Operação na Maré deixa 900 alunos sem aulas e 200 atendimentos de saúde suspensos
Ação visa demolir imóveis construídos por organização criminosa
Uma operação conjunta da Polícia Civil e da Prefeitura do Rio de Janeiro para combater a lavagem de dinheiro do tráfico de drogas na comunidade da Maré tem causado impactos na rotina dos moradores da região, principalmente dos estudantes. Nesta quinta-feira (22), cerca de 900 alunos ficaram sem aulas pelo quarto dia consecutivo devido à ação que visa demolir imóveis construídos pela organização criminosa.
Segundo informações da Secretaria de Estado de Educação (Seeduc), duas escolas precisaram ser fechadas na manhã de hoje, afetando diretamente os alunos. Já a Secretaria Municipal de Educação (SME) informou que 15 escolas na comunidade estão abertas, mas algumas estão avaliando as condições de atendimento e o horário de entrada dos alunos pode atrasar.
Um posto de saúde foi fechado e um ficou parcialmente fechado, com cerca de 200 atendimentos suspensos por dia, desde segunda feira (19), quando teve início a operação, que objetiva desmantelar a estrutura utilizada pelo tráfico de drogas para lavar dinheiro na comunidade do Parque União. As investigações apontam para a participação de funcionários de órgãos representativos da comunidade no esquema, além da estratégia da facção criminosa de colocar pessoas em cada unidade habitacional para dificultar as demolições.
Até o momento, a ação já resultou na descaracterização de 24 prédios, totalizando 133 unidades. A primeira fase da operação revelou que cerca de 90% dos imóveis estavam vazios, evidenciando a utilização deles para atividades ilícitas. A comunidade da Maré enfrenta mais um dia de aulas suspensas e incertezas quanto à continuidade das atividades escolares, em meio às operações de combate ao crime organizado na região.
"A lógica de uma política de segurança que na verdade perpetua a violação de direitos fundamentais segue sendo concretizada durante as operações policiais na Maré. Ainda que não se considerasse a violência institucional direta, perpetrando violações ao direito à integridade e à vida, uma série de serviços públicos deixam de ser prestados. Esse princípio é central na ADPF 635, conhecida como ADPF das Favelas, que visa assegurar que as ações de combate à criminalidade sejam conduzidas de maneira racional, sem comprometer os direitos fundamentais dos cidadãos. É fundamental que as iniciativas de segurança pública não interfiram nos demais direitos essenciais, evitando assim o aumento da violência institucional", declarou a Defensoria Regional de Direitos Humanos no Rio de Janeiro em nota.