Morreu na última quarta-feira (04) em Cabo Frio na Região dos Lagos o empresário e ex-proprietário do Canecão, Mário Priolli. Ele tinha 82 anos e a causa da sua morte ainda não foi divulgada. Nascido em São Paulo, foi na capital fluminense que ele deixou seu nome na história ao fundar aquele que seria um dos maiores palcos da história da MPB.
Inaugurado em junho de 1967 e infelizmente fechado por problemas judiciais desde 2010, o Canecão capitaneou nos quase quarenta e cinco anos em que esteve aberto shows históricos de grandes nomes da história da música tanto brasileira quanto internacional. Localizada em Botafogo na Zona Sul do Rio, perto do túnel que leva ao Leme e outras praias da região, o local reuniu gerações de cariocas apaixonados por musica.
Artistas do quilate de Chico Buarque e Roberto Carlos tiveram suas carreiras alavancadas ali, com temporadas de shows que ajudaram muito na popularidade de ambos, ainda lá nos anos 70. Por lá também passaram grandes nomes como Tom Jobim, Elis Regina, Bibi Ferreira, Caetano Veloso, Elizeth Cardoso, Simone e Vinicius de Moraes, Zé Ramalho, Alceu Valença, entre outros.
A pesquisadora e biógrafa de artistas como os Mutantes, Chris Fuscaldo revela a emoção de frequentar o local ainda criança.
"O Canecão foi a primeira casa em que assisti a um show no Rio. Eu tinha menos de sete anos e fui levada pelo meu pai. Na adolescência, assisti a espetáculos inesquecíveis de artistas como Rita Lee, Marisa Monte e Ney Matogrosso. Já trabalhando como jornalista de música, perdi a conta de quantas emoções vivi naquele lugar que permitia que qualquer espectador tivesse uma visão perfeita do palco e que oferecia um serviço maravilhoso através de garçons tradicionalíssimos", conta ela que também é jornalista e cantora.
Apesar de não ter tido a oportunidade de se apresentar por lá, ela tem bastante sentimento pelo lugar. "Lembro que cheguei a chorar quando, em 2007, escrevi uma matéria sobre os 40 anos do Canecão para o jornal onde eu trabalhava".
Quem tem uma bela história com o tradicional palco carioca é Elymar Santos. Em 1985 ele ainda era um cantor desconhecido de churrascaria quando, numa aposta pelo sucesso, deu seu apartamento como garantia para alugar o Canecão para um show que, contando também com um bom trabalho de marketing do artista, lotou a casa e alçou-o ao estrelato.
Reintegração a UFRJ
Em 2010, após uma longa disputa judicial, o imóvel onde ficava o Canecão foi reintegrado a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) que alegava não ter recebido o aluguel pela cessão do local. A universidade pretendia transformar o espaço em um local onde seria promovida além da cultura, a ciência. No entanto, por falta de verba, o projeto nunca saiu do papel, deixando a cidade órfã de uma das suas referências culturais.