A expectativa de vida avança significativamente em todo o mundo devido aos avanços na medicina, nutrição, tecnologia e mudanças no estilo de vida. As pessoas estão vivendo mais tempo do que nunca, a longevidade varia de país para país; mas, geralmente, é superior a 70 anos.
De acordo com dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) referentes ao ano de 2020, a expectativa de vida global era de 73,4 anos. Em 2050 a população idosa chegará a 2 bilhões, o que representará um quinto das pessoas que habitarão o planeta.
No Brasil o panorama não é diferente. De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a expectativa de vida ao nascer no país em 2021 era de aproximadamente 76 anos para homens e 81 anos para mulheres. Já o Ministério da Saúde afirma que em 2030 o número de idosos ultrapassará o total de crianças entre zero e 14 anos.
Entre os fatores que contribuem para o aumento da longevidade no Brasil destacam-se a redução da mortalidade infantil, a melhoria das condições de saneamento básico, o acesso a medicamentos e tratamentos médicos, o aumento da conscientização sobre hábitos saudáveis e a diminuição do tabagismo.
É evidente que avanços na medicina têm sido particularmente significativos, com o desenvolvimento de novos tratamentos e terapias para doenças crônicas, bem como a prevenção e recursos medicamentosos para enfermidades infecciosas. A pesquisa também tem se concentrado em entender melhor os processos de envelhecimento e como retardá-los ou mitigá-los, resultando em novas terapias antienvelhecimento e outras intervenções.
Além disso, a nutrição desempenha um papel importante na longevidade, com uma maior conscientização sobre dietas saudáveis e equilibradas que podem reduzir o risco de doenças crônicas e promover a saúde em geral.
Vale destacar aqui que as melhorias nas condições socioeconômicas e na educação têm um efeito positivo para o avanço da idade. No entanto, apesar disso tudo, a longevidade ainda é influenciada por fatores genéticos e ambientais como estilo de vida, hábitos alimentares, exposição a poluentes, estresse entre outros.
Mas será que as pessoas estão vivendo mais com saúde e qualidade de vida?
Nesse sentido, as terapias celulares são um campo promissor na medicina para a longevidade com qualidade de vida, com o potencial de tratar uma variedade de doenças e condições. As células-tronco têm a capacidade de se diferenciar em muitos tipos de células no corpo, o que significa potencial para substituir células danificadas ou perdidas em tecidos e órgãos afetados por doenças.
Para ficar claro, devo explicar que existem dois tipos principais de células-tronco: as células-tronco embrionárias e as células-tronco adultas. Essas últimas podem ser as células-tronco mesenquimais ou as do cordão umbilical.
As células-tronco embrionárias são obtidas a partir de embriões humanos em estágios iniciais de desenvolvimento, com capacidade para se diferenciar em qualquer tipo de célula no corpo. Já as células-tronco adultas são encontradas em tecidos adultos, como a medula óssea, o sangue e o tecido adiposo, e têm um potencial ilimitado de diferenciação.
As células do cordão umbilical são consideradas adultas, embora tenham algumas diferenças em relação às células-tronco do mesmo tipo encontradas em outros tecidos do corpo humano. Com a coleta, feita do sangue do cordão e do tecido umbilical após o nascimento, elas podem ser armazenadas e usadas no futuro.
Já as células-tronco mesenquimais (CTMs) são do tipo adulta encontradas em muitos tecidos do corpo, incluindo o tecido adiposo, o osso, a medula óssea, os dentes e o palato (céu da boca). Elas têm a capacidade de se diferenciar em uma variedade de tipos celulares, incluindo células ósseas, cartilaginosas, adiposas e musculares.
Ainda contam com propriedades imunomoduladoras, o que significa que podem promover a resposta imunológica do corpo; liberam proteínas e outras moléculas que auxiliam na redução da inflamação e na reparação de tecidos danificados.
As CTMs atraem o interesse da medicina regenerativa e da terapia celular porque têm o potencial de serem usadas para tratar uma variedade de doenças e condições que podem ser decorrentes da idade avançada. São possíveis de serem isoladas e cultivadas em laboratório e empregadas em terapias autólogas, ou seja, colhidas a partir do próprio paciente e usadas para o tratamento sem risco de rejeição imunológica.
Já existem estudos avançados para uso no tratamento de várias condições, incluindo lesões na medula espinhal, doenças cardíacas, osteoartrite, enfermidades pulmonares e outras doenças inflamatórias e autoimunes. Claro que os estudos avançam exponencialmente, mas ainda há muito a ser realizado.
No entanto, o que a medicina regenerativa apresenta atualmente é promissor e considerado, além de revolução, uma esperança. Ter a capacidade para reparar e reconstruir tecidos sólidos do corpo humano faz das células-tronco mesenquimais uma promessa de mais longevidade com qualidade de vida às pessoas. Inúmeros estudos e ensaios clínicos são realizados no Brasil e no mundo com o objetivo de comprovar que é possível promover a cura e proporcionar mais qualidade de vida com as terapias celulares.
O Brasil está na vanguarda, já apresenta resultados motivantes vindos de cientistas, pesquisadores e instituições públicas e privadas que se empenham em analisar, estudar e processar as células-tronco mesenquimais encontradas no dente, tecido adiposo e no céu da boca (periósteo do palato).
Um exemplo é o trabalho da cirurgiã-dentista, pesquisadora e geneticista Daniela Bueno, que utiliza células-tronco para tratar fissura labiopalatina em crianças, uma malformação que acontece no início da gestação, entre a quarta e a décima segunda semana e pode acometer os lábios superiores e o palato (céu da boca).
A pesquisadora comprovou que a reconstrução, realizada em três fases, poderia ser menos dolorosa para a criança e ter um custo menor para o Sistema Único de Saúde – SUS já que a fase final do tratamento, que consiste na retirada de uma parte do osso da bacia, pode ser dispensada com o uso da terapia com infusão de célula-tronco mesenquimal da polpa do dente.
Outro destaque para o Brasil no uso das células-tronco como tratamento vem dos médicos Túlio Navarro, Alan Dardik, da pesquisadora Lara Lellis Minchillo e da bióloga Lucíola Barcelos.
O trabalho deles com as células-tronco adquiridas do tecido adiposo, elaborado por meio de uma parceria entre a Faculdade de Medicina da UFMG, a Universidade de Yale (EUA) e o Instituto de Ciências Biológicas (IBC), da UFMG, evitou, em 2019, pela primeira vez no mundo, a amputação de paciente de cirurgia vascular diabética.
O grupo foi pioneiro no uso de células-tronco no tratamento de pé diabético e isquemia de membro inferior no mundo. Já realizaram três procedimentos e, segundo eles, ainda não foram identificadas outras equipes de pesquisa que trabalham na mesma frente.
Diante desse cenário e das apostas promissoras para beneficiar a população de forma igualitária, nascem importantes parcerias pelo Brasil. São instituições privadas e públicas, educacionais e de saúde, que se unem em prol da ciência e do desenvolvimento. O desejo legítimo é contribuir significativamente e como vanguarda em saúde para o binômio longevidade com qualidade de vida associada. E que, efetivamente, esteja ao alcance da ciência, da clínica e da sociedade.
É importante difundir a possibilidade de armazenamento das células-tronco, já consideradas um medicamento biológico. E que elas estejam em condições de uso e em quantidades suficientes para atender ao tratamento das principais doenças agudo-degenerativas, respeitando as condições regulatória para tal.
Nesse sentido o Brasil avança, já que por meio da Resolução de Diretoria Colegiada (RDC) nº RDC 505/2021, elaborada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), foram definidas novas regras para registros de produtos classificados como terapias avançadas (produto de terapias celulares, de terapias gênicas e de engenharia tecidual), que garantem ao país a oportunidade e novas perspectivas de desenvolvimento na área.