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"Pequena Dança Para Mulheres Que Voam": a força feminina num espetáculo

Olhar Teatral, Por Paty Lopes, Crítica Teatral

Em 26/12/2023 às 14:24:28

Tivemos um ano de recomeço. A cultura fervilhando, com surpresas boas e obras maravilhosas, como a da Cia Armazém e Amok, sem contar a Cia Artesanal, que - depois da pandemia - brilhou com o seu espetáculo infantil "Azul", no Centro Cultural Banco do Brasil, com ingressos esgotados em quatro estados, mostrando que o teatro pulsa, com plateias lotadas.

O ator Jopa, da Armazém, e Sirléia Aleixo, da Amok, bateram um bolão no palco, mostrando a força do artista do teatro carioca. Vimos Rose Abdallah defendendo as mulheres com maestria, cheia de vida e fechando o ano no Nós do Morro, espaço cultural acolhido pela comunidade do Vidigal.

Tivemos indígena no palco do CCBB, mostrando o avanço do nosso povo originário. Que cheguem mais! Assistimos negros com alta representatividade, principalmente com o espetáculo Nem Todo Filho Vinga da Maré, sob a direção de Renata Tavares, que levou o Prêmio Shell, o mais importante do teatro.

Vimos os meninos do teatro documental apresentando a Sandra Sá num espetáculo alegre e contagiante.

Tivemos nossas histórias recontadas, como a do Museu Nacional no Teatro Riachuelo. Vimos Lecy Brandão sendo homenageada, merecidamente. Enquanto Você Voava eu Criava Raízes, da linda Cia dos Adeux. Foi um ano cheio de emoção. Um dos espetáculos que não posso deixar de mencionar é Julio Cesar, por carregar estrelas de altíssimo nível teatral, veteranos que merecem estar no palco sempre!

Vi o Nordeste aqui, abrilhantando e nos fazendo rir com o UBU, no Sesc Tijuca. Assisti o negro Wanderley Gomes sendo premiado pela segunda vez com o Prêmio Shell por seu belíssimo trabalho como figurinista. O teatro a favor da periferia: a Cia Cerne deixou de ser somente uma companhia de teatro, transformou-se num instituto, com cursos para esta parte da sociedade tão esquecida.

Quase no final do ano tive a sorte de assistir Temperos de Frida e Funny Girl, potentes e delicados. Oportunamente, assisti Pierrô do Meier, que chancelou a ideia que um monólogo, quando bem executado, se faz prazeroso. Esses espetáculos me desmontaram. Helena Blavastick, com os amados Beth e Luis, um espetáculo que - mesmo sem patrocínio - mostrou ser possível na execução.

Pude ser feliz com Fernando Philbert e seu "fazer teatro" com Isabel das Santas Virgens e Todas as Coisas Maravilhosas!

Foi um ano punk, muita coisa boa.

O teatro de rua, tão bem representado pela Cia Dominó, que defende o teatro para todos, com palco sem cadeiras e sem ar-condicionado!

Sem contar o Bob Esponja, uma super produção que mostrou o Brasil é capacitado a montar qualquer peça ou musical que venha da Broadway.

Não estamos fazendo uma "Cerimônia do Adeus", um espetáculo lindíssimo, mas sim nos despedindo de 2023.

Este ano perdemos dois grandes nomes do teatro, Zé Celso e Aderbal Filho. Eles deixaram seus legados para que os demais artistas continuem atuando com a mesma sabedoria e o amor genuíno que eles ensinaram ter pelo teatro.

Vimos remontagens como Elis e Vestido de Noiva, do eterno Nelson Rodrigues - ele que mudou a história do teatro brasileiro. Presenciamos novos dramaturgos voando alto, como Adalberto Neto, em um trabalho belíssimo: A Fabulosa Fábrica de Música. Vi os artistas Rodrigo Simas e Clay Nascimento com monólogos potentes. E também Outras Marias, com Clara Santana, nos representando, trazendo mulheres que merecem nossa reverência. Falando em atriz, como esquecer Rosane Stravis em sua Aforista? Poderosa!

Vi Longa Jornada Noite Adentro, do Sérgio Modena.

E a Cia Os Ciclomáticos, de um lado para o outro, mostrando a força da nossa periferia e nosso folclore em todo país. Falando em periférico, tem Alexandre com seu Ricardo III. Além de ganhar o Prêmio Shell, tomou uns goles de coragem e partiu para São Paulo com seu Shakespeare. Ou seja, a essência do Rio de Janeiro abriu portas com obras precisas.

Realizei sonhos: vi Pilar, espetáculo infantil que lotou o teatro, mostrando como deve ser feita uma peça para os pequenos.

Vi Circo Dux e também o Erê, de Junior Dantas, também enchendo as cadeiras do Sesc Tijuca com a plateia do futuro.

O ano foi positivo, embora tenhamos perdido tanta gente boa, mas faz parte da vida.

Eu tenho sorte em poder estar perto desses artistas de teatro, que me ensinam tanto, me fizeram viajar o mundo sem sair do lugar. Eles me fazem sorrir, chorar e até sonhar acordada. Foi o caso de Kafka e a Boneca Viajante, do produtor e idealizador Felipe Heráclito.

Do lúdico ao não lúdico, muitas vezes fui impactada por fazedores de teatro. Vi artistas imensos, jovens, veteranos, todos com a mesma missão de mudar o mundo. Vi os cabarés do Amir Haddad, do Galpão (MG) e da Ave Lola (PR), mostrando que o teatro vai até onde for necessário ir.

Tive a oportunidade de ver homossexuais em palcos importantes no Rio, com temas necessários, transformistas e negros gays sendo protagonistas. Vi o artista Gilberto Gawronski em plenitude, rindo de um lado para o outro, atuando com toda liberdade necessária, feliz da vida! Assim como Vera Holtz, que esqueceu da idade e partiu voando de um lado para o outro com seus prêmios e trabalhos! Que ano mais desbravador que tivemos, hein?

Pude presenciar o espetáculo Descobridor das Américas completando a maior idade. Merece todo o reconhecimento: são anos que Júlio Adrião defende sua criação!

Foi um ano lindo. Vou fechar as críticas com um espetáculo que trouxe jovens e não tão jovens no palco do Parque Lage. Uma peça que fala sobre a força das mulheres e tudo que elas atravessaram desde o mais remoto tempo. Desta oficina grandes artistas só não chegarão à ribalta os que não quiserem!

Assisti ao espetáculo Pequena Dança Para Mulheres Que Voam, onde a arte acolhia músicas eruditas e mímicas. Tudo isso sob a direção do grandioso Hamilton Vaz, do lendário Asdrúbal Trouxe o Trombone.

Um espetáculo que se fez sem patrocínio como resultado da oficina proposta. Esta deixou a plateia calada, atenta a cada história contada. A arte de fazer teatro exige ensaios, criatividade e como isso pode ser executado sem o fomento? É preciso coragem, fé e, claro, as bençãos dos deuses do teatro.

Eles pareciam entender que seria minha última costura textual de 2023, porque o espetáculo finaliza na piscina do parque, onde aconteceu também uma gravação de Macunaíma.

Fui convidada pelo assistente de produção Marco Americano, que muito tem me ensinado sobre as artes cênicas.

O frescor deles que estão chegando nos revelou muito a essência de cada um dos artistas. A identidade de cada um deles, tudo muito incontido, uma fonte de vontade de fazer acontecer. O espetáculo com essas sensações torna-se uma obra sem freios, onde atrizes defendem o feminino, tão importante atualmente, já que chegamos a índices altíssimos de crimes como o feminicídio.

Na simplicidade fez se um espetáculo com inúmeros artistas, o que hoje é tão difícil acontecer devido à falta de incentivos, sem cenário e sem um figurino desenhado para a montagem. Mas vi ali TEATRO! Porque o teatro é isso: artista, público e texto.

Que venha 2024, cheio de luz e força, nos trazendo conhecimento, representatividade e diversidade, acolhendo a todos que merecem estar nos palcos com o mais belo anseio de ajudar a humanidade.

Serviço

Pequena Dança Para Mulheres Que Voam (2ª temporada)

12 de Janeiro de 2024 - Sessões às 20h e 21h20

Evento presencial no Parque Lage, RJ

https://www.sympla.com.br/evento/pequena-danca-para-mulheres-que-voam-sexta-feira-2-temporada/2283927?referrer=www.google.com

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