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Educação e desenvolvimento social são as melhores armas para combater a criminalidade

Reportagem aponta caminhos para tirar jovens das ruas e do tráfico

Por Jonas Feliciano em 20/04/2019 às 11:06:00

Foto: Divulgação/Casa do Menor

Apesar do período em que a cidade esteve sob a intervenção federal, os números da violência no Rio de Janeiro não se mostraram tão animadores. De acordo com o relatório "Vozes sob a intervenção", coordenado pelo Centro de Estudos e Cidadania da Universidade Cândido Mendes, no último semestre de 2018, houve aumento das mortes decorrentes da ação policial na Baixada Fluminense e no interior do estado, do roubo em coletivos e também das pessoas nas ruas da cidade.

Os dados são para muitos especialistas a comprovação que o clima de risco só poderá ser vencido quando a segurança pública for encarada e baseada na valorização da cidadania e da vida.

Para o psicólogo pernambucano, Hugo Filipe de Lima, boa parte das experiências da nossa infância ficam registradas. Porém, os estudos ligados à memória ainda não conseguiram definir a partir de que idade a criança se lembra dos fatos. Segundo ele, quando englobamos a infância dentro de um fato social, é preciso entender que a vivência em uma realidade hostil pode desencadear diversos sintomas psíquicos como depressão, ansiedade e até mesmo ideações suicidas.

Desse modo, certos aspectos negativos do ambiente experimentados nesta fase da vida ainda podem estar associados às dificuldades no rendimento escolar e na sociabilidade dos indivíduos.

"Quando analisamos esses casos, precisamos sair do contexto familiar e observar o que está ao redor da criança. É preciso entender para além da violência pontual e descobrir que outras violações de direito elas sofrem. Somente entendendo a situação de maneira ampla, poderemos tentar intervir na vida desse jovem e também da sua família, pois sua realidade cotidiana e quem a compõe não pode ser ignorada", relembrou o psicólogo.

Já na esfera política, o deputado estadual Waldeck Carneiro (PT-RJ) é categórico quando o assunto é segurança pública e mudanças na realidade dos jovens e adolescentes. O deputado acredita que as operações militares em áreas populares não são as melhores opções para combater o crime organizado, embora essa tenha sido a tônica da política de segurança pública do estado do Rio de Janeiro.

De acordo com o parlamentar, há pelo menos três décadas, a chamada guerra ao varejo do tráfico é o que tem acontecido. Entretanto, isso só tem gerado o assassinato de inocentes, jovens negros e pobres, além da morte dos próprios policiais.

"Não quero dizer com isso que os pequenos crimes não devem ser combatidos. Entretanto, não conseguiremos derrotar o baronato do tráfico, apenas com essa tática que somente produz efeitos terríveis. O resultado baseado nesta política de segurança é pífio. A sua eficácia no combate à violência é absolutamente pueril. Tanto é assim que a espiral da violência segue num ciclo vicioso" afirmou.

Waldeck também considerou que a intervenção militar foi implantada sem planejamento e preparo do exército.

"Classificada pelo presidente ilegítimo Temer como uma jogada de mestre, a intervenção foi realizada sem planejamento e sem a preparação do exército para tal missão. Ou seja, é mais do mesmo. Certamente, o que precisamos é investir em inteligência, informação e tecnologia. Assim, as operações poderão ser até corriqueiras, porém mais eficazes", comentou o parlamentar.

Mudando Vidas

Atuando em Nova Iguaçu, Belford Roxo e no bairro de Guaratiba, a Casa do Menor São Miguel Arcanjo é uma instituição que, desde o ano de 1986, tenta mudar o destino de crianças e adolescentes vítimas da realidade cruel do Rio de Janeiro. Atualmente, a casa atende 200 crianças, além de oferecer cursos profissionalizantes para cerca de 700 jovens e atendimento social para dependentes químicos.

Na década de 80 quando o padre e missionário, Renato Chiera, chegou ao Brasil, ele se deparou com o extermínio de um jovem de apenas 16 anos. Na época, a situação não era tão diferente dos dias de hoje. A morte daquele garoto culminou na criação do movimento voltado para o acolhimento dos meninos de rua ou em situação de risco.

Hoje, ao longo dos seus 32 anos, a organização já assistiu mais de 32 mil jovens nos seus abrigos e aproximadamente 100 mil alunos nos cursos profissionalizantes. Por semestre, são 700 estudantes formados nestas oficinas. No sítio localizado em Tinguá, também são acolhidos crianças e adultos em recuperação do uso abusivo de drogas. Todo o trabalho é realizado por meio de doações e com um pequeno apoio da iniciativa privada.

"A nossa experiência na casa do menor revela que é primordial que os jovens e as crianças precisam ser amados e se sentirem importantes. Descobrimos que, quando o ser humano se sente amado, ele consegue expressar a potencialidade dos seus sentimentos. É indispensável que essas pessoas sejam acolhidas, além é claro da criação de políticas públicas que possam colaborar neste processo de profissionalização e assistência", afirmou Carlos André, Conselheiro de Dependência Química da Casa do Menor.

De acordo com Carlos, o maior incentivo do estado ajudaria na ampliação dos meios que podem viabilizar mais atividades lúdicas e laborais que permitam o protagonismo desses jovens.

"No nosso centro cultural, por exemplo, oferecemos atividades ligadas às artes e aos esportes. Isso incentiva que eles descubram o seu valor e que se sintam protagonistas. Este é o caminho para quem vive diante de realidades tão duras. É preciso ajudá-los a se desenvolverem e a buscarem os seus direitos como cidadãos. É preciso garantir esse crescimento e desenvolvimento social", relembrou o conselheiro.

 

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