O Grupo de Atuação Especializada de Combate ao Crime Organizado do Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro (GAECO/MPRJ) e a Polícia Civil cumprem, na manhã desta sexta-feira (20/12), cinco mandados de prisão e três de busca e apreensão contra integrantes do Comando Vermelho. Eles foram denunciados pelo GAECO/MPRJ à Justiça por envolvimento no atentado a médicos ortopedistas, em outubro de 2023, em um quiosque, na Barra da Tijuca. Três médicos morreram e um sobreviveu ao ataque.
Os mandados expedidos pelo Juízo da 2ª Vara Criminal da Capital são cumpridos em endereços na Cidade de Deus e no Presídio Elizabeth Sá Rego (Bangu V). A ação conta com agentes da Coordenadoria de Recursos Especiais (CORE) e da Delegacia de Homicídios da Capital. A Coordenadoria de Segurança e Inteligência (CSI/MRJ) atua em apoio aos promotores de Justiça.
O GAECO/MPRJ denunciou os cinco homens por três crimes de homicídios dolosos consumados e um tentado, todos quadruplamente qualificados como motivo torpe, com recurso que dificultou a defesa das vítimas, com emprego de armas de calibre restrito (9mm) e para assegurar outros crimes. Foram denunciados Edgar Alves de Andrade, conhecido como Doca ou Urso, apontado como líder da organização criminosa no Complexo da Penha; seu braço direito, Carlos da Costa Neves, o Gardenal; e os ex-milicianos que migraram para o Comando Vermelho: Juan Breno Malta Ramos Rodrigues, o BMW, e Francisco Glauber Costa de Oliveira, o GL, atualmente preso.
De acordo com a denúncia do GAECO/MPRJ, os criminosos teriam confundido um dos médicos com o miliciano Taillon Barbosa, uma das lideranças na milícia da comunidade Rio das Pedras. Segundo os promotores de Justiça, a motivação do crime seria a expansão do domínio da facção criminosa do Complexo da Penha para região da Grande Jacarepaguá.
Os promotores destacaram que a tentativa de assassinar o miliciano Taillon Barbosa era considerada um passo estratégico para enfraquecer a milícia e fortalecer o domínio do Comando Vermelho na região. A denúncia aponta, ainda, o envolvimento dos acusados em outros episódios de violência, ligados à expansão territorial. Entre as provas reunidas está a identificação do veículo utilizado no crime, um Fiat Pulse branco com teto preto, vinculado a outros homicídios na área. Logo após a ampla repercussão nacional da execução dos médicos, ao constatarem que as vítimas não eram milicianos, lideranças do Comando Vermelho ordenaram a execução dos responsáveis pelos disparos, aponta a denúncia. A medida teria sido uma tentativa de minimizar a repercussão negativa e desviar a atenção do caso.
Três médicos morreram no ataque a tiros no quiosque a avenida Lúcio Costa, na Barra da Tijuca, em 5 de outubro de 2023. Eles foram identificados como Marcos de Andrade Corsato, 62, Daniel Sonnewend Proença, 33, Diego Ralf de Souza Bomfim, 35, e Perseu Ribeiro Almeida, 33. O único sobrevivente do ataque foi o médico Daniel Sonnewend Proença.
Bomfim era irmão da deputada Sâmia Bomfim, do PSOL, e cunhado de Glauber Braga, federal do mesmo partido. Os médicos confraternizavam em um quiosque no momento do ataque. Os médicos estavam hospedados no Windsor Barra Hotel, onde participariam de um congresso internacional de ortopedia no dia seguinte.
Três homens vestidos de preto chegaram de carro ao quiosque por volta da 1h. Eles estacionaram o veículo do outro lado da rua, desceram do automóvel e efetuaram os disparos. Enquanto os frequentadores do quiosque corriam, os assassinos voltaram para o carro e fugiram, em uma ação que durou menos de um minuto.
Disputa entre CV e milícias foi pano de fundo para chacina, que matou médicos por engano
Desde o início de 2023, a facção criminosa do Complexo da Penha intensificou a tomada violenta de comunidades em Jacarepaguá e arredores, historicamente dominadas pela milícia. De acordo com o GAECO/MPRJ, o objetivo seria consolidar um "Complexo de Jacarepaguá" sob seu controle, ampliando atividades criminosas como o tráfico de drogas, roubos, extorsão de comerciantes e exploração de serviços clandestinos. A denúncia descreve que a expansão foi marcada por execuções brutais de milicianos e supostos aliados, promovidas por um grupo denominado "Equipe Sombra", especializado em assassinatos direcionados. O grupo, comandado pelos denunciados, teria apoio direto de lideranças do Comando Vermelho.
Ouça no Podcast do Eu, Rio! a reportagem da Rádio Nacional sobre a operação para prender integrantes do Comando Vermelho envolvidos no assassinato de três ortopedistas na orla da Barra.
MPRJ e RadioAgência Nacional