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Yorgos Lanthimos volta ao holofote do Oscar com “Pobres Criaturas”

Cinestesia, Por Gabi Fischer, Cineasta e Produtora

Em 07/03/2024 às 11:46:34

Como primeira impressão, na introdução de “Pobres Criaturas”, imagino que muitos pensaram que o título seria uma referência à sua protagonista, como “mais uma” experiência de seu criador. Entretanto, para mim, acompanhar a evolução de Bella Baxter é entender que todos os outros, em especial esses homens que a tentam dar “limites”, é que são pobres criaturas.

O novo filme de Yorgos Lanthimos já estava no radar do diretor grego há bastante tempo, pois foi atrás do escritor do livro para adaptá-lo logo após “Dente Canino” (meu filme favorito dele). Mas ainda bem que o tempo de produzi-lo foi certo. Que fique claro que estou me referindo a ele ter ficado mais famoso e conseguir orçamento, porque o design de produção do filme é o que, na minha opinião, merece palmas, assim como o elenco. Se não fossem por esses dois fatores, muito provável o filme não seria tão glorificado como está sendo.

Vou defender esses dois pontos, começando pela estética, que combina um clássico vitoriano, ao mesmo tempo que é moderno. Coloca, então, bem à nossa frente o exagero e, principalmente, o colorido desse mundo de sátira. É uma forma de sublinhar visualmente o que está nesse texto cômico e no arco dramático de seus personagens. Viajamos por diferentes países e cruzamos oceanos assistindo a diversos esteriótipos que são evidenciados por esse departamento brilhantemente.

Mais um fator que ajuda na arte visual para chamar a atenção do espectador são as lentes da direção, já que essa realidade distorcida é capturada por grandes angulares e até mesmo a ideia da fisheye, como se estivéssemos observando essa narrativa. Gosto bastante dessas brincadeiras da direção de fotografia que combinam com a comédia e com a história, como foi em “A Favorita”.

Saindo do técnico, vamos para o elenco que, logo de cara, inclui três nomes gigantes: Emma Stone, Willem Dafoe e Mark Ruffalo. A cereja do bolo para esses atores funcionarem tão bem nas cenas nesse mundo criado foi a preparação de elenco, pois é muito claro como eles estão à vontade, seguros, sem críticas sobre si e conectados com seus personagens e com os demais em cena. Criar um ambiente como esse no set é muito importante e faz a diferença, tanto que, logo de cara, podemos enxergar. Dafoe é o coadjuvante perfeito, porque é um exemplo na pele do debate sobre os limites da ciência e suas ações são engrenagens para a ação da protagonista. Por outro lado, Mark é o estereótipo do cafajeste, tem mais tempo de tela e é essencial para movimentar a narrativa. E, enfim, Emma Stone, o holofote, que nos mostra na tela o que é tornar-se mulher. Claro que com todo o viés satírico aqui. Ainda bem que ela é produtora executiva do filme porque algo que me deixa desconfortável é o patamar que estão colocando esse filme, dirigido e roteirizado por homens. Sim, ela ajudou muito a salvá-lo!

Então, vamos para a narrativa, onde não há inovação. O filme utiliza quase que uma fábula para criar uma história que questione a moralidade da sociedade com toque de Frankenstein (vale sempre, já que é obra de uma mulher!). Além de separada em capítulos, utiliza do mundo lúdico e da comédia para exagerar e questionar o que é liberdade, seja a sexual ou até mesmo a do pensar e falar. Já sabemos bem que os monstros reais são os homens, que o prazer da mulher é tão privado que chega a ser castrado, e a sociedade sempre vai tentar nos aprisionar. Claro, Deus é um homem e criou essa mulher. Mas Bella se constrói e descobre-se sozinha, se liberta, olha para si e se prioriza. Nem mesmo Freud saberia analisar tamanha liberdade e desenvolvimento que a permitem conquistar seu lugar. Só que, assim, preciso falar que, nessa mesma época de temporada, essa narrativa está em outro filme bem rosa que fez o mundo parar em 2023.

O que queria dizer é que gostei sim do filme, mas não e revolucionário, imperdível, perfeito e “algo que nunca foi visto”. Com certeza é a estética visual e o gênero de comédia satírica que contribuem para ele estar nesse lugar, porque a sociedade precisa do exagero para entender o básico. Tão exagerado que achei o filme bem longo para o que é.

Fico feliz porque, claramente, a maioria do público iria passar batido por “Pobres Criaturas”. Só que o fato de ser indicado ao Oscar despertou muito a curiosidade. Muitas dessas pessoas que iriam ignorar o filme podem ter se permitido assistir e gostar. Para mim, isso é o mais válido, mas além do departamento de arte e de Emma como Bella, “Pobres Criaturas” é um filme que já conhecia.

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