Todo mundo sabe até onde leva o caminho dos tijolos amarelos, mas antes de Dorothy perceber que estava bem longe do Kansas e viver sua aventura em Oz, essa terra mágica já tinha sido palco de outra grande história. Essa semana chega aos cinemas um dos maiores lançamentos do ano e que já tem garantido muitas salas de cinema lotadas pelo mundo porque os fãs de Elphaba e Glinda têm programação certa: “Wicked”, enfim, em uma adaptação para as telas.
Para começar, aproveite a sessão e mergulhe na magia de Oz. Todo o design de produção do filme é impecável, é um prazer poder vivenciar esse mundo na sala escura, babar pelos figurinos, ficar encantado pelas maquiagens e penteados, assim como imagino que foi em 1939 com “O Mágico de Oz” nos cinemas. Claro que o avanço da tecnologia, orçamento e aposta em produções de musicais, novamente, para os cinemas, agora dão mais asas à imaginação e, mais uma vez, o público vai sonhar em conhecer a terra mágica de Oz. Dou muito crédito ao diretor Jon M. Chu, que se prova mais uma vez como um bom diretor no segmento de adaptações musicais, já acertando anteriormente em “In The Heights” e agora aqui.
Entretanto, a parte que merece muitos aplausos é a dupla protagonista e precisamos falar sobre isso. Não tenho palavras para descrever o cuidado e amor de Cynthia Erivo na construção de sua Elphaba, que colocou claramente muito de si na personagem e recebe as críticas sobre sua pele verde da mesma forma que já vivenciou pessoalmente. O olhar de Cynthia diz tudo: é gigante, emocionante, e quando começa a cantar, é impossível não se deleitar em cada nota que emana. Para fazer sua contraponto e dupla perfeita, temos Ariana Grande que está um espetáculo. Preciso confirmar que sua Glinda é a minha favorita, e olha que nunca fui fã da personagem, mas o estudo e construção de Galinda para Glinda que acompanhamos é genuíno com um amor, cumplicidade, empatia e amizade por Elphaba, ao mesmo tempo que tem sua personalidade mimada fortíssima, mas é a nova amiga que realmente a muda. Nessas duas, o filme acertou como há tempos não se via, protagonizando as melhores sequências musicais, roubando qualquer outra cena. Elas são a base da narrativa, não há dúvidas, mas as personagens se mostram dignas desse lugar. A dupla conquista o holofote e confirma que merecemser ouvida ao contar a história.
E é sobre isso que precisamos falar em “Wicked”: nos atravancos que ficaram ao adaptar o musical, que vem de um livro, para o audiovisual. Primeiro que, para mim, foi uma surpresa a divisão em duas partes. Preciso dizer que já tive o privilégio de assistir a montagem e é uma das minha favoritas de experiência teatral, mas é necessário adaptar a linguagem quando é modificado o segmento. Foi aí que o filme deu um bom deslize. Sabemos que existe o lado de que é preciso agradar a uma grande quantidade de fãs, mas como um produto audiovisual, é igualmente importante encontrar um meio termo entre quem já ama “Wicked” e quem irá conhecer agora e também entre o que é preciso em um palco e o que é necessário na tela. E isso não aconteceu. O filme se extende em muitas cenas e ganha "barrigas" em sua narrativa. Há momentos em que números musicais duram demais. Assim, o ritmo da narrativa perde o fôlego e surgem os momentos que temos a certeza de “vai terminar agora”, finalizar o Parte I, mas ainda não. Fizeram questão de colocar, em 2h30, a narrativa do primeiro ato, assim como é na peça. No entanto, faltou o olhar de como equilibrar e enxugar para a linguagem audiovisual. Mas nada disso ofusca o essencial, que vale cada centavo do seu ingresso.
Não vou mentir que já espero ansiosa para a Parte II e muito feliz que esse musical especial ganhou as telas. É uma forma de encontrar novos fãs e também eternizar, em imagem, o espetáculo visual que a história demanda. Preciso assistir ao próximo para confirmar ou não a minha opinião de que, talvez, caberia tudo em um só filme. Veremos! Mas com a certeza de que, agora, “Wicked: Parte Um” se consagrará como um sucesso de 2024, que todos devem ir aproveitar essa sessão, se emocionar e sair querendo ouvir de novo e de novo as músicas. Por fim, o último também sabe honrar seu universo, já que escolhe easter eggs gratificantes, que enaltecem desde o cinema (com os icônicos sapatinhos vermelhos) e o teatro musical (com o presente da dupla original em cena).