Maracanã

Passo por ti e te encontro com a mesma imensidão. Gigante de concreto, palco atual de jogos sem torcida, modificado, sem pedir, para o "Padrão FIFA". Reflito sobre isto e penso: como tudo mudou! O meu Maraca era bem outro: as vozes de Jorge Curi e sua emoção; Waldir Amaral e seus bordões e, mais para frente, Januário de Oliveira. Como esquecer: "estão desfraldadas as bandeiras"... "choveu na horta".... ou, "tem peixe na rede"... "índivíduo competente"..., "nove é a camisa dele"; "táa lá um corpo estendido no chão"... "cruel, muito cruel".

Domingo à tarde, não tinha jeito, era dia de futebol. Saía-se duas horas antes de casa e o Maraca já fervilhava. O ponto de encontro era no Bellini e aí subia-se a rampa, acessava-se as entradas "mágicas" e você estava no espetáculo. Com o campo ao fundo, de qualquer entrada, vê- se todo o anel do Maracanã. A arquibancada viva, estridula, entoando seus cânticos, puxado pelas torcidas organizadas. A geral, amontoada, de pé, a esperar os seus ídolos.

A hora do jogo aproxima-se: bandeiras a meio-pau e , de repente, o Maraca explode num misto de cores: vermelho, preto, branco, verde, o pó de arroz tricolor; o Maraca pulsa e ecoa sua felicidade. São outros tempos. Todo torcedor sabia o nome de seus ídolos que não estavam no exterior ou eram do exterior. Ninguém falava Messi, Cristiano Ronaldo, Lewandowski, mas, sim, Zico, Roberto Dinamite, Rivelino, Assis e Washigton, o casal 20 tricolor. Os craques não vinham transmitidos pela TV, mas ao vivo para todo mundo ver. E todos sabiam escalar de cor os seus times. Fala sério...Alguém hoje sabe?

O futebol mudou. O Maraca acompanhou. Jaz agora no mesmo endereço. “Rest in peace”.