Imagine você acordar um dia e não ver mais o seu filho ou filha? Saber que ele ou ela morreu de forma brutal e meses depois, o crime não foi elucidado? Esse é o drama porque passam Antônio Francisco da Silva e Marinete, pais da vereadora carioca Marielle Franco (PSOL), assassinada em 14 de março passado. Quatro meses após o crime, eles estão inconformados com a não solução do caso até hoje e o silêncio da Polícia Civil em relação ao andamento das investigações. Conseguiram hoje o apoio da Anistia Internacional, que defende a criação de um grupo de trabalho independente para acompanhar o andamento das investigações e cobrar as autoridades responsáveis. Mais cedo, eles deram entrevista coletiva na sede da Anistia, no Centro do Rio.
"Não temos nenhuma informação sobre a morte da nossa filha quatro meses após a sua morte. Nenhuma resposta da parte das autoridades do Rio de Janeiro e federal. Estar aqui é uma oportunidade de externar a nossa dor que está sem resposta. Nós gostaríamos de saber o que a Marielle falou ou fez para eles tirarem a vida dela covardemente. Não ficamos cobrando porque achamos que as autoridades devem informar a gente. Queremos saber como anda a investigação. A Polícia Civil nos recebeu no início e depois não falou mais nada. A minha filha atuou muito na defesa dos direitos humanos e daqueles que não têm voz", lamentou Antônio, emocionado.
Apesar de tudo, o pai de Marielle prefere continuar confiando no trabalho da Polícia. "Eu quero continuar confiando que eles vão descobrir quem matou e quem mandou matar a nossa filha. A Anistia Internacional está nos dando apoio para acompanhar as investigações e cobrar respostas", declarou.
Marinete Franco não vai desistir de lutar pela solução do crime. "Se for preciso, vou sozinha para a rua cobrar informações sobre o caso e a celeridade nas investigações. Eu sei que muitos crimes não tiveram solução, mas, a Polícia já resolveu outros casos antes. A Marielle foi uma mãe muito boa e uma filha que nos ajudava muito. Está sendo difícil para a gente. É uma dor impossível de cicatrizar. Essa falta de notícias dá a sensação de impunidade", comentou a mãe da vereadora.
A assessora de Direitos Humanos da Anistia Internacional no Brasil, Renata Neder, informou que a entidade defende que a sociedade civil crie um grupo de trabalho independente para acompanhar as investigações da morte de Marielle. "São quatro meses de silêncio e informações desmentidas. É preciso que seja criada uma comissão para monitorar o caso e cobrar informações. Principalmente pela suspeita de ter envolvimento de agentes do Estado. As Polícias Civil e Militar têm a responsabilidade de garantir uma investigação mais célere", defendeu.
De acordo com Neder, quando as vítimas são ativistas de direitos humanos, a investigação é ainda mais lenta e poucos são os crimes solucionados. "No Brasil, principalmente no estado do Rio, são poucos os crimes resolvidos e os culpados, presos. Quando as vítimas são militantes de direitos humanos, como a Marielle, o índice é menor ainda. Acreditamos no envolvimento de agentes do Estado, porque a arma usada pertencia às forças de segurança e fora pega em um depósito da Polícia Militar. Além disso, o crime envolveu um alto nível de planejamento e de execução", observou.