Faz parte da nossa resignação ao amoralismo da política brasileira, ou melhor, de certa camada de políticos antigos do Brasil, essa urgência nos julgamentos morais, feitos principalmente pela classe média e elite coronelista do país. Tínhamos uma estirpe de políticos que não se importavam nem que seu nome fosse jogado na lama, pois tempos depois dessa fama se alastrar, conseguia capitanear o sucesso em uma próxima eleição. Vide Collor. Mas hoje, somos seres mais evoluídos. Hoje, temos certa canja de maus políticos, entendemos do riscado e parecia que não queríamos mais determinados fazeres em Brasília. Ledo engano. Com o presidente, parece que a população tolera tudo que antes era tido como péssimo. E chegamos ao fundo do poço, quando o medo da CPI da COVID, leva ao presidente para ligar aos senadores para fazer acordo.
O Palácio do Planalto pressiona senadores para ampliar escopo da CPI, para tirar foco dos inúmeros crimes do governo federal. O senador Kajuru publicou ligação dele com Bolsonaro, que lhe pediu para "fazer do limão uma limonada". A bandalheira é generalizada. A documentação é extensão desde o famigerado “É só uma gripezinha!”. Você consegue listar de cabeça, inúmeros crimes que com certeza serão listados pela CPI, que, aliás, é urgente. E não se trata de revanchismo, mesmo sabendo que o presidente, maior recordista de pedidos de impeachment da história, tem sim responsabilidade. O problema de achar que esse dia jamais chegaria, é que seus rastros estão devidamente documentados. Tanto em vídeo, escrito, depoimentos e etc.
O fato da CPI é o seguinte: “Apurar as ações e omissões do governo federal no enfrentamento da pandemia da Covid-19 no Brasil e, em especial, no agravamento da crise sanitária no Amazonas com a ausência de oxigênio para os pacientes internados”. Você claramente tem o retardamento de compras de vacinas que foram oferecidas e recusadas pelo governo, por questões ideológicas. Nossa melhor aposta foi a Coronavac, trabalhada pelo Instituto Butantã, que apenas foi adiante porque existe a disputa política entre Dória e Bolsonaro. Tudo documentado com as agencias internacionais de venda dos imunizantes corroborando a versão de omissão. E a negligência de Pazuello no enfrentamento ou o não enfrentamento da crise no Amazonas, tentando oferecer (E o que faz até hoje, tentando escoar milhões em tratamento precoce) Cloroquina e outros medicamentos ineficazes para o Estado.
O que é mais reprovável? Evidente que a resposta seria a omissão nas mortes de brasileiros que poderiam ser evitadas, com cidades mostrando que lockdown e vacinação em massa é a resposta, zerando o número de internações. E para evitar essas evidencias contundentes, o presidente fala mais de uma vez sobre a necessidade do contra-ataque ao STF. O que ele já falava tempos atrás em relação a esticar a corda. O que o presidente via como a possibilidade mais real de impeachment acontecer, tenta articular com a ala militar mais da extrema direita, antigos militares e conservadores, uma ajuda para essa pressão. O que foi por água abaixo com a declaração dos ministros militares sobre democracia. Uma abertura de impeachment de ministros do STF pode segurar CPI da Covid é avaliada como alternativa para se esquivar mais uma vez de suas responsabilidades.
Somos hoje, o país do golpe. Enquanto a América Latina se livre desses golpistas, somos a latrina do mundo, criando uma ilusão falsa que somos um país livre e alegre. Nada mais profundo do que ilusões falsas.