Já faz tempo que vejo o mundo como um grande quebra-cabeça, com todas as peças encaixadas – exceto uma. E, adivinhe, essa peça sou eu. É aquela sensação familiar de ser um "peixe fora d’água", sabe? Me sinto uma turista na minha própria vida. Mas não qualquer turista, e sim um tipo peculiar, que observa de longe e caminha com passos hesitantes, como se estivesse sempre na borda da festa, à espera de um convite para realmente entrar.
Ser peça solta tem seu lado cômico: você se torna um especialista em camuflagem social. Aprende a sorrir nas horas certas, a rir das piadas, a concordar com o que todo mundo acha óbvio, só para não parecer tão fora de sintonia. Mas – por vezes – bate um desespero: talvez o sorriso saia meio torto, talvez a risada pareça um pouco exagerada, talvez a gente faça um comentário errado na hora errada.
A gente espera uma "deixa" para manifestar uma fala que ficou sendo planejada na mente e quando ocorre, parece não coesa. Você tenta fazer parte do assunto mas, às vezes, percebe que a diversão com coisas banais parece exorbitante, e o senso comum é, no mínimo, duvidoso. É como estar em um espetáculo onde todos conhecem o roteiro, menos você. Então, o que fazer? Ficar em silêncio, dar um sorriso educado e fingir que entende. Rir ainda que sem saber exatamente o porquê.
Notamos que as pessoas seguem suas rotinas tão firmemente, portando escolhas tão seguras, papéis tão bem interpretados, que começamos a questionar se está faltando alguma aula sobre "como fazer parte". É como se todos fizessem uma espécie de manual secreto para o tal "pertencimento" – e a gente perdesse esse aulão preparatório. Uma pena.
Não irei só lamentar – encontro a graça da coisa quando me deparo com outros não-encaixados. Não aqueles que também tentam dançar no ritmo, mas os que dançam de qualquer jeito, ou melhor, do seu jeito próprio. Você olha e pensa: "ah, então não sou só eu!" A gente simplesmente compartilha o desconforto, mesmo que por alguns instantes, sentindo-se, paradoxalmente, mais encaixado naquele instantâneo desajuste.
Mas há dias em que a solidão bate. A ansiedade e o medo dão as mãos na missão de te torturar com a ideia de que há algo muito errado com você. De vez em quando, a gente só quer ser "normal" e igual a todo mundo, mas, de um jeito ou de outro, você já fez as pazes com isso. Ser uma peça solta te dá uma perspectiva exclusiva – a de poder enxergar de fora, de ver o desenho completo e, quem sabe, encontrar beleza até mesmo nas imperfeições.
No fim das contas, quem é que define o que significa se encaixar? Talvez uma peça solta seja apenas um jeito diferente de compor o todo, uma maneira de existir fora do molde, mas dentro de si. É ser parte, mas não no lugar esperado. E isso é incrível! É pertencer, mas algo que só você vê. Então, vamos dançar! Quebrados, mas à vontade. Quem sabe, o segredo está em aprender a ser feliz sendo uma peça que sobra, uma peça que não se encaixa – e, por isso mesmo, uma peça única.
Até o próximo texto!
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