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Tudo bem no ano que vem

Na CPI das Apostas, Receita Federal admite dificuldade em tributar bets, empresas de apostas on line

Quadro muda a partir de 1º de janeiro de 2025, quando entra em vigor obrigação de constituir firma para poder operar no Brasil


Robson Barreirinhas admitiu dificuldade em tributar bets, empresas de apostas on line, nos casos em que a sede fique no exterior. Foto: Reprodução TV Senado

O secretário especial da Receita Federal do Brasil, Robson Barreirinhas, afirmou na quarta-feira (4) à CPI das Apostas Esportivas que o controle da tributação sobre empresas de apostas será intensificado a partir de janeiro. Segundo ele, a cobrança de tributos sobre empresas de apostas sediadas no exterior mas com presença forte no Brasil ainda é um desafio. Ele disse esperar uma fiscalização efetiva a partir de 1º de janeiro de 2025, quando as chamadas bets serão obrigadas a constituir empresas no país, e que casos de fraudes já estão sendo investigados.

— Há casos em que a própria fiscalização, a própria investigação da Receita e de outros órgãos de segurança mostra que há uma simulação: na verdade, a empresa é controlada por um brasileiro, um domiciliado no Brasil. Nesse caso, não há dúvida nenhuma que faremos a cobrança.




Barreirinhas elogiou o modelo de tributação estabelecido pela Lei 14.790 de 2023 e opinou que a presença jurídica das empresas no país levará a um “salto de qualidade” na fiscalização e arrecadação. Mas, ao senador Romário (PL-RJ), relator da CPI, Barreirinhas admitiu que faltam instrumentos legais para a Receita tributar bets que não se submetem à legislação brasileira.

— Por isso o modelo aprovado no Congresso Nacional previu essa obrigação de que a empresa tenha um representante legal aqui para que possa haver esse diálogo (…) e a cobrança dos tributos. (…) O mundo inteiro debate como lidar, no ambiente virtual, com uma cada vez mais intensa prestação de serviços e intercâmbio de mercadorias.

Ele ressalvou que há dúvidas no mundo inteiro sobre a tributação de atividades transnacionais viabilizadas pela internet, como as casas de apostas, as exchanges de criptomoedas e as lojas virtuais no exterior.

— Estamos seguindo um movimento mundial de coordenação entre os Fiscos para que haja cooperação em troca de informações relacionadas à movimentação financeira para que (…) tenhamos condições de implementar a lei.

O secretário da Receita Federal também assegurou a Romário que os dados de credenciamento de bets submetidos à Secretaria de Prêmios e Apostas estão sendo apurados para a atividade fiscalizatória.

— Não é uma questão de ser, é uma questão de necessidade. O sistema necessariamente será compartilhado com a Receita Federal em relação a dados necessários à cobrança do tributo.

Tributação de apostadores

Barreirinhas também admitiu que a Receita tem a expectativa de tributar “praticamente nada” dos apostadores. Ele lembrou que o órgão pediu o veto de um dispositivo da Lei 14.790 de 2023 que permitia a compensação entre valores apostados e prêmios durante um ano, sob argumento de que “pouquíssima gente” vai ganhar mais do que apostou. O veto aposto pelo presidente da República, porém, acabou sendo derrubado pelo Congresso.

— Não é uma crítica. A Receita Federal trabalha necessariamente com aquilo que é aprovado pelo Congresso Nacional, e ele é soberano em relação a isso, mas o fato é que a forma como foi feita essa lei, com a derrubada do veto, basicamente inviabiliza qualquer cobrança de imposto em relação ao apostador.

Ao senador Carlos Portinho (PL-RJ), Barreirinhas acrescentou que, mesmo que o apostador tenha lucro, a fiscalização é difícil sobre um grande número de contribuintes, muitos com “valor baixíssimo” de renda e provavelmente dentro da faixa de isenção de Imposto de Renda. A cobrança generalizada, conforme avaliou, somente será efetiva quando as bets começarem a fornecer dados de movimentações vinculados aos CPFs dos apostadores, mas ele questionou o custo de fiscalização de pessoas físicas para uma arrecadação muito pequena.

— O nosso foco tem que ser na empresa. A empresa, sim, é que ganha, ela é que tem lucro, ela é que tem que pagar Imposto de Renda, Contribuição Social, PIS-Cofins.

Evasão fiscal

Portinho também questionou a fiscalização sobre as operações de câmbio nas remessas de valores entre apostadores no Brasil e bets no exterior e vice-versa, avaliando que há evasão fiscal quando as empresas de meios de pagamento mantêm os recursos no Brasil e não efetuam essas remessas. Para Barreirinhas, essa situação é generalizada nos negócios on-line e está sob a mira da Receita e do Banco Central.

— Não que seja necessariamente ilegal, mas se há uma empresa no Brasil recebendo e pagando, ela tem que pagar tributos. (…) Muitas vezes há [também] violação à legislação cambial.

Portinho criticou a legislação aprovada, que, em seu entendimento, deu um ano inteiro de “lambuja” sem tributação para bets e apostadores. Ele associou a situação a “efeitos nocivos” como as irregularidades das empresas Esportes da Sorte e Vai de Bet, alvos de operação da Polícia Federal, e avaliou que outros crimes relacionados deverão ser revelados.

Barreirinhas defendeu o trabalho do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf), que considera estar atento a todas as movimentações financeiras atípicas, e elogiou a integração das informações do Banco Central com a Receita Federal.

— Nós temos condições de, com a nossa expertise tecnológica, colher informações de diversas fontes, fazer o tratamento dessa informação e ser efetivo. Somos absolutamente efetivos em relação à bet não por falta de informação. A partir de 1º de janeiro, nós teremos uma série de outros dados que permitirão um outro mundo em relação a essa fiscalização — disse ao senador Styvenson Valentim (Podemos-RN),

Porém, Styvenson, citando a operação da Polícia Federal sobre bets que resultou em bloqueio de mais de R$ 2 bilhões, questionou a eficiência da fiscalização, que não teria visto o crescimento da operação criminosa.

— Quem é que está em descompasso? Quem é a tartaruga e quem é o jato nisso aí? — indagou.

Em resposta, Barreirinhas lembrou a importância da atuação da Receita no enfrentamento do crime organizado em coordenação com outros órgãos de informação, ressalvando que nem sempre é conveniente que essa participação tenha divulgação na imprensa.

Adiamentos

Ao fim da oitiva, o presidente da CPI, senador Jorge Kajuru (PSB-GO), anunciou o adiamento da votação dos cinco requerimentos pautados para a reunião desta quarta-feira. Entre os requerimentos adiados, estão os convites ao ministro do Esporte, André Fufuca, para esclarecimentos sobre o trabalho do ministério no combate a fraudes (REQ 110/2024 — CPIMJAE) e ao ex-árbitro de futebol Alfredo Loebeling(REQ 106/2024 — CPIMJAE), em relação a denúncias sobre a qualidade e o funcionamento do VAR (Video Assistant Referee, ou árbitro assistente de vídeo).


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