O Batman de Matt Reeves está quebrando recordes de bilheteria, mesmo com suas quase três horas de filme. A boa escolha de trazer o Batman do Ano Um de Frank Miller e David Mazzucchelli conquistou a todos e desconsidera a gordura em algumas cenas de ação. Por que o filme do morcego sempre tem uma boa perspectiva de acertar, enquanto outros filmes da DC Comics não? A despeito dos fãs, que sempre pressionam por um bom trabalho, temos diretores que também cresceram como fãs dos quadrinhos ou fãs da cultura pop envolvendo o personagem. Com isso, desde a adaptação do homem-morcego de 1943, com Lewis Wilson na pele do herói, Lambert Hillyer tinha a seu favor a colaboração de Bob Kane, mas como ponto contrário os problemas do cinema daquela época.
Mas a base do trabalho de Kane estava lançada para a grande telona. O filme de Matt Reeves resgata esse clima da publicação do heroi publicado pela Detective Comics, com vilões mafiosos, tendo mais tempo para desenvolvimento da solução dos crimes e um heroi mais possível, de acordo com a realidade. Nos anos sessenta tivemos um Batman mais colorido e, de acordo com a época de lisérgicas, com um heroi mais espalhafatoso e uma trilha sonora impecável de Neal Hefti, que sempre traz nostalgia. A partir da década de 80 temos uma reconquista da franquia do personagem levando elementos cada vez mais sérios, como o Batman de Tim Burton, passando por Christopher Nolan, até o recente de Matt Reeves.
A galeria de vilões também acompanha essa melhora de roteiro e filmagem do heroi encapuzado. Sempre escalam grandes atores para dar mais vida ao filme, já que pouco se pode pedir para os atores de Batman, que apresentam um heroi atormentado, sério e com poucas emoções. Temos o Pinguim, que nasceu mafioso, que eram os bandidos mais comuns nos Estados Unidos. Já na década de 60 teve um ar mais espirituoso e cômico, salvo pela atuação excelente de Burgress Meredith. A adaptação de Tim Burton coloca o vilão com uma postura de animador, colocando sua origem deformada e transformando Danny DeVito em um ícone pop. Finalmente, temos Robin Lord Taylor do seriado Gothan colocando o personagem mais "pé no chão". O Oswald Cobblepot de Reeves é o Pinguim da Detective Comics, com a maravilhosa atuação de Colin Farrell, que deve ganhar uma série própria.
O romance com a Mulher-Gato e sua relação bissexual está em um contexto moderno, porém colocam sob uma perspectiva muito nebulosa para não afastar muitos cinéfilos conservadores. Mas merece ter sua participação mais bem abordada. Apesar de termos mulheres à altura ao longo do tempo, como Anne Hathaway, Michelle Pfeiffer, Halle Berry, Julie Newmar e Eartha Kitt, Zoë Kravitz imprime força feminina no personagem.
Finalmente o Charada, que é um vilão com capacidade estrategista ao quadrado, dando ao mesmo tempo pistas propositais de suas atividades para jogar com a polícia de Gothan e, principalmente, o Batman. Sua caracterização sempre deixava a desejar, se tornando um personagem mais para um "clown" do que para um gênio do crime. Basta ver que, apesar das participações de Jim Carrey, Cory Michael Smith e Frank Gors, o personagem não consegue dar um ar louco e intelectual ao mesmo tempo. Paul Dano e sua caracterização conseguem resgatar a ideia original do personagem que compete em loucura com o mais icônico de todos: o Coringa.
Todo clima de Batman, a música e a edição dão conta desse feixe de mistério, recolocando o personagem como detetive, colocando nervosismo ao personagem que, em outros filmes, é sempre seguro nas ações, levando a uma salva de palmas a Robert Pattinson que, além de fazer esse heroi sofrido, nos leva a querer ver mais sobre Bruce Wayne. O tamanho da riqueza herdada pelo rapaz poderia realmente melhorar as condições bem distribuídas socialmente com muito menos esforço e violência, porém como ser de esquerda não é importante ao filme, temos de ter um mundo capitalista, com problemas sociais e sistema corrupto, tendo a polícia como apenas um executor para proteção dos mais ricos. Uma triste realidade em que estamos inseridos nos dias de hoje. Eu não sei quem está por trás dessa máscara, mas sei que precisamos dele, e AGORA!