Fotógrafo produz ensaio reflexivo sobre a relação entre as pessoas e os celulares
O ensaio produzido pelo americano Eric Pickersgill tem chamado a atenção dos internautas.
Por Jonas Feliciano em 18/09/2019 às 18:53:29
Imagem: Eric Pickersgill
O fotógrafo americano Eric Pickersgill produziu um ensaio que tem chamado a atenção dos internautas. Sua série de fotos sobre a relação da sociedade moderna com os dispositivos móveis é um verdadeiro alerta. Chamada de "Removed", a coleção foi realizada nos Estados Unidos, em países da Ásia e também na Índia.
Eric é mestre em Belas Artes na Universidade da Carolina do Norte, em Chapel Hill. Ele Nasceu em Homestead, no estado daFlórida. Atualmente, o artista, marido e pai em período integral trabalha na Carolina do Norte.
De acordo com a sua biografia, a paixão pelo ensino e pela criação de imagens lhe permitiu perceber as conexões que os dois compartilham. Desse modo, o trabalho desenvolvido por ele, frequentemente, é sobre fotografia, mas explora os efeitos psicológicos e sociais que as câmeras e seus artefatos provocam nos indivíduos e nas sociedades em geral. Ele já expôs e apresentou seus trabalhos em diversas instituições internacionais, galerias e feiras de arte como o Museu de Arte da Carolina do Norte, Universidade Pantheon-Sorbonne, Museu de Arte Ackland, Rick Acherland Fine Art, Pulse Art Fair Miami, AIPAD, entre outros.
Nesta série, Eric trabalhou a relação das pessoas e seus dispositivos, mas tirou os celulares de cena. O resultado ficou realmente impressionante.
"A união de pessoas a dispositivos tem sido rápida e inalterável. A aplicação do dispositivo pessoal na vida cotidiana fez com que as tarefas levassem menos tempo. Lugares e pessoas distantes se sentem mais próximos do que nunca. Apesar dos benefícios óbvios que esses avanços na tecnologia possibilitaram para a sociedade, as implicações sociais e físicas estão se revelando lentamente. De maneira semelhante à fotografia que transformou a experiência vivida em experiência fotogravável, perceptível e reproduzível, os dispositivos pessoais estão mudando comportamentos e, simultaneamente, se misturam à paisagem, formando-se como um com o corpo", afirmou Eric sobre a obra.
Para o artista, o "membro fantasma" revelado nas imagens é usado como uma maneira de sinalizar ocupação e falta de acessibilidade para estranhos enquanto existe uma força viciante que promove a divisão da atenção entre aqueles que estão fisicamente com você e aqueles que não estão.
Ele explicou que a ideia surgiu quando estava sentado em um café, durante uma manhã qualquer. Em sua página oficiaI, Eric relatou suas observações:
"A família sentada ao meu lado no café Illium em Troy, Nova York, está tão desconectada uma da outra. Não falam muito. Pai e duas filhas têm seus próprios telefones. Mamãe não tem um ou escolhe deixá-lo de lado. Ela olha pela janela, triste e sozinha na companhia de sua família mais próxima. Papai olha de vez em quando para anunciar alguma informação obscura que encontrou on-line. Por duas vezes ele fala sobre um peixe grande que foi capturado. Ninguém responde. Fico triste com o uso da tecnologia para interação em troca de não interagir. Isso nunca aconteceu antes e duvido que tenhamos arranhado a superfície do impacto social dessa nova experiência. Mamãe está com o telefone agora", escreveu o fotógrafo.
Ele ainda contou sobre os efeitos que a imagem dessa família causou em sua mente.
"O rosto da mãe, a postura e o foco das meninas adolescentes e do pai na palma das próprias mãos foi queimada em minha mente. Foi um daqueles momentos em que você vê algo tão surpreendentemente comum que se assusta com a consciência do que realmente está acontecendo e é impossível esquecer. Eu vejo essa família no supermercado, nas salas de aula, na beira da estrada e na minha própria cama, enquanto adormeço ao lado da minha esposa. Descansamos lado a lado, mimando nossos pequenos dispositivos frios e iluminados todas as noites", disse.
Para explicar o ensaio, Eric Pickersgill ainda afirmou que os retratos de grande formato são de indivíduos que parecem estar segurando dispositivos pessoais, embora os dispositivos tenham sido fisicamente removidos das suas mãos. Segundo ele, os modelos foram convidados a manter seu olhar e postura enquanto o telefone foi removido para a produção da foto.
"As fotografias representam reencenações de cenas que experimento diariamente. Aprendemos a ler a expressão do corpo enquanto alguém consome um dispositivo e, quando esses significantes são ativados, é como se o dispositivo pudesse ser visto em forma física sem a presença do objeto", contou.