Uma investigação policial iniciada em 2015 revelou que traficantes que atuavam no município de Japeri, na Baixada Fluminense, e eram vinculados ao Comando Vermelho (CV) pagavam propinas a policiais militares e civis. Durante a apuração, não foi possível identificar os agentes mas mandados de busca e apreensão foram concedidos contra as residências de 17 PMs suspeitos de ser coniventes.
Um DJ que promovia bailes na região a pedido dos traficantes mantinha contatos com os bandidos a fim de recolher valores para que os eventos fossem realizados. Essas quantias eram entregues a policias civis e militares, a fim de que não ´atrapalhassem´ as festas. Segundo os autos, eram R$ 1 mil por semana para liberar os bailes.
Há trechos do inquérito que mencionam conversas em que policiais falam sobre divisão de valores.
Um traficante conhecido como 22 disse, em uma conversa interceptada, que era para levar o dinheiro do policial e reclama porque ninguém havia levado ainda e que é preciso ter uma pessoa responsável para falar com o policial.
Uma escuta revela que 22 pediu para um interlocutor separar o dinheiro (R$ 2 mil) do policial ´Neném´ (Policial Wellington), porque ele está de férias e está indo buscar. ´22´ enfatizou que ´neném´ estava na 39° BPM e agora está no 24° BPM.
Outro trecho que chama atenção é de uma conversa de um homem conhecido como Binho que comentou que ficou sabendo que o ´A.D.A´ já havia acertado com o DPO, que no início eles pediram vinte, mas acabou ficando em quinze. O interlocutor disse que "a polícia não quer melhorar o bairro, só querem dinheiro".
A investigação que durou dois anos fez parte da´Operação Constantinopla que constatou indícios da prática de diversos crimes em Japeri, tais como, tráfico de drogas, associação para fins de tráfico, homicídios, roubo de veículos, extorsões, por integrantes do CV´, com possível conivência de policiais civis e militares da região. Quatorze traficantes foram condenados no último dia 18 com penas de até oito anos de reclusão.
O alvo específico da investigação era Ipojucan Soares de Andrade, conhecido como Coroa, que era apontado como líder do CV na região de Japeri. Ele não residia no local, mas controlava toda a movimentação por intermédio de seus ´subordinados´, com os quais fazia contato por telefone. Ele foi preso em Araruama, na Região dos Lagos, em 2015, quando chegou a oferecer R$ 2 milhões de suborno a policiais.
Uma escuta revela a crueldade dos bandidos. Um dos criminosos identificado como Parazão avisou a Coroa que um dos comparsas roubou nove cargas de entorpecentes e disse que vai aleijá-lo. Coroa disse que não e mandou só dar umas “varadas” na perna dele.
Outro trecho que chamou atenção mostrou traficantes falando sobre compra de armas. Um dos bandidos comenta que estava 'desenrolando´ com um terceiro que está vendendo cinco ´ARs 10 (fuzis)´ pelo preço de R$ 60 mil, que são novos e não têm nenhum disparo, podendo ser pago em uma parcela de R$ 30 mil e outras duas de R$ 15 mil.