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Grande Rio monta na onça para contar mito tupinambá da criação do mundo

Escola é primeira a lançar luz sobre novos recursos do Sambódromo e distribui pulseiras luminosas

Por Cezar Faccioli em 12/02/2024 às 05:49:16

Grande Rio mostrou as garras com enredo de onça, e brilhou com jogo de luz e sombra no Sambódromo. Foto: Reprodução Internet

Quarta agremiação a desfilar, a Grande Rio foi a primeira a usar com intensidade as possibilidades abertas pela iluminação do Sambódromo. O ponto de partida foi o livro de Alberto Mussa, Nosso Destino É Ser Onça. O pulo do gato, contudo, foi fazer do maior felino brasileiro um fio condutor, mas não esgotar o enredo nesse tema. O mito tupinambá da criação do mundo, do duelo repetido entre luz e trevas, encontra na onça um símbolo de resistência e força, mas permite abordagens mais amplas.

Representações da onça na cultura nordestina, como a Rainha Caetana, inspiraram carros da Grande Rio.

A ideia de crescer em meio a dificuldades, de mostrar-se agressivo quando necessário, combina com o apetite da onça, na visão do livro de Mussa. O enredo faz menção à antropofagia, nos termos do modernismo de Mário e Oswald de Andrade. Devorar os invasores, sua imposição cultural, digerir e transformar em força. Simbolismo emprestado da crença de que os guerreiros mais valentes da tribo inimiga, se devorados, cediam sua coragem e astúcia a quem os devorada.

O animal abriu espaço para outros felinos, como o jaguar e a jaguatirica, e suas representações em outras culturas. As possibilidades dramáticas de sombra e luminosidade foram exploradas com inteligência. A começar pela onça gigante que brilhava no escuro e se movimentava, no começo do desfile. A distribuição de pulseiras luminosas para o público, acionadas nas viradas do samba, recurso mais frequente em show de rock mas inédito no desfile das escolas, tornou a arquibancada parte do espetáculo.

A onça esteve presente na roupa da rainha de bateria, Paolla Oliveira, que teve seu melhor desempenho na avenida em muito tempo. O felino permitiu visitas à obra de ícones da cultura brasileira. Os sertões do mineiro Guimarães Rosa marcaram presença com o iauaretê, o tio que se transformava em onça. Ariano Suassuna teve representações da onça Caetana em um dos mais belos carros do desfile. Mais fosco, sem os recursos mecânicos ou de iluminação de outras alegorias, o carro chamava atenção pela fidelidade ao universo armorial, de equilíbrio difícil entre o rigor erudito e a espontaneidade popular.


Paolla Oliveira, a "onça" da bateria da Grande Rio. Foto: Reprodução Internet

O jogo de luzes da Grande Rio teve impacto semelhante aos das primeiras alegorias humanas de Paulo Barros na Unidos da Tijuca. Não houve maiores sobressaltos na evolução, nem estouro de tempo. O sistema de som funcionando a contento ajudou no rendimento do samba na passarela. O desafio para a caçula do Grupo Especial é repetir junto aos jurados o desempenho apresentado há dois anos, quando a aposta ousada em Exu, orixá mais demonizado em tempos de intolerância, rendeu o título à escola de Caxias. Ousadia envolve risco, preconceito, mas abre caminhos, para quem mostra a garra necessária.


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