Há meio século, uma música sobre uma mulher tornou-se um fenômeno nas rádios brasileiras, especialmente nas cariocas, e consagrou a carreira de um cantor paraguaio, Juan Senon Rolón, que escolheu o Brasil para viver e teve seu nome mudado para Fábio por sugestão de Carlos Imperial.
Com um eco peculiar na parte final do nome, Stella marcou época e apresentou ao país o cantor que tornou-se também conhecido por gravar a famosa vinheta da Rádio Globo que ficou no ar por mais de 40 anos. E outro motivo que o deixou famoso foi pela amizade de mais de três décadas com Tim Maia.
O artista celebra 50 anos da canção que o consagrou em um show especial no dia 4 (quarta-feira), às 16 horas, no Centro da Música Carioca Artur da Távola, na Tijuca, na Zona Norte do Rio. O show especial faz parte do projeto "Canções Para Todas as Idades" produzido pela jornalista Deyseh Lúcide Martins.
Numa conversa descontraída com o "Portal Eu, Rio!", Fábio falou com carinho da música que o consagrou e conta uma história pouco conhecida. A canção quase se chamou 'Marisa'. O irmão de Carlos Imperial, Paulo, foi quem convenceu o cantor a colocar outro título.
"Eu morava no Solar da Fossa, na Rua Lauro Müller, em Botafogo. Dividia um quarto junto com uns amigos. E numa noite veio uma inspiração pra fazer a melodia dessa música, eu comecei a tocar no violão e surgiu a canção chamada 'Marisa', No dia seguinte eu mostrei para o Paulo Imperial, que gostou muito. Mas ele pediu pra mudar para 'Stella', pois era o nome de uma colega dele da faculdade de direito da PUC à época", conta. Ele acrescenta que a letra era uma homenagem à cantora Marisa Rossi, que chegou a participar do programa "A Grande Chance", apresentado por Flávio Cavalcanti na TV Tupi. A inspiração surgiu por causa de uma desilusão amorosa que o cantor teve com ela
Eco que fez história surgiu por acaso
À época com 23 anos, Fábio tinha já gravado um compacto chamado "Lindo Sonho Delirante" e tinha direto a gravar mais um disco. Ele foi à sede da gravadora RCA Victor e apresentou a canção ao produtor Romeu Nunes, que ficou "impressionado" com o que viu, dizendo que a música era "muito boa". Imediatamente, Romeu chamou o maestro responsável para fazer os arranjos para combinar a gravação na semana seguinte no estúdio Avaí, localizado perto da Central do Brasil. E foi lá que surgiu o icônico eco que até hoje é conhecido.
"O operador de áudio da gravadora Avaí era o Mazola. O Romeu ouviu a fita e achou interessante colocar um efeito sonoro que remetesse a algo espacial. Daí o Mazola mexeu nos botões e surgiu aquele eco. O operador queria usar esse efeito em toda a música, mas o Romeu achou melhor colocar só no final, ficando "Stelaaaa". Como a RCA Victor era ligada aos Diários Associados, então a música tocava na Rádio Tamoio AM, que foi precursora da Mundial. Em pouco tempo a música estourou e todo mundo estava ouvindo", revela Fábio.
Outra curiosidade que o cantor revela é que à época por não ter condições de comprar um aparelho de rádio, ele ouvia a própria música tocada no rádio de um vizinho de apartamento.
"Eu ouvia através da parede, olha que loucura! Nas tardes da programação da Tamoio, a minha música era uma das mais pedidas. Dali eu fui notando como minha música foi ficando famosa. Depois eu passei a tocar nos programas musicais da TV Tupi, na Urca. Só que por causa desse contrato, não podia participar de nenhuma atração da TV Globo. Mas mesmo assim fiquei famoso. Ela é a única mulher que nunca me abandonou e estamos juntos há 50 anos", diverte-se ao relembrar.
O cantor recorda que a verdadeira Stella ainda está viva e mora no Rio de Janeiro, mas só a encontrou por acaso em Copacabana e não teve nenhum contato desde então. E ele também conta que à época ela pouco dava atenção a Paulo Imperial, mas depois chegou a se relacionar com o irmão de Carlos Imperial graças ao sucesso que a música teve.
Voz que marcou vinheta da Rádio Globo
Com o sucesso de Stella, o diretor da Rádio Globo à época, Mário Luiz Barbato, convidou Fábio para gravar a vinheta clássica da emissora e dos times esportivos, principalmente os quatro grandes do Rio. A condição para isso era, em troca, tocar a música na emissora. Desde 2009, as vinhetas não vão mais ao ar como foram gravadas originalmente. E pela primeira vez, Fábio contou ao "Eu, Rio!" detalhes envolvendo os bastidores do processo que ainda corre na justiça. Além disso, ele admite algumas mágoas que chegou a ter sobre o assunto.
"Uma vez eu encontrei o Waldir Amaral no Clube Caiçara. Ele já tinha tomado uns uísques e soltou um "Graças à você, estou milionário". Eu fiquei pensativo com isso, pois não estava muito legal de grana. Ou seja, ajudei diversas pessoas da Rádio Globo a ganharem dinheiro. O justo é eu ser recompensado por isso", revela Fábio que também disse que o processo está na última instância, no Supremo Tribunal Federal.
Durante anos circulou a história que ele teria pedido uma indenização de R$ 1 milhão e a emissora ofereceu pouco mais de 400 mil. Pela primeira vez falando em valores, Fábio apresenta outra versão.
"A primeira vez que eu procurei a emissora pra resolver isso foi em 2009. Na ocasião, um dos diretores me ofereceu R$ 150 mil, o que equivalente a um salário de um mês de um comunicador de ponta da Globo à época. Eu fui para a Bahia e disse que pensaria a respeito. Minha advogada me deixou à vontade para decidir, mas nem dei continuidade. Pouco tempo depois. a direção trocou. Liguei pra lá e me ofereceram um valor menor, R$ 25 mil. Na época até o comunicador Antônio Carlos (atualmente na Rádio Tupi) me aconselhou a pegar essa grana e disse que não fariam muito por mim. Resolvi entrar na Justiça. Eu amo a história da Rádio Globo, mas espero que reconheçam o que eu fiz por ela. Você vê que mudaram a vinheta diversas vezes, mas não colou. Aliás, olha como a emissora está. Mas eu gostaria de fazer um acordo, até porque daqui a pouco "vou embora" desse planeta e não vejo essa grana", brinca Fábio sem deixar de alfinetar a emissora que perdeu mais de 70% da audiência desde que mudou a programação em 2017.
Amizade com Tim Maia e música como sacerdócio
É impossível falar de Fábio sem comentar sua amizade de mais de 30 anos com Tim Maia. Ele relembra que teve muitos ensinamentos com o Síndico, que dizia que a música tinha que ser como um "sacerdócio". O cantor reconhece que apesar de todos os problemas que Tim teve na vida, ele levava a música muito a sério e o ensinou muito. Com inúmeras histórias, Fábio revela uma que aconteceu em 2016, quando foi conhecer a estátua do cantor na Praça Afonso Pena, na Tijuca, na Zona Norte.
"Um dia quis conhecer a estátua dele lá na Tijuca. Quando estava chegando perto, um pipoqueiro me reconheceu e brincou comigo dizendo que eu tinha que ter cuidado com o cheiro de maconha. Eu até chamei a atenção dele dizendo para ter mais respeito. Chegando lá, dei um abraço, troquei umas ideias como se tivesse vivo e me virei para ir embora. Quando eu estava saindo, senti um cheiro de "marijuana". Daí comentei com o pipoqueiro: "É você estava certo mesmo. O gordinho continua danado'", gargalha Fábio com a lembrança.
O show "Em Busca das Canções Perdidas" terá ingressos a R$ 40, mas quem é nascido na cidade do Rio de Janeiro paga meia com a apresentação da identidade. Ao final do show serão sorteados CDs e alguns exemplares do livro "Meus 30 anos com Tim Maia"
Serviço
Show "Em Busca das Canções Perdidas" com Fábio Stella
Data: 04/09/2019 (quarta-feira)
Horário: 16 horas
Local: Centro da Música Carioca Ártur da Távola
Endereço: Rua Conde de Bonfim, 824, Tijuca
Ingresso: R$ 40 (cariocas pagam R$ 20)
Telefone: 3238-3880/3881