Os dois ponteiros indicam que a vida é agora

Escrevo esse texto no ônibus. São sete da manhã, é sábado, e eu estou atrasada para o trabalho. Algumas tarefas de casa ficaram por fazer, o treino na academia essa semana foi "meia boca", não tomei café por pura preguiça de fazê-lo, quase não pude dar atenção para o meu gato, mas acho que isso não foi um problema para ele. Algumas tarefas da faculdade precisaram ficar para depois. Mais uma vez atrasada.

Lembro de quando eu me sentia atrasada por ainda não ter sido aprovada no vestibular para a universidade pública, enquanto alguns amigos já estavam até se formando na particular. O meu sonho era diferente, então por que eu me comparava com o outro? E agora, no terceiro período da minha gradução em Letras na universidade dos meus sonhos, por que ainda me sinto atrasada? Quando me formar ainda me sentirei atrasada.

No fone, enquanto observo o engarrafamento da Cidade Maravilhosa pela janela, escuto ‘’Manifesto’’, da banda Fresno. Analiso a letra: ‘’a gente finge que vive até o dia de morrer e espera a hora da morte pra se arrepender de tudo’’. E não é que fazemos isso mesmo? Vivemos no automático, já reparou? Por que sentimos a todo momento que estamos tão atrasados? A gente corre pra que? Estou atrasada em relação a quem? Por que somos incapazes de viver o hoje, se o hoje é a nossa versão mais jovem possível e o agora é o único momento que temos?

É segunda-feira e você acorda cansado, mas precisa trabalhar. Sabe que pegará o transporte público lotado e lidará com um público mal educado, mas aí você abre uma rede social qualquer e alguém publicou que, às cinco da manhã, já estava concluindo o treino e sendo feliz com sua saladinha. Ah, e lendo o terceiro livro do mês! Você sente que está fazendo errado. Que a sua rotina não é a ideal. Claro, nos recortes publicados na internet todo mundo parece ser mais produtivo do que você.

É clichê, mas anota aí: você não está atrasado, está exatamente onde deveria estar! Em muitos momentos do meu livro ‘’Cartas de uma Garota Aleatória’’, eu falei sobre a prática da meditação e outras formas de autocuidado no dia a dia. Se, naquela época, eu soubesse a loucura que são os vinte e poucos anos, talvez não diria com facilidade nada daquilo. Ou diria?

Aos vinte e poucos, só sabemos sentir que estamos ficando para trás, não é? Você olha ao redor e nota que pessoas que fizeram colégio com você, hoje estão casando, tendo filhos, viajando pelo mundo, começando um mestrado e, por um longo período, esquecemos de olhar para dentro e nos parabenizarmos por cada etapa realizada. Quem está seguindo o roteiro mais correto da vida? Quem está totalmente realizado? Por que achamos que o caminho do outro é o ideal e desvalorizamos a nossa própria caminhada? Talvez você nem queira casar ou ter filhos, nem queira se formar agora. Quem está certo e quem está errado? Eu não sei. Acho que certo está quem simplesmente vive um dia de cada vez, se é que alguém consegue fazer isso...

Uma vez, eu li em algum lugar que a gente passa a vida gastando saúde para conseguir dinheiro para, no futuro, gastar dinheiro para recuperar a saúde. Mas ninguém pode nos garantir que o futuro existirá.

Então, sim, vamos incluir o autocuidado em nossa rotina, esse é o melhor investimento que podemos fazer! Cuidar de nós mesmos é a fórmula. E quando digo "cuidar", é sobre se orgulhar de cada passo que você dá, se parabenizar pelas conquistas, desde as mais simples, respeitar seu tempo e seu espaço, ouvir o seu coração, dedicar um tempo a você, se priorizar (e não tem nada de egoísta nisso), não comparar o seu estilo de vida com o dos outros, se cobrar menos... Se puder meditar e fazer uma caminhada seria incrível mas tudo bem se não conseguir também. Apenas olhe mais para dentro e sinta orgulho do que você constrói a cada dia. É de degrau em degrau que chegamos ao topo!

Termino esse texto agora, madrugada de terça-feira, em casa. Me atrasei de novo.

Até o próximo texto!

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