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Cooperativa participativa faz verdadeira inclusão social e dá lucro a cooperados

Sociedade percebeu que resíduos são matérias-primas valiosas na economia, pois geram receitas

Por Cintia Dias em 14/09/2024 às 21:48:10

Fotos: Divulgação

A percepção de que o "lixo" é uma matéria-prima tão valiosa quanto qualquer outra tem se espalhado pela sociedade, contribuindo para a adesão crescente à coleta seletiva. Essa mudança de mentalidade é guiada por dois princípios fundamentais: o entendimento de que não se deve descartar o que se pode gerar receita e a conscientização de que a valorização dos resíduos auxilia aqueles que vivem em condição vulnerável.

Para muitos catadores, os resíduos recicláveis representam a principal fonte de renda. Assim, o que para uns é apenas lixo, para outros é uma oportunidade econômica, demonstrando que o desperdício pode ser transformado em sustento e esperança. Essa abordagem não só incentiva a coleta seletiva, mas também promove um impacto social significativo, ao ajudar a comunidade e criar um ciclo de reaproveitamento e valorização dos materiais.

Pela Cooper Oeste, os catadores se tornam cooperados e são empoderados desde 2009. A cooperativa é a união de 76 pessoas, de 17 famílias, promovendo dignidade e empoderamento aos catadores cooperados da Zona Oeste do Rio de Janeiro. Tudo na cooperativa é conversado: nas reuniões, eles planejam o trabalho e também se reúnem quando não acontece o que planejaram. Discutem sobre trabalhos extras e eventos, tomam café da manhã e almoçam juntos, e dividem os lucros. Os cooperados têm relação próxima, discutem sobre todos os assuntos importantes e resolvem tudo participativamente.

Esse projeto é um grande exemplo de que a cooperativas participativas de fato promovem inclusão social e aumentam lucro, empoderam pessoas. Elas não são abstrações teóricas. Além disso, são ferramentas poderosas de bem-estar e de sustentabilidade.

A formação de cooperativas de catadores de lixo tem se mostrado uma estratégia eficaz para melhorar a vida das pessoas e das famílias envolvidas na coleta e reciclagem de resíduos. Diferentemente da realidade dos catadores dispersos, que operam de forma informal e muitas vezes em condições precárias, as cooperativas oferecem diversos benefícios, tanto sociais quanto ambientais.

Essas iniciativas visam não apenas a eficiência na gestão de resíduos, mas também a valorização do trabalho dos catadores, que são peças-chave na reciclagem e na sustentabilidade urbana.

A coleta seletiva é uma etapa crucial na cadeia de reciclagem, contribuindo para a redução de resíduos e a promoção de práticas sustentáveis. A parceria entre a COMLURB e as cooperativas de catadores é fundamental para o sucesso do programa, alinhando-se às diretrizes da Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS).

Sarita Fernandes, presidente da Cooper Rio Oeste, fala sobre a cooperativa, projeto da Caixa Econômica Federal. “Inicialmente havia uma cooperativa com catadores de rua. A nova cooperativa foi idealizada para que os catadores saíssem das ruas. A estruturação da cooperativa foi de 2006 a 2009”, conta. Ela foi de outra cooperativa, em 2004. Em 2009, regularizou a nova cooperativa. O apoio da Caixa Econômica Federal e do projeto do Instituto GEA foi fundamental.


O Portal Eu, Rio! bateu um papo com Sarita sobre a cooperativa.

Portal Eu, Rio: Por que a senhora acredita que a cooperativa promoveu inclusão social?

Sarita Fernandes: Vou te dizer por que promoveu inclusão social: não adianta dizer que um projeto promove a inclusão social se as pessoas não têm casa, não têm teto para morar, trabalham muito e não tem dinheiro para colocar comida na mesa. Esse projeto realmente promoveu inclusão social porque nos trouxe essa dignidade por conseguirmos comprar comida, pagar um curso para o filho, comprar nossa casinha. Recebíamos mais por conta do material que a Caixa doava. Compramos uma casa, parcelada, mas conseguimos dinheiro para pagar. Essa é a verdadeira inclusão social.

PER: Quais benefícios para os cooperados? E qual a diferença entre ser cooperado e catador?

SF: Somos todos catadores, a diferença é que estamos organizados, temos direitos e deveres. Temos estabilidade econômica, o que a gente não tinha. Eu não tinha estabilidade econômica quando trabalhava na rua. Temos segurança, é mais seguro trabalhar em cooperativa. Valorização do trabalho, a gente é percebido de forma diferente, mais do que o trabalhador avulso. A gente é dono do nosso próprio negócio. A gente coopera um com outro para crescer o trabalho, para ganhar, a gente consegue se organizar financeiramente. Na rua é mais instabilidade, a gente não sabe o quanto vai fazer de dinheiro. Na cooperativa é gente tem estabilidade. Cada cooperado paga sua autonomia.

PER: Qual a dinâmica da cooperativa? O dia a dia?

SF: A cooperativa dá o café da manhã, a gente almoça juntos. E cada um tem sua função, sua jornada de trabalho: no caminhão, na prensa, na separação e produção de material. A gente senta para conversar sobre o que não está bom e sobre o que não está acontecendo como planejamos, o que está dando errado e certo, a “gente quebra o pau”, conversa sobre trabalhos extras e eventos. Por exemplo: estamos fazendo o Rock in Rio agora.

PER: Quantas pessoas são diretamente impactadas pela cooperativa?

SF: Somos 17 famílias, em torno de 76 pessoas.

PER: De onde vem o resíduo?

SF: O resíduo vem da COMLURB, da coleta seletiva cidadã, doação de moradores, das coletas em eventos e de projetos.

PER: Qual resíduo chega e como ele chega?

SF: Chega todo tipo de reciclável: plástico, papel, papelão, sucata, sucata ferrosa, eletroeletrônico...

PER: Qual o trabalho que o cooperado faz no resíduo?

SF: A gente coleta, classifica, prensa, enfarda e vende o material.

PER: Qual foi o impacto financeiro da Caixa Econômica Federal? Foi empréstimo ou doação e para que?

SF: A CEF fez a doação do material dela, eletroeletrônicos, doou todas as ferramentas para fazer a separação e trabalhar com esses eletroeletrônicos. O projeto aumentou nossa renda em 40%, foi uma época de refrigério.

PER: Qual o papel do Instituto GEA?

SF: Instituto GEA é o gestor do projeto. O que mais me impressionou é o cuidado que eles têm, o olhar de verdade, acreditam no projeto e passam confiança, preocupação com o catador, o que vai ter de retorno no projeto. O Instituto GEA veio até a mim com esse projeto. Antes do projeto, a gente não tinha capacitação em eletrônicos. Muitos eletrônicos, a gente jogava fora porque não sabíamos se podia voltar para cadeia produtiva. Então, a gente destinava para o aterro.

PER: Qual foi o impacto do projeto em suas vidas?

SF: A gente teve aumento de autoestima, a gente trabalhava mais feliz. A gente aprendeu, na capacitação, a mexer nesse material, a agregar valor com ele. A cooperativa teve esse impacto de aumento da renda, trabalhamos mais estimulados e mais felizes. A vida melhorou realmente! O problema da conscientização sobre resíduos é global. De acordo com relatório Global Waste Management Outlook 2024, lançado pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma), a geração de resíduos sólidos municipais deve crescer de 2,1 bilhões de toneladas em 2023 para 3,8 bilhões de toneladas até 2050. Em 2020, o custo global direto da gestão de resíduos foi estimado em 252 bilhões de dólares. Ao considerar os custos ocultos da poluição, problemas de saúde e mudanças climáticas devido a práticas inadequadas de descarte, esse valor sobe para 361 bilhões de dólares. Sem ações urgentes na gestão de resíduos, até 2050, esse custo global anual pode quase dobrar, alcançando impressionantes 640,3 bilhões de dólares.


Coleta Seletiva Carioca

A Coleta Seletiva Carioca, gerida pela Companhia Municipal de Limpeza Urbana (COMLURB), abrange atualmente 122 bairros do Rio de Janeiro e coleta cerca de 1.700 toneladas de resíduos recicláveis por mês. Os materiais coletados são destinados a 25 cooperativas de catadores, promovendo a inclusão social e gerando empregos. O site informa o dia e horário da coleta seletiva: https://comlurb.prefeitura.rio/servico/coleta-seletiva/

* Coleta seletiva é o recolhimento de materiais recicláveis que já estejam devidamente separados e ensacados. Exemplos: papel, plástico, vidro e metal.

* O material deve ser embalado em plástico transparente ou translúcido (azul e verde) para que o gari possa visualizar o conteúdo.

* Não é permitido o uso de sacos pretos.

* Todos os tipos de materiais recicláveis podem ser depositados em um mesmo saco.

* É importante realizar uma rápida lavagem dos materiais para garantir que o reciclável esteja limpo e sem resíduos orgânicos, que, além de representar risco à saúde dos catadores, contamina todo o material reciclável, não permitindo nem seu aproveitamento e nem sua reutilização.

Materiais recicláveis:

* Garrafas e materiais de plástico (PET, PEAD, PP e PVC), garrafas, potes e materiais de vidro, jornais e papéis, latinhas e embalagens em geral;

* Todas as embalagens que um dia possuíram em seu interior algum alimento, bebida, produto de higiene e limpeza;

* Todas as embalagens feitas de papel, papelão, metal, plástico ou vidro;

* Se não é embalagem, mas é feito de um desses materiais que podem ser recicláveis, também deve ser separado. Só é preciso prestar atenção se estão contaminados pela matéria orgânica do lixo comum.

O que este serviço não cobre:

Existem produtos que poluem o meio ambiente. Exemplos: lâmpadas, pilhas e baterias, eletrônicos, óleo vegetais, embalagem de óleos minerais, pneus, remédios. Estes produtos não podem ser ofertados(entregues) nem para a coleta de lixo, nem para a coleta seletiva da COMLURB. É responsabilidade de todos seguir as normas e orientações da forma correta de jogar fora estes resíduos. Muitas vezes estes produtos são descartados (jogados fora) misturados no lixo comum, e vão para o aterro sanitário, contaminando o solo, e produzindo gases que poluem o ar que respiramos. Nestes casos, os fabricantes destes produtos informam à população a maneira correta do descarte. É de responsabilidade de quem consome estes produtos fazer o descarte correto.

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