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O abandono parental paterno mais uma vez escondido

* Por Rachel Serodio, Advogada

Em 28/07/2020 às 19:58:22

Em entrevista para um blog, o filho do ex-jogador Edmundo, Alexandre, expôs sua situação e revelou não se relacionar com o pai, cuja paternidade foi comprovada através de exame de DNA.

"Minha vida parece incomodar mais que o abandono paterno que eu vivi", afirmou na publicação.

A forma de lidar com a crise trouxe à tona uma prática comum do cotidiano mas silenciado e pouco conscientizando socialmente: o abandono parental paterno.

Historicamente, mulheres são as que mais se responsabilizam pelos cuidados com os filhos e até hoje a lei civil denomina os pais que não residem com eles de visitantes, reforçando a falta de responsabilidade e criando no imaginário de muitos a falácia de que quem paga pensão já cuida o suficiente o bastante, podendo desfrutar das visitas quinzenas para diversão e postar bastantes fotos nas redes sociais.

Na prática diária de advocacia familiarista e nas pesquisas acadêmicas, vejo genitores obrigando a prole a viver aquém de seu status cultural e social sob o argumento de que a praxe jurisprudencial de 20% (RJ) e 30% (outros estados) é o suficiente para a manutenção da vida digna de seus filhos, sem sequer ponderarem a (des) proporcionalidade de rendimentos com a genitora. Muitas vezes, quando acabam tendo outros filhos, os colocam em flagrante desigualdade afirmando que “se der um valor maior de pensão, a mãe vai usar pra ela”.

O dever de cuidado que também perpassa pelo afeto também decorre da necessidade de educação, deslocamentos, atividades extracurriculares, idas a médicos, tratamentos, gastos extraordinários como óculos, aparelhos, terapias, vestuário, lazer e tempo disponível para os cuidados. Muitas vezes, esse tempo de cuidado precisa ser terceirizado e adivinhem que é geralmente cuida desses filhos?

Uma babá. Mulher. Muitas vezes mãe.

Essas mulheres em grande parte são as responsáveis financeiramente pelas suas famílias e alguns de seus filhos, o pai sequer registrou.

Por serem limitadas desproporcionalmente aos cuidados da prole, suas ou de outrem, mulheres são impedidas de progredir profissionalmente e, consequentemente, financeiramente.

É urgente trazer para o centro do debate político do país a opressão social que o abandono parental paterno causa e a consequências desastrosas, não só para os filhos, mas também para as mães.

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