronto, alunos de uma escola local tiveram que se proteger contra as balas. Uma moradora que não quer se identificar relata momentos de pânico entre os moradores.
“Ontem, (quinta-feira) a polícia chegou às 6 da manhã e o tiroteio começou. As vias públicas só foram fechadas às 3 da tarde e não entendemos o motivo da demora. Foram mais de 12 horas de conflito, com crianças dentro de escolas fechadas”, disse.
Na operação, a polícia usou um helicóptero. Segundo moradores, a aeronave fez disparos, o que causou pânico entre a população da Cidade de Deus.
“O governador só está cumprindo o que prometeu. Tiro na cabeça”, disse a moradora.
Tensão no ar
Os organizadores da página CDD na Web alegam que receberam ameaças por meio de bilhetes. A atualização do canal está comprometida. E o clima tenso se justifica. De acordo com a ONG Onde Tem Tiroteio, (OTT), o número de ocorrências no bairro durante os primeiros dias de março é maior do que o registrado no mês anterior. Em fevereiro, foram 15 tiroteios na Cidade de Deus, que ocupou a oitava posição entre as ocorrências do gênero no Rio de Janeiro.
Já no mês de março, a Cidade de Deus salta para a quarta colocação entre as localidades de maior quantidade de tiroteios no Estado. Foram 22 registros. Dois a menos do que o registrado na Praça Seca e a segunda posição da estatística, superada apenas pela quantidade de ocorrências registradas em Belford Roxo, 65 ao todo.
Produtores culturais pedem mudanças
O produtor cultural Bruno Rafael, morador da Cidade de Deus, pretende se reunir como governador e sugerir mudanças na forma de ação contra o crime. Ele falou ao Portal Eu, Rio! Ao chegar a sua casa, no final da tarde desta sexta-feira (22), ainda sob o som de alguns tiros:
“Este tipo de operação policial contra criminosos na Cidade de Deus não funciona. Estamos nos organizando como produtores culturais para pedir audiência com o governador e conversar pessoalmente sobre algumas coisas equivocadas. O pessoal que votou nele não espera tiros, balas e guerra. Temos esportes e cultura”, disse.
Bruno acredita que investir em esportes, cultura e educação dará mais resultado contra o crime e critica as operações no bairro. Ele diz que os policiais atiram a esmo. “As balas podem atingir casas e comércio. E se pega em um botijão de gás?”, questiona.
“É preciso criar um núcleo, uma ouvidoria, e analisar os resultados. Se o governador continuar nesse caminho não terá apoio da comunidade com esse discurso. Não vai ter apoio”.
O produtor cultural também questiona o propósito das operações: “Qualquer coisa que acontece na Cidade de Deus gera mídia. Qual o propósito disso? Não quero receber incursão. Quero ajuda para o projeto de meus amigos”.
Resultado da operação
A operação na Cidade de Deus teve como saldo a apreensão de um fuzil AK 47 sem numeração, com sete munições; uma pistola calibre 9mm com oito munições, uma pistola Glock, calibre 9mm com dez munições; 177 pinos de cocaína, 123 trouxinhas de maconha, 92 pedras de crack; 79 tabletes pequenos de maconha e nove frascos de loló.
Os dois mortos foram identificados como Felipe Rodrigues Rocha, de 34 anos e Pedro Henrique Soares da Silva, de 19. Um menor foi ferido e levado para o Hospital Municipal Lourenço Jorge, na Barra da Tijuca.