Não é só de glamour das noivas ou de café da manhã com as mães que se vive maio: O mês também á nacionalmente dedicado ao combate ao abuso sexual de crianças e à prostituição infantil, uma questão de saúde pública e de violação dos direitos humanos. A proposta é, além de prevenir, cada vez mais lidar de forma mais eficaz com o problema. Com experiência no assunto, a psicóloga clínica Raquel Veloso explica que o ideal é priorizar o acolhimento e tratamento de toda a família da criança. “A violência sexual sofrida por uma criança ou adolescente acarreta vivências traumáticas e a família tem papel primordial para o restabelecimento emocional da criança. Além disso, a responsabilização do autor é um fator que favorece a melhora da vítima, contribuindo para que esta seja acredita em seu sofrimento”, diz.
A especialista alerta que abordar o tema com a vítima em caso de suspeita não é tarefa fácil e recomenda uma equipe multidisciplinar para a atuação. Entretanto, mesmo sem conhecimentos técnicos da psicologia, os responsáveis podem ficar atentos a alterações no comportamento ocorrida repentinamente. Segundo Raquel, as crianças, sobretudo as menores, poderão apresentar dificuldades em manifestar verbalmente o seu sofrimento devido às ameaças ou até relação com o autor. “A estratégia é observar, pois os sinais de sofrimento psíquico poderão ser expressos em distúrbios de sono (terrores noturnos) e alimentação (como anorexia e bulimia), agressividade, crises de choro constantes, episódios de xixi na cama mesmo após superado anteriormente, baixa autoestima, queda no rendimento escolar ou dificuldades importantes de aprendizado, isolamento social, além de somatizações no corpo como constantes dores de cabeça. A criança ainda pode possuir uma importante inquietação ou querer evitar no contato de determinado sujeito ou situação, como por exemplo, ir à casa de determinada pessoa. Além disso, a manifestação de comportamentos hipersexualizados precocemente poderão ser assinaladores que o infante esteja sendo exposto à violência sexual”, lista a psicóloga.
Raquel Veloso ainda alerta para a condução dos desdobramentos após da notícia de violência sexual e de como isso pode influenciar negativamente no futuro da vítima, podendo ocasionar suicídio, distúrbios e até nas escolhas para parceiros com potencial para fazer o mesmo com uma nova geração. “A criança não pode ser desacreditada no seu sofrimento ou esta poderá terá prejuízos na sua capacidade de percepção da realidade, logo, os vínculos de confiança nos adultos e no meio em que vive são significativamente prejudicados. Existem pesquisas científicas que apresentam diversas desordens emocionais em pacientes expostos a situações de violência sexual. Entre tais desordens estão: vivências depressivas, maior risco de suicídio, fobias, ansiedade generalizada, distúrbios alimentares, prejuízos na maturidade sexual (impossibilidade de ter prazer na relação sexual), bloqueio sexual, promiscuidade ou prostituição, agressividade extrema, uso abusivo de drogas, entre outros. Além disso, a experiência clínica demonstra que mulheres que foram vítimas na infância poderão apresenta dificuldades em proteger seus filhos, e até mesmo, fazer (inconscientemente) escolhas amorosas por homens agressores”, finaliza a especialista.
Origem do Dia Nacional 18 de Maio: Foi criado em 2000 para lembrar um caso que marcou a década de 70. A menina Araceli, do Espírito Santo, tinha 8 anos quando foi raptada, torturada, estuprada e morta. Os acusados de seu crime foram absolvidos pela Justiça e tudo indica que ficaram impunes por serem de classe média alta e terem influências políticas. O tema do abuso sexual infantil é objeto de estudos recentes inclusive do Ministério da Saúde e Fiocruz.