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Ato em memória dos desaparecidos políticos protesta contra falas de Bolsonaro

O evento teve quase 100 pessoas, entre professores, estudantes e familiares de desaparecidos políticos

Por Anderson Madeira em 24/08/2019 às 18:12:16

Imagem: Divulgação

O ato em Defesa da Memória, Verdade e Justiça, em homenagem aos desaparecidos políticos realizado esta sexta-feira no Largo de São Francisco Xavier, em frente ao Instituto de Filosofia e Ciências Sociais (IFCS), da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), transformou-se em protesto contra o governo do presidente Jair Bolsonaro, que no mês passado, em ataque ao presidente da OAB, Felipe Santa Cruz, disse que sabia como o pai deste, o militante político Fernando Santa Cruz, preso em uma emboscada em 1969, no Rio, morreu.

O evento teve quase 100 pessoas, entre professores, estudantes e familiares de desaparecidos políticos. O evento foi promovido pela Associação dos Docentes da UFRJ, com apoio do Grupo Tortura Nunca Mais do RJ.

Imagem: Divulgação

Na grade em frente ao prédio do IFCS, foram colocados cartazes com nomes de desaparecidos políticos durante o regime militar e parentes ainda botaram flores ao lado deles. Entre os presentes, estavam parentes de Fernando Santa Cruz, André Grabois e Ruy Frazão.

“Onde está Ruy Frazão? Os sonhos dele não podem ser castigados? Por que sonhar com o Brasil grande é agora impossível?”, questionou Célia Frazão Soares Linhares, irmã de Ruy Soares Frazão, militante político desaparecido em 1974, em Petrolina (PE), membro da Ação Popular Marxista Leninista (APML).

“Ruy se chama assim em referência aos direitos respeitados, numa homenagem a Rui Barbosa. Teria muitas coisas a contar dele, o deslumbramento ao casar, ter filho e formar família e sonhar com um Brasil grande. No ginásio, ele começou a escrever sobre as injustiças que ele via nas escolas”, lembrou Célia.

Maria Auxiliadora Santa Cruz, irmã de Fernando Santa Cruz, também deu depoimento emocionado no ato.

Imagem: Divulgação

“Fernando teve a sua primeira prisão quando era estudante secundarista, com 18 anos. Mas, ele disse que era menor, senão ia para a Casa de Detenção. Foi então para o Juizado de Menores. Foi preso em uma passeata, onde os estudantes queimaram as bandeiras. Eu já era universitária. A gente foi lá visita-lo. Meu pai era médico e ficou muito chateado. O pai de outro estudante que foi preso com Fernando, disse que tinha orgulho do filho dele por ser comunista. Foi uma anistia parcial. Em nenhum lugar onde houve ditadura, teve uma anistia igual a nossa. Em todos os lugares os torturadores foram punidos. Aqui nenhum foi. Esse presidente não representa a sociedade brasileira. É um nazista. Uma pessoa sem sensibilidade nenhuma. Levanta e diz que sabe quem matou Santa Cruz. Ainda calunia, dizendo que foi a organização onde Fernando militava. Os campos de concentração nazista eram semelhantes à Casa da Morte, em Petrópolis, e ao DOI CODI, no Rio de Janeiro, ao DOPS, em São Paulo e a um sítio, lá também, onde foram praticadas as maiores torturas. Não era uma coisa amena a ditadura. O presidente ainda teve a covardia de dizer que foram poucos os que morreram e que deveriam ter sido trinta mil. A gente não pôde enterrar e chorar todo mundo junto”, lamentou ela.

O radialista Orlando Guilhon, que na juventude militou na Ação Popular, leu uma carta do antigo grupo, repudiando as falas de Bolsonaro sobre Santa Cruz.

“Repudiamos as mentiras proferidas e os atos de terrorismo psicológico cometidos pelo presidente, ao comentar o sequestro, a prisão e a tortura. O assassinato de Fernando Santa Cruz, militante da APML, cometido pelos órgãos da ditadura militar. A APMLvisava a transformação socialista do Brasil e priorizava a luta pela derrubada do regime militar e a conquista das liberdades democráticas. Buscava conscientizar e mobilizar os trabalhadores e demais setores populares e nem sequer recorreu à luta armada e muito menos, atos sanguinolentos”, contou.

Ele ainda leu os nomes de militantes mortos pela ditadura. Victória Grabois, presidente do Grupo Tortura Nunca Mais RJ, lembrou a trajetória da entidade.

“Desde 1985 luta pelo resgate da memória dos desaparecidos e mortos durante a ditadura. Começamos uma luta por nomes de ruas. Nós inauguramos muitas ruas no Rio de Janeiro com os nomes dos nossos desaparecidos. Foram muitas no governo do prefeito Marcello Alencar. Depois, fizemos buscas no cemitério de Ricardo Albuquerque. Tem mortos e desaparecidos também no Cemitério da Cacuia, na Ilha do Governador”, lembrou Vitória, irmã de André.

Ela também criticou decreto de Bolsonaro, no final de julho, quesubstituiu quatro dos sete integrantes da Comissão sobre Mortos e Desaparecidos assinado, no final de julho.

"O que querem é recontar com inverdades a nossa história. A reparação é uma obrigação do Estado", disse.

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