A Praça do Mercado, uma das primeiras intervenções concluídas no Parque Realengo Susana Naspolini, no Rio de Janeiro, destaca-se pelo uso inovador de estruturas metálicas que interligam espaços comerciais e áreas de lazer. Este projeto incorpora uma extensa cobertura em aço, que protege as áreas de circulação, além de servir como um elemento estético e funcional para o novo layout do local.
O programa é uma resposta arquitetônica às reivindicações de diversos movimentos sociais e ao impacto das remoções na região. Desenvolvido por um consórcio de escritórios renomados, como Ayako Arquitetura, Helena Meirelles Arquitetura, Larissa Monteiro, messina|rivas e Zebulun Arquitetura, o projeto surgiu como uma necessidade de integrar as demandas dos moradores e comerciantes ao desenho urbano.
Inicialmente, a reconstrução dos pontos comerciais não estava incluída no projeto original apresentado pela Fundação Parques e Jardins da Prefeitura do Rio de Janeiro. No entanto, os arquitetos propuseram uma revisão do programa, incorporando o Mercado da Praça, um espaço destinado à realocação das lojas. Esta iniciativa visava restabelecer a fonte de renda dos comerciantes locais e incentivar a utilização do espaço público.
“O Mercado da Praça nos causou grande incômodo ao considerar a possibilidade de simplesmente remover toda aquela manifestação existente”, conta a arquiteta Juliana Ayako. “Durante as visitas ao local, a equipe fez uma contagem estimada das lojas e planejou integrar dois importantes programas para o Parque Realengo: um pórtico de acesso e uma galeria comercial para reposicionar os vendedores”.
O Parque Realengo está sendo implantado em uma área de mais de 80 mil metros quadrados, onde funcionou a antiga Fábrica de Cartuchos Realengo até 1978. Desde então, o local permaneceu abandonado. Esse projeto, que contará com campos de futebol, quadras poliesportivas, pista de skatepark e áreas de convivência, além do Mercado da Praça, visa reverter a ausência de equipamentos de lazer e áreas verdes na zona oeste.
Espaço comercial funcional e adaptável
A estrutura metálica desempenhou um papel fundamental na criação de um espaço comercial, funcional e adaptável. “O Mercado da Praça é constituído por duas construções lineares e horizontais de diferentes alturas, que se cruzam”, explica o arquiteto Francisco Rivas.
O projeto apresenta, de um lado, uma ampla cobertura de entrada e, de outro, uma galeria de lojas. “A cobertura em pórtico foi desenvolvida com estrutura metálica, enquanto as lojas foram construídas com blocos de concreto estrutural”, afirma Rivas. “Essas construções, dispostas em formato de L, formam uma grande praça pública integrada ao espaço comercial.
A cobertura metálica é marcante. “A estrutura de proteção utiliza perfis de 3 metros de comprimento, que, quando articulados, formam duas treliças de 66 metros de extensão e três metros de altura”, diz o arquiteto Rodrigo Messina.
“Essas treliças são conectadas por perfis de nove metros, formando uma caixa estrutural, apoiada nas extremidades em pilares de concreto de seção quadrada e rotacionados”.
A solução permite vencer vãos maiores com menos apoio, utilizando perfis esbeltos e garantindo eficiência tanto estrutural quanto estética.
O teto em aço proporciona sombreamento, permitindo a realização de diferentes atividades, como rodas de samba, festas de aniversário, eventos, jogos de futebol ou momentos de descanso. A área sob a estrutura disponibiliza um conjunto de sanitários públicos, importante equipamento de infraestrutura urbana.
A arquiteta Helena Meirelles também ressalta a importância do sistema em aço. “A estrutura metálica é extremamente funcional. Com o prazo curto estabelecido pela Prefeitura do Rio, nossa prioridade foi garantir simplicidade estrutural e estética. Em um projeto básico, sem a garantia de participação nas etapas posteriores, era essencial minimizar as complexidades. Considerar o tamanho das peças de fábrica e reduzir o manejo e corte foi crucial desde o início”.
A inclusão de treliças metálicas de grandes dimensões (66 metros de comprimento por três metros de altura) trouxe desafios técnicos significativos. Larissa Monteiro, que também é autora do projeto, comenta: “A estrutura acaba parecendo mais arrojada do que é de fato por conta da grande dimensão. Mas, na verdade, ela é bem simples. Optamos por trabalhar com medidas padronizadas do mercado e perfis esbeltos para simplificar a construção e conferir uma estética leve ao projeto”.
O arquiteto Carlos Zebulun enfatiza a importância de espaços públicos bem planejados para a comunidade. “O projeto arquitetônico do Mercado da Praça foi uma resultante de atividades que já aconteciam no local. A criação de infraestruturas como sanitários públicos e áreas de lazer, que antes eram improvisadas pelos próprios moradores, agora proporciona maior conforto e qualidade de vida para todos”.