A brilhante trajetória do multifacetado Marco Antonio Ribas, mais conhecido por Marku Ribas (1947-2013), mineiro de Pirapora, será contada no espetáculo “Marku Musical”, que chega ao Rio de Janeiro na próxima quarta-feira (08), para temporada no Centro Cultural Banco do Brasil Rio de Janeiro (CCBB Rio). A vida e a obra, e toda a sua intensidade, a extensa produção que marcou o estilo característico do artista ousado e inovador no cenário da música brasileira que misturou o soul, o samba, o samba rock, jazz, funk, reisado, batuque e ritmos africanos dando mais ritmo e riqueza cultural de sons. O espetáculo fica em cartaz no CCBB RJ até 2 de fevereiro, com patrocínio do Banco do Brasil, por meio da Lei Federal de Incentivo à Cultura.
No palco, Marku estará sendo celebrado e muito bem representado pelas filhas do cantor, Lira Ribas e Júlia Ribas, que assinam, respectivamente, a direção, em parceria com Ricardo Alves Jr., e a direção musical, em parceria com Marcelo Dai. Elas também estarão no palco, ao lado da mãe e esposa de Marku, Fatão Ribas. O elenco conta, ainda, com o músico e ator Mário Broder, o músico nigeriano Ìdòwú Akínrúlí e Gabriel Mendes. O texto do espetáculo parte de uma autobiografia inédita do artista e de memórias trazidas durante os ensaios pelos familiares. Mario Broder, cantor, compositor, multi-instrumentista carioca, dará vida ao artista nas temporadas do Rio e São Paulo.
“Estou em estado de celebração, pois representar Marku neste trabalho tão rico de referências é um muito significativo. Desde cedo, ele sabia exatamente quem ele era, a sua vocação de grande artista, aquilo que muitos demoram uma vida inteira para encontrar ou morrem procurando. E eu me vejo dessa maneira. Me reconhecendo e buscando me aperfeiçoar. Sem falar no processo de preparação, estar próximo da família, ter acesso a registros únicos, objetos, etc. Tantas coisas que ainda nem foram reveladas sobre o Marku é extraordinário e, ao mesmo tempo, emocionante. Ouvir histórias de família, poder tocar o violão que pertenceu a ele…São partes do processo que a gente leva para a vida toda”, celebra Mario Broder, ator que dará vida ao saudoso artista no musical.
O espetáculo revisita as lutas, graças e dilemas de um dos músicos mais importantes e influentes do Brasil, inovador e que sempre buscou resgatar referências ancestrais para valorizar a cultura mesclada pela diáspora de matriz africana. Além de reverenciar a trajetória de Marku. Utilizando elementos ficcionais e documentais, o espetáculo entrelaça teatro, música e cinema, baseado na autobiografia de Marku não publicada, em memórias familiares e em apreciações estéticas de seu legado e percorre a trajetória do artista em suas experiências em outros países, especialmente no Caribe, na América Central, e no continente africano.
“É uma obra que trabalha com uma linguagem que vai do teatro documental ao gênero musical, e uma encenação que mistura imagens captadas ao vivo, teatro e, claro, números musicais. “Estou feliz com o convite da família Ribas para dirigir ‘Marku Musical’. Marku é um dos grandes nomes da música popular brasileira”, diz o diretor Ricardo Alves.
A produção realizará um bate-papo sobre o processo criativo e a vida e obra de Marku Ribas. Além disso, haverá quatro sessões com intérprete de libras.
Marku, um musical em família
O projeto “Marku Musical” propõe, uma reflexão sobre as culturas originárias e ribeirinhas dos interiores do Brasil e a troca cultural de matriz africana baseado em anotações deixadas pelo próprio Marku e um rico acervo de imagens e documentos que possibilitam levar para o teatro, a sua visão, seu olhar sobre as concepções de tradição, autoria e criatividade negra diante dos estereótipos impostos pelas indústrias fonográficas e de entretenimento. Lira Ribas, filha de Marku e diretora do espetáculo, fala do quanto é significativo para ela e sua família revisitarem essas memórias:
“É muito tocante para a gente, enquanto família, e uma família de artistas, após 10 anos da passagem de Marku, fazer um trabalho e falar sobre a força do homem preto africano trazia consigo e a força de um homem preto brasileiro que morou na Martinica e visitou a África, evidenciando essa trajetória e suas raízes em seu trabalho e percorrer um processo com a estreia de um espetáculo sobre a vida e a criação dele. E mais do que isso, é muito significativo também esses artistas estarem no palco juntas. Eu, a minha irmã Júlia e a minha mãe, Fatão, com a direção de Ricardo Alves Júnior, grande parceiro de muitos trabalhos comigo”, destaca Lira Ribas.
Lira, aliás, relembra que o processo de pesquisa começou com a autobiografia de Marku, que chama “Marku por Marco Antônio”, que é uma autobiografia que foi escrita há alguns anos, antes do artista falecer, e que ele deixou inacabada. “ As memórias dele, o que ele sentia e vivia, seus questionamentos, tudo foi aproveitado desse material que ele mesmo produziu, escreveu e utilizamos com fidelidade até o momento em que ele conhece a minha mãe, no momento que ele casa e tal, e depois dessa parte tinham fragmentos, partes que ele colocava de memórias, mas não numa ordem cronológica. Fomos revirar todo o acervo, que a gente, enquanto família, tem na nossa própria casa, uma salinha que a gente reservou para guardar o material dele.
A diretora do musical recorda que o pesquisador pernambucano Rafael Queiroz foi até Belo Horizonte e fez um levantamento do material sobre Marku, produziu um verdadeiro dossiê para mostrar muitas coisas que seriam relevantes e importantes a serem utilizadas na construção do espetáculo.
“A partir desse material de pesquisa do Rafael, no acervo da família, mais a autobiografia e as memórias, tanto da família quanto de amigos, começamos a estabelecer uma ordem cronológica. Até como filha, é muito interessante eu pensar que foi a primeira vez que eu vi a vida do meu pai. É uma outra perspectiva, enxergar de fora", diz Lira.
Para Lira Ribas, “é importante, é um revisitar, a gente vai vivenciando várias coisas, algumas situações que eu não vivi, que eu sabia por memória e tal. Mas, um dia, nós, elenco e direção, sentamos e fizemos um levantamento dessa história toda do Marku e todas as etapas e camadas. Conseguimos levantar coisas que a gente achava que seria interessante, como dramaturgia. E é isso, esse curioso foi a primeira vez que consegui ver a vida do meu pai, que é o personagem contado do início ao fim, e ver a grandiosidade, de fato, do trabalho dele como artista, mas também como pessoa, entender o quão família ele era, assim como que a vida dele é pautada em cima da paixão e amor pelo trabalho dele e pela família”.
“É muita coisa para se contar num espetáculo, nem a própria autobiografia dele comporta, consegue absorver tudo que ele deve ter vivido e entregado, mas a gente tentou entender dramaturgicamente o que era interessante das pessoas saberem como uma contação de história mesmo. São muitas datas, muitos nomes, episódios, tudo é muito interessante na vida dele. O público vai ter a chance de poder conhecer mais sobre Marku Ribas como as vivências dele em cada local que ele passou, viveu, produziu... Como a sua Pirapora (MG) cidade natal dele, as viagens internacionais para Martinica e New Orleans; a ida dele à França, África, que é essa terra-mãe onde que ele busca toda a sua ancestralidade, falar sobre a família, sobre os ancestrais, as pessoas antes dele, os avós, a avó indígena que também estabelece muito o que ele deveria ser depois, enquanto artista, então dessa forma a gente foi entendendo que seria interessante de contar, e pautado principalmente nesse afeto que ele tinha com a família, que era esse porto seguro”, informa Lira.
“Antes de ser uma apresentação, ‘Marku Musical’ é uma celebração, por meio de um espetáculo, da vida e obra deste artista que, por minha sorte, é meu pai. E estamos num processo muito bonito e de reconhecimento desse homem, de passar a olhar suas histórias, seus momentos em vida e como isso influenciou tanto nessa obra. Uma obra maravilhosa que é a carreira dele, a música dele, a arte dele”, complementa Lira.
Sobre o que o público pode guardar do espetáculo, Lira acredita que possa ser a confirmação do artista empenhado em querer inovar e buscar as origens da sua arte. “Acho que todo mundo que já assistiu a peça, ou que irá assistir, nos traz uma coisa que fica muito forte para a gente que é a sensação de que quem já o conhecia fica impressionado mesmo conhecendo a obra, como que o Marku tinha sempre mais algo para mostrar e para contar curiosidades que muita gente que é fã dele não sabia. E quem nunca ouviu falar, já chegou para mim e falou assim, “nossa, sabe você ter saudade de alguém que você não conhece? Eu tô com saudade do Marku”. Outros falam “meu Deus, como é que eu nunca ouvi falar desse artista, que incrível que ele é” . É o legado dele, pautado dentro das duas linhas no teatro, uma que é a profissional, que é esse artista autêntico, a busca dele pela verdade artística dele, o guiava”. A busca pela essência e melhora dele culturalmente até dos rompimentos que ele faz com gravadoras, com o sistema, em busca da autenticidade artística, da verdade dele. Isso eu acho que é o que mais fica dele, dessa autenticidade mesmo. E da força dele entender quem ele era, da ancestralidade dele afro indígena, e de uma época que isso não era dito, que hoje a gente está mais em pauta esse assunto, mas antigamente poucos artistas tinham tanto essa verdade para falar de uma forma tão original.
E completa dizendo que “a outra é a família, é esse legado de Marku, não essa família tradicional, formal, mas da família afeto mesmo, da responsabilidade paterna, a gente põe isso muito em pauta em um lugar onde o Brasil é um país com essa ausência parental, desses pais que abandonam, principalmente um homem negro que teve um pai e se torna um pai mais presente ainda, porque já não é só um pai da família, o provedor, mas se torna um país presente, ativo, afetivo, que compartilhava as funções juntamente com a minha mãe, então acho que o espetáculo traz esse lugar do afeto, de entender a importância e de humanizar esse homem preto, colocar enquanto afeto, porque ele também pode ser um bom pai, pode amar e vivenciar, amar e ser amado, isso acho que é importante e que se fala na peça também por se tratar também de um homem negro.
Outra filha de Marku e que também está no projeto, assinando a direção musical e compondo o elenco do espetáculo, Júlia Ribas destaca a relevância profunda, histórica, cultural, social, cívica, familiar, e hereditária de trazer a existência de Marku através de um musical dirigido por Ricardo Alves e pela irmã Lira Ribas.
“É uma alegria e um aprendizado sobre vida e obra de Marku Ribas, o nosso Marco Antônio Ribas. Uma parte dela revelada através de uma explosão artística, com a sensibilidade, a poesia, a maturidade, a historicidade de uma vida tão importante e tão pontual nesse mundo, como a vida e obra de Marku e sobre a sua importância cultural, social, cívica, familiar, e hereditária. Fundamental para esse momento é ter minha mãe, Fatão, presente em cena, possibilitando esse leque de trabalho entre nós três: mulher, esposa e filhas, numa linguagem ainda tão viva quanto a vida e obra dele, quase 11 anos depois. Sinto que vai poder alcançar outros ouvintes, outros ouvidos e trazer a memória de Marku” ressalta Júlia.
Serviço
Marku Musical
Temporada: 8 de janeiro a 2 de fevereiro de 2025
Dias e horários: Quarta a sábado, às 19h, e domingo,às 18h
Valor do ingresso: R$ 30 (inteira) e R$15 (meia)
Estudantes, maiores de 65 anos e Clientes Ourocard pagam meia entrada.
Ingressos adquiridos na bilheteria do CCBB ou antecipadamente pelo site bb.com.br/cultura
Classificação: 12 anos
Centro Cultural Banco do Brasil – Teatro I - Rua Primeiro de Março, 66, Centro/RJ
Informações: 21 3808-2020 | [email protected]
Funcionamento do CCBB Rio: de quarta a domingo, das 9h às 20h (fecha às terças).