Eu nasci e cresci em Petrópolis, tendo me mudado com a minha família em 6 de janeiro de 1989, poucos dias antes de completar 16 anos, para Niterói, onde morei por 30 anos. Hoje, moro no Rio de Janeiro. Vejo com dor no coração esta tragédia na minha cidade natal, mais uma vez provocada por uma forte chuva. Tenho uma sensação de dejá-vu. Eu passei toda a minha infância e adolescência vendo a cidade sofrer com enchentes, que aconteciam principalmente durante o verão.
Quando eu tinha cinco anos, durante uma madrugada com chuva muito forte, a casa de madeira onde eu morava com a minha família no bairro do Castrioto, que ficava em uma pequena elevação, desabou e tivemos que sair de lá às pressas, carregando algumas mudas de roupa. Perdemos muita coisa. Passamos a noite na casa de um vizinho e, depois, fomos morar por um tempo na casa de um tio.
Quando eu tinha entre 13 e 14 anos, lembro de uma enchente no centro da cidade. Na ocasião, eu estava no trabalho de minha mãe e ficamos presos lá, sem ter como voltar para casa. A Rua do Imperador, principal via do centro, havia virado um rio. No final de dezembro de 1987, outra chuva forte, até então, a pior da história. Todas as regiões da cidade foram destruídas pelas chuvas. O município ficou isolado do resto do mundo. Os telefones não funcionavam. A cidade ficou sem luz elétrica em boa parte. Na ocasião, ainda não tinha sido inventado o telefone celular. Eu lembro que o município recebeu doações de todo o país e de diversos países do mundo.
Adivinhem o que fez o então prefeito de Petrópolis, Paulo Rattes? Ele guardou boa parte dos donativos e só os distribuiu durante a campanha eleitoral para beneficiar o seu candidato! Felizmente, ele perdeu a eleição. Isso se tornou recorrente na história do município. Autoridades e políticos, diante da tragédia, fazem uma cara triste e prometem ajuda. Anunciam que vão doar uma bela quantia e dizem outras promessas. Mas nada se cumpre. Não são tomadas medidas efetivas para evitar novas tragédias.
Eu vi a repetição do filme durante as enchentes de janeiro de 2011. Centenas de desabrigados e de mortos. Diante do cenário de destruição, vi as autoridades da época prometerem mundos e fundos para investimentos em obras de contenção de encostas e construção de moradias populares. Eu me pergunto: o que foi feito? Pois agora, a história se repete. O número de mortos não para de subir e o caos é tanto que a Defesa Civil ainda não conseguiu estimar o número de desabrigados.
Eu fico feliz com as mobilizações de diversas entidades, inclusive de outras cidades do estado do Rio e do país, para ajudar a minha amada Petrópolis. Espero que tudo chegue às mãos de quem realmente precisa e que os investimentos necessários sejam feitos para evitar uma nova tragédia.