“Todo mundo é tóxico, menos você, lírio virgem do vale não semeado”. Essa frase que virou meme nas redes sociais no final de 2019 e foi eternizada como um dos embaixadores da chamada cultura do cancelamento. Mas afinal, o que é isso?
A cultura do cancelamento diz respeito a atitudes dentro de uma comunidade que pedem ou provocam a interrupção do apoio a atores, políticos, músicos, influenciadores digitais ou qualquer outra figura pública, geralmente em resposta a algum tipo de postura considerada condenável, ofensiva ou preconceituosa. É um boicote sócio-digital. O objetivo é a excomunhão desta pessoa.
Em 2019, o funkeiro MC Gui foi cancelado após postar um vídeo no Instagram no qual ri de uma criança, gravado em uma viagem à Disney. No vídeo, que foi apagado, a menina está visivelmente incomodada. Acusado de bullying nas redes sociais, o artista teve contrato e shows (literalmente) cancelados e publicou um vídeo de desculpas. Em contrapartida, porém, ganhou milhares de seguidores durante a polêmica.
Mais recentemente, a digital influencer Bianca Andrade (Boca Rosa), foi cancelada por ter se posicionado a favor de alguns homens no Big Brother Brasil após comentários machistas. Houve um movimento para parar de segui-la no Instagram, sua principal rede social. De fato, Bianca perdeu seguidores ao longo do movimento: caiu de 9.6 milhões para 9,1 milhões. Ela, no entanto, rapidamente recuperou e superou esse número. Hoje, em março de 2020, ela conta com 10,3 milhões de seguidores.
Criticar efetivamente pessoas que cometem um ato transgressor é uma tática importante para alcançar a justiça. Mas a maior parte da vergonha pública é horizontal e é feita por aqueles que acreditam ter maior integridade ou análises mais sofisticadas. Eles se tornam os guardiões auto-nomeados da pureza política.
Mas funciona? Sinceramente, não e o tiro sai pela culatra. Na internet ser cancelado só é bom para a sua carreira. Isso geralmente resulta em viral, o que é um padrão bom no mundo quebrado de hoje. Isso faz com que seus fãs te ofendam com mais força e faz com que mais pessoas tenham uma opinião sua, o que geralmente é bom porque isso resulta em mais seguidores.
A cultura do cancelamento é uma banalização do protesto e diametralmente oposta à crítica, ambos os quais os sistemas democráticos precisam. Ela procura destruir e banir todos aqueles que discordam de alguma nova diretriz.
Critique. Não cancele.