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Prédio da Gama Filho, em Piedade, pode virar pólo público de educação

Deputado Waldeck Carneiro conversará com entidades educacionais e políticos do Rio

Por Edison Corrêa em 12/04/2019 às 11:16:48

Deputado Waldeck Carneiro

Na audiência pública "Perspectivas para a reativação do Campus Gama Filho", realizada ontem à noite (11/04), no Clube River, em Piedade, pela Comissão de Ciência e Tecnologia da ALERJ, foi aberta a possibilidade de haver no local do antigo campus da Universidade Gama Filho (UGF), localizado no bairro, um pólo público de educação. O deputado estadual Waldeck Carneiro (PT), presidente da Comissão, disse que há possibilidade de ser viabilizado um pool de entidades educacionais para revitalizar aquela localidade.

"Queremos um pólo público de educação no local. Vamos nos reunir com a FAETEC, a UERJ, o CEFET e o Colégio Pedro II, além de chamar os deputados federais da bancada do Rio de Janeiro tentando emendas com recursos para esta empreitada. Esta audiência inaugura um ciclo de lutas pela utilização deste espaço: o Fórum Popular em Defesa da Reabertura da Gama Filho. A Comissão será uma trincheira por este objetivo", afirmou Waldeck, garantindo que também solicitará uma audiência com o prefeito do Rio, Marcelo Crivella, e com a desembargadora Renata Cotta, que cuida do processo da UGF em curso.


No evento de ontem, do qual reuniram-se cerca de 100 moradores, comerciantes, professores, alunos e ex-funcionários da UGF, participaram também, além do deputado Waldeck, o representante do Sindicato dos Professores (SInpro-Rio), Antônio Rodrigues; a representante da Federação das Associações de Moradores do Estado do Rio de Janeiro (FAMERJ), Márcia Vasconcelos; o professor Godofredo Pinto, ex prefeito de Niterói; e o administrador Regional do Grande Méier, que abrange também o bairro de Piedade, Rodrigo Guedes.

A Lei Nº 7353/2016, de autoria de Waldeck e do ex-deputado estadual Paulo Ramos, atualmente na Câmara Federal, autoriza o Poder Executivo a declarar de utilidade pública, para fins de desapropriação, o imóvel do antigo campus da Universidade Gama Filho, em Piedade. Porém, o Governo do Estado precisa viabilizar um decreto para que haja esta desapropriação. A UGF, atualmente, possui 4.361 credores e dois administradores de sua dívida de aproximadamente R$ 470 milhões. O valor imobiliário do campus é estimado entre R$ 400 e 600 milhões. O campus da UGF tem 57.300 metros de área construída. A universidade tinha uma capacidade de atendimento para 40 mil alunos. No entorno funcionavam restaurantes, bares, albergues de estudantes, papelarias e outros estabelecimentos comerciais que funcionavam para atender as demandas da Gama Filho.


Ensino Público

Waldeck pretende também dialogar com o governador Wilson Witzel para a publicação do decreto de desapropriação do prédio. "Ainda vamos nos reunir para verificar como o governo procederá com relação àquele local a fim de revitalizar o bairro e abrir uma nova perspectiva de ensino público na Zona Norte do Rio. Porém, primeiramente, ouvimos os mais interessados: a população local", afirmou o deputado. Já Paulo Ramos, co-autor da proposição, crê que o acontecido com a UGF tenha sido uma lástima. "O prédio pode ser completamente recuperado com a mesma destinação. É uma grande luta de dois mandatos, um estadual - do Waldeck - e outro federal - o meu - para fazer com que a população do entorno seja contemplada e que a educação pública possa prevalecer". Piedade cresceu ao redor da Gama Filho, com a oferta de serviços voltada para o campus. O bairro carioca viu sua economia entrar em colapso com o descredenciamento da UGF. Ao longo da Rua Manoel Vitorino, onde ficava o prédio da universidade, não há mais qualquer ponto de comércio ativo. Todas as lojas estão com as portas cerradas. O destino dos terrenos que abrigavam a UGF, que completaria 80 anos em 2019, segue indefinido.


Descredenciamento

Há cinco anos, uma decisão do Ministério da Educação (MEC) descredenciava duas das principais instituições privadas de ensino superior do Rio de Janeiro: a Universidade Gama Filho (UGF) e o Centro Universitário da Cidade (UniverCidade). A medida, recomendada pelo Colegiado Superior da Secretaria de Regulação e Supervisão da Educação Superior (Seres) do MEC, era justificada pelo comprometimento financeiro da mantenedora, o Grupo Galileo, à baixa qualidade acadêmica, à ausência de um plano viável para resolver o problema e à crescente precarização do ensino. A partir daquele janeiro de 2014, as instituições, que já estavam impedidas de receber novos alunos desde dezembro de 2013 e enfrentavam greve de funcionários por atrasos de salários, não podiam mais oferecer aulas aos quase 10 mil alunos ainda matriculados e tiveram que suspender as atividades. Antes do agravamento da crise, em 2012, eram 27 mil estudantes. Apesar de ter comprado a mantença da Gama Filho e da UniverCidade, o Grupo Galileo não é dono dos imóveis do campus Piedade, que pertencem à família Gama. Juridicamente, o grupo reivindica a posse dos mesmos, para quitar as dívidas trabalhistas. Ainda há processos em andamento, e o montante ainda não é conhecido.


Segurança precária

Com vigilância precária, o campus Piedade tem sido alvo frequente de invasões e saques. Na fachada, é possível observar janelas quebradas, buracos abertos nas paredes e esquadrias de alumínio removidas. O acervo acadêmico, com mais de 30 mil obras, está protegido no Real Gabinete Português de Leitura, no Centro do Rio. O fechamento da Gama Filho foi apenas o início da decadência de Piedade. Adiante, o bairro perderia também colégios, como o Nossa Senhora da Piedade, que fechou as portas, e suas duas principais indústrias: o Açúcar União e o Amendoim Agtal. No mesmo período, o Colégio ATG foi fechado por oferecer cursos sem autorização. Piedade tinha 43 mil habitantes, de acordo com o Censo de 2010. Não há dados mais atualizados, embora o esvaziamento econômico e populacional seja visível. Isto acontece em um momento em que a Área de Planejamento 3, que envolve bairros da Zona Norte, é área de ocupação incentivada, de acordo com o Plano Diretor do Município, em vigor até 2021.


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