Caro excelentíssimo Senhor Vice-presidente, Sr. Antônio Hamilton Martins Mourão,
Venho por meio desta, relatar minha profunda indignação, quanto a frase dita: 'No Brasil não existe racismo’. Não sei se é costume de anos falando ela, onde desde a ditadura militar, que muitos outros abusavam desta frase, enquanto torturavam nos porões do DOI-CODI. Pode ter sido falada de nervoso com todos os fatos acontecendo diante de todos. Ou até, que me custa a acreditar, um desconhecimento sobre os fatos na nossa terrinha. Mas devemos falar sobre esse problema abertamente, pois ele é real. No Brasil existe racismo!
Aliás, não só existe racismo, como todo tipo de discriminação as minorias. Na verdade, temos um país que cultiva as diferenças entre ricos e pobres e gosta disso. Não se pode falar em bolha. Ele está impregnado em todos os lugares. A advogada Lidiane Brandão Biezok, demonstrou bem esse padrão, onde humilhou com ataques homofóbicos e racistas, clientes de uma padaria. Depois da cena, colocou a culpa na bipolaridade. Sabe aquela história que falei sem pensar? Pois é. Na verdade, não existe. Está tudo no subconsciente, bastando um momento para falar. Aquele que é racista e tenta não se exibir racista, em algum momento comete o deslize de demonstrar isso, por que está na essência dele.
Quando ouço a palavra Agente da Lei, deveria pensar naquele profissional compromissado com a segurança de todo e qualquer cidadão na sociedade. Aquele que recorremos quando estamos com algum problema mais grave. As pesquisas mostram que a maioria das pessoas teme a ação desses agentes com a mesma intensidade que temos com bandidos. Você pode lembrar dos milicianos na zona oeste do Rio de Janeiro, pode lembrar das impunidades quando o capitão da Polícia Militar Rodrigo Boaventura arrasta mulher com a viatura e é promovido a um cargo maior ou até de relação ao caso do cabo da Polícia Militar, Rodrigo da Silva das Neves, um dos quatro homens que executou Fernando Iggnácio, ex-genro e herdeiro de Castor de Andrade. A lista é imensa.
Mas o mais chocante é o caso do assassinato no senhor João Alberto, negro, pelos agentes de segurança do Carrefour, com requintes de crueldade, racismo, desproporcionalidade, na véspera do Dia da Consciência Negra. O caso do nosso Floyd é muito assustador. Não é um caso isolado. Só a rede Carrefour, esteve envolvida, em menos de 3 anos, com casos como que matou um cachorro, um funcionário morreu e esconderam o corpo com guarda-sóis, um cliente apanha acusado de roubar o próprio carro, um funcionário é demitido e sofre racismo e agora, um homem negro é espancado até a morte. Pode-se apontar a rede como racista. Mas temos uma elite, que se acha superior a todas as pessoas. Como na época da escravidão. Por isso, que a Fundação Palmares é importante para apontar os problemas junto ao governo e não fazer o papel que faz atualmente. Será que é por isso, que os casos de racismo não chegam ao senhor? Problemas com a comunicação interna?
A cada 23 minuto morre um jovem negro. Quantos George Floyd morreram no anonimato? Espero que entenda, que não existe democracia com racismo. Opressão vem de regimes autoritários e ditatoriais. Acho que o senhor não quer se enquadrar nesse tópico. Ou quer? Ou não quer nem saber? Mas se não quer saber, eu quero saber. Quando foi implantada a República, o regime que estamos, não queríamos deixar o império, mas sim a escravidão. Mesmo que imaginando que era um regime ultrapassado para os mais ricos e poderosos, mas o capitalismo precisava que esses escravos tivessem renda para comprar seus produtos, e nem por isso se preocupavam com a humanidade da situação. Basta ver o comércio de negros publicadas em jornais da época.
Por fim, Senhor Vice-Presidente, nossa esperança é que respeitem a história de lutas desse país e que se comprometa com um país mais justo.
Assinado: Povo Brasileiro.