A Associação de moradores do Vidigal discorda do fechamento total da Avenida Niemeyer como requereu o Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro (MPRJ) por conta dos problemas causados pelas chuvas. Um dos diretores da associação, Moisés Alves disse que a medida poderia paralisar comércio e escolas que funcionam na comunidade.
O MPRJ ingressou com medida cautelar em caráter de urgência para que o Estado e o Município do Rio interditem o tráfego de veículos na Avenida Niemeyer e retirem moradores da comunidade do Vidigal residentes na face da encosta voltada para a via. O motivo é a possibilidade de deslizamentos de terra que afetem esses moradores.
Moisés explica que a Associação acompanha de perto as ações da Prefeitura em relação aos deslizamentos que afetaram a vida no Vidigal. Ele revela que algumas famílias que tiveram suas moradias interditadas já foram cadastradas para receber o aluguel social. Outras estão em casas de parentes.
Vidigal está entre os bairros do Leblon e São Conrado, na zona Sul carioca. De acordo com Moisés, as famílias mais afetadas pelos desmoronamentos na pista da Niemeyer são as que moram na região conhecida como Jaqueira e na Avenida Presidente João Goulart. Mas a comunidade toda está apreensiva com a próxima chuva. E para complicar mais, a possibilidade de fechamento da principal via de acesso pode oferecer mais obstáculos à vida na comunidade:
“Como fica o comércio local? Os fornecedores? Um Posto de Saúde, duas escolas municipais e uma creche funcionam no Vidigal. Como os funcionários vão chegar?”, indaga Moisés, acrescentando que na comunidade existem pessoas que trabalham na Barra da Tijuca: “Essas pessoas terão que descer a Niemeyer a pé? Tem que se considerar uma série de coisas”, disse.
Moisés acha que o Ministério Público faz pressão para que a prefeitura realize as obras necessárias para manter a Avenida Niemeyer segura em dias de chuva. A comunidade tem recebido representantes da Defesa Civil e da GeoRio.
Comerciantes estão apreensivos
O gerente do Hotel Shalimar, Antonio Cerqueira, manifesta preocupação com o possível fechamento da via. Para ele, é importante pensar na segurança dos moradores do Vidigal, mas os empresários locais estão sendo esquecidos:
“Em nenhum momento se fala dos empresários. O Shalimar é um hotel econômico. Estamos tentando contato com autoridades e na expectativa de um possível novo fechamento da via. Já vínhamos sofrendo com os Jogos Olímpicos, com interdições em 2014, com a construção da Ciclovia. E agora, com as chuvas”, disse.
Diante das notícias de fechamento da Niemeyer, Cerqueira diz que houve queda de até 70% no trânsito de veículos pela avenida, o que provoca rejuízos para os empresários locais:
“Essas notícias afetam a gente. Quem vem aqui, vem de carro. Se interditar (a Niemeyer) nós estaremos ‘fritos’. Temos 80 empregados que dependem do trabalho para o sustento. Nossos tributos estão atrasados”, exclamou.
O gerente Antônio Cerqueira faz parte da associação Brasileira da Indústria de Hotéis. Ele reforça a ideia de que a segurança de todos está em primeiro lugar. Mas o grupo pretende levar ao prefeito a real situação do comércio na Niemeyer, caso ela seja fechada. Cerqueira diz ainda que o prejuízo será grande, não só para os hotéis, mas para toda a atividade econômica do Vidigal, que hoje atrai muitos turistas.
Um pouco mais acima do Hotel Shalimar, as preocupações são as mesmas. Para Miraci Porto, proprietária do Hostel que leva o seu sobrenome, se a Avenida Niemeyer for fechada a situação fica complicada para todos que investiram em negócios no Vidigal. Ela é moradora do bairro há 50 anos e diz que sempre houve desmoronamentos na via, mas agora a situação é mais séria:
“Existe uma pedra muito grande no topo do Vidigal. Se rolar, bate embaixo. É complicado tirá-la de lá”, disse.
O Hostel Porto fica na Avenida Presidente João Goulart e não foi afetado pelas chuvas. Apesar disso, Miraci o mantém fechado temporariamente, até obter condições melhores de funcionamento. Até há pouco tempo, recebia clientes vindos da América do Sul. Era um dos 22 hostels da comunidade:
“Agora, a maioria fechou. Só tem uns seis. A situação está difícil. Espero que a Niemeyer não feche. Tem pessoas que investiram muito na comunidade, em bares e restaurantes. Tinha muito gringo no bairro. Já tive oportunidade para ir embora, mas não saio daqui. O Vidigal é lindo”, disse Miraci Porto.