A baixa qualidade dos transportes públicos no Rio de Janeiro tem como causa o descumprimento de acordos firmados entre Prefeitura, Consórcios e Ministério Público, com o agravante da reação de parte da população que quebra ônibus. Esta é a conclusão do professor da Uerj Alexandre Roja, especialista em transportes, que diz que se os impasses não forem resolvidos, o transporte por ônibus acaba no Rio.
Dados da SMTR indicam que cerca de 1000 ônibus deixaram de circular na cidade, apesar de compromissos firmados com os consórcios. A capital fluminense conta hoje com 6.833 coletivos em circulação, dos quais 4.491 estão equipados com ar condicionado, inclusive os “frescões”.
O acordo operacional firmado entre Prefeitura e consórcios determina que a as empresas mantenham em circulação 7.809 ônibus e outros 411 do sistema BRT. Atualmente, a frota em operação é de 6.833 ônibus, sendo 4.491 com ar (incluindo os ônibus do BRT e os frescões).
A SMTR informa ainda que a Zona Oeste da cidade foi a mais afetada pela redução do número de coletivos devido ao fechamento de empresas que atuavam na região.
Para MP, serviço continua ruim
O Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro informa que entre 2010 e 2019 os consórcios Transoeste, Internorte, Intersul Santa Cruz foram alvos de 98 ações públicas. E o motivo das reclamações foram os serviços ruins prestados à população.
Apesar de medidas judiciais contra as empresas, o serviço nada mudou. As reclamações atingiram em 84% das linhas. Dados do GPS dos ônibus indicam que mais de 1000 dele deixaram de circular.
Diante da decadência do sistema, o MP aplicou sanções aos consórcios.
Fim dos ônibus
Para Alexandre Rojas, a origem do problema está no relacionamento da Federação das Empresas de Transportes de Passageiros do Estado do Rio (Fetranspor) com os poderes públicos:
“Lá atrás, a Fetranspor sempre teve poder sobre o Executivo, sobre o Legislativo e sobre o Judiciário. O órgão multa, a Fetranspor não paga, a Prefeitura não cobra. A Fetranspor apresenta uma planilha de custos para definir o preço da passagem. A prefeitura autoriza. O Ministério Público e a prefeitura dizem que o serviço está ruim e descumprem o acordo, deixando de aumentar o preço. As empresas não melhoram o serviço porque não estão sendo remuneradas. É um ciclo que se repete”, disse.
Rojas lembra o movimento “não vai ter aumento”, de 2015.
“As empresas ficaram sem reajustes e deixaram de colocar ar condicionado nos veículos. A Prefeitura deixou de fiscalizar, o Ministério Público não negociou e a Justiça não julgou. Para complicar, a população quebrou ônibus. Virou um ciclo. Ou se faz um pacto ou, em breve, não teremos mais ônibus”, disse.
Impacto do Uber em outros modais
O especialista revela que há queda de passageiros no sistema de transporte do Rio. Nos anos 1990 a Rede Ferroviária transportava 900 mil pessoas por dia. Hoje, 500 mil. O sistema de Barcas teve queda e o engarrafamento aumentou na Ponte.
“Em uma analise mais ampla, o Uber passou a fazer lotada. O jovem sem emprego pega um carro emprestado e sai da Baixada para o Centro fazendo lotada e engarrafando a Avenida Brasil. São 50 mil carros. Embora eles levem 5 passageiros cada, o ônibus conduz 50. É preciso um pacto para em que todos atores cheguem acordo”, concluiu.
Já a Prefeitura assinou um novo acordo com os consórcios que prevê a inclusão no sistema de 370 novos ônibus, com ar-condicionado, wifi e entrada USB para carregar o celular.