Quem sempre foi fã dos livros de RR Martins, esperou 20 anos para saber os destinos finais dos personagens de Game of Thrones. E ficaram decepcionados. O mesmo aconteceu na expectativa de o que seria a manifestação de apoio ao presidente. Se desenhou um grande racha na direita durante a semana e grandes nomes, disseram que iam boicotar a marcha e levariam consigo, seus seguidores. O próprio presidente chegou a falar que não iria com medo de um grande fracasso. De fato, o racha dos Olavetes, Bolsonaristas, MBL e conservadores foi sentida em cada manifestação pelo país. Se eliminar Rio de Janeiro e São Paulo, os Estados mais conservadores, apenas 14 cidades do país inteiro tiveram manifestações a favor do Bolsonaro. QUATORZE cidades em 23 Estados.
No caso de GOT, os roteiristas assumiram um recurso comum para a televisão, bancada por Benioff e Weiss, que agiram como plotters. Eles sabiam qual era o final que queriam e começaram a escrever a saga de trás para frente. Já se sabia que seria agridoce o final. O mesmo não podemos falar sobre as manifestações de domingo. Apesar de uma segunda rodada de manifestações a favor da educação acontecerem essa semana ainda, não se sabe como será a reação do governo, com esse apoio no congresso. Com a saída de apoios importantes no centro, da direita e extrema-direita, as votações importantes poderiam ser pensadas a partir desse fato e como explorada pela mídia no fim de semana.
Parecia que tinha mais gente indo para o show do BTS do que para a manifestação pró-Bolsonaro. Gente que acampou na frente do estádio por três meses. Isso é impressionante. Mais importante falar do que a baixa adesão, ou das pautas pedidas contra a própria democracia e contra o congresso e STF, é o fôlego que Bolsonaro teve. Ele ainda não está morto. Se os próprios Bolsonaristas estavam ausentes nas discussões nas redes sociais, com aquele ódio costumaz, desta vez se sentiram representados e exaltaram a força das manifestações nas duas grandes capitais. Milhões de brasileiros ainda acreditam no mito, mesmo dando todas as provas de incapacidade e de confusão para governar. É infantilidade achar, que pessoas que votaram na extrema-direita iriam se tornar de esquerda de uma hora para outra? Havia dúvidas que haveria manifestação mesmo com o racha?
A outra dúvida é em relação ao tempo de exposição. No caso de Game of Thrones, foram oito anos de séria, que ousou em efeitos visuais, cenas de sexo e personagens interessantes. Você pode lembrar de situações como o nascimento dos Dragões de Daenerys, a Batalha da Água Negra e a Morte do Jon Snow e torcer pelo seu personagem preferido nesse tempo todo. A decepção, por uma série que foi aos extremos e que somente o melhor seria o dono do trono foi grande. No caso das manifestações, um processo também de “volta aos trilhos do Brasil”, “Fora esquerda”, levou mais de uma década e contou com o clima mundial de volta da extrema-direita, principalmente do líder da maior potência do planeta, que tem a mesma verve e filho de um extremista de direita. Não vai ser fácil reverter os direitos humanos e direitos dos trabalhadores. Será também gradual e lenta. Alguns falaram que perdemos o ano, eu diria que perdemos uma década no mínimo. No meu bolão, onde apostei em queda em seis meses, estou prestes a perder, mas o impacto de ontem ainda será sentido.
O mal da classe média é achar que o principal problema do país é a questão moral: a corrupção. Isso vende jornal e forma a opinião. Nosso maior problema é a DESIGUALDADE SOCIAL. O ideal seria que a opinião fosse mais esclarecida para que fosse possível lutar pelo que realmente importa: direitos iguais para todos! Mas nesse momento, estamos presos a torcidas de futebol.
A boa notícia é que os destinos dos personagens da saga Songs of winds and fires ainda podem ser escritas e consertar logo esse clima de desconforto. Já a nossa situação política, ainda vai precisar de muitos anos