Teria motivos pessoais para não escrever para esta companhia, mas sou imparcial, escrevo para o teatro e isso abraço com a alma por amar o teatro profundamente.
Ao contrário do espetáculo "Rua Azuza", assisti essa montagem em paz, sem nenhuma pessoa com problemas psicossomáticos gritando "aleluia" ou "glória a Deus" no meu ouvido. Pessoas que não sabem a diferença de estar em uma igreja ou em um teatro. Creiam, isso aconteceu! Embora o espetáculo "Rua Azuza" apresentasse uma estética visual lindíssima, senti falta de um elenco mais maduro. Já neste musical sobre o líder Martin Luther King, pude notar um diferencial: vi um elenco um pouco mais de maturidade. Embora não tenhamos artistas conhecidos do teatro, com técnicas mais abrangentes, eles nos emocionam. Vale essa menção. Não pela fé que, incisivamente, a companhia tenta trazer, mas pela apresentação da cultura negra gospel norte-americana, que é de excelência.
Caramba, confesso que as lágrimas rolaram pelo meu rosto quando o grupo de artistas subiu ao palco para trazer um coral gospel. Tantas celebridades saíram dessas igrejas dos Estados Unidos (graças a Deus). Isso nos remete a cada um deles. Artistas imensos como Lisa Stansfield, Whitney Houston, Tina Turner, Elvis Presley, Kate Perry, Aretha Franklin, Little Richard e tantos outros. A cena é linda, com um coro IMPECÁVEL. Vozes que, juntas, atuam com muita beleza. Vestidos em túnicas, dançando, batendo palmas, assumem a missão de nos tornar adoradores de cada artista ali presente. A percussão corporal acompanha a música. Tudo belo e bem montado.
A história conta os passos do grande Luther King a favor dos negros, em defesa deles, que eram humilhados na América do Norte. Uma estupidez difícil de entender e acreditar. Essa é uma das belas histórias da humanidade, que merece ser aprendida. Mais que isso: é um exemplo a ser seguido.
Confesso que minhas lágrimas também chegaram quando uma jovem atriz, com uma voz belíssima, deu seu corpo para Rosa Parks. Esse é um momento que me tocou muito. Sempre fico a pensar na explosão, no cansaço que levou Rosa a não obedecer à lei estúpida daquele país.
Ao dizer "não" ao branco, a não ceder o seu lugar no assento de um ônibus, em 1955, ela foi levada à prisão. No entanto, isso desencadeou nos negros a necessidade de mudanças e essa causa foi abraçada por Martin Luther King. Eu não sabia que o ativista tinha se envolvido com a causa de Rosa. A atriz cumpriu seu papel trazendo emoção e muita beleza à sua personagem, importantíssima na luta contra o racismo para o mundo.
Durante o histórico discurso de King, senti falta de Nina Simone, que esteve ao lado do ativista e também atuou na luta contra o racismo com muita força. Ela foi rechaçada diversas vezes, tanto na vida pessoal como na vida profissional, teve mais impacto que a africana Miriam Makeba, cantora africana que estava representada no palco. Nina teve muito mais visibilidade, representatividade e também esteve na Marcha, em 1963. Claro que eu esperava, no final do espetáculo, ouvir “Pata Pata”, e não um hino de louvor evangélico. Se é para falar de Miriam, que o façam devidamente, lembrando principalmente da África do Sul, onde morreu a mãe da cantora Makeba durante um dos piores massacres aos negros que lutavam veementemente contra o apartheid.
“Entre líderes civis, políticos, personalidades e artistas que discursaram, cantaram ou apenas manifestaram apoio com a sua presença neste dia, estavam diversos líderes de sindicatos, congressistas, o Arcebispo de Washington, Cardeal Patrick O’Boyle, líderes civis como Gordon Parks, o escritor James Baldwin, astros de cinema como Marlon Brando, Harry Belafonte, Sidney Poitier e Charlton Heston, estrelas de musicais como Josephine Baker, e cantores como Joan Baez, Mahalia Jackson e Bob Dylan, o último a se apresentar ao povo após o discurso".
Não vou deixar de mencionar os três artistas - vestidos de ternos coloridos- que deram um show de dança durante a cena que abordava o tema sobre a liberdade dos negros de se vestirem como queriam. Na época, eles eram sujeitados a se vestirem como os brancos achavam que devia ser. Foi magnífico, um soul bem trazido, com gingas de corpos bem preparadas. Uma delícia de assistir, nos encheu de admiração!
O cenário e figurinos são de grande produção, mais uma vez. Os figurinos nos remetem à época. Eles são 100% assertivos nesses quesitos, mas o teatro não é só isso, é preciso lembrar. É possível ter grandes espetáculos sem cenários e figurinos, mas impossível ter grandes espetáculos com grandes figurinos e cenários, mas sem grandes artistas. Na questão do elenco, nota-se a falha na escolha de alguns artistas que também trazem falas. Isso é notável. Senti falta de um corpo técnico mais experiente. Não que soe de maneira negativa, mas poderia ficar um pouco melhor, com essa balança mais equilibrada. Artistas com idade avançada guardam experiências para serem compartilhadas, auxiliando na montagem e, principalmente, aos novos artistas no palco, que também devem estar no palco, já que é preciso dar oportunidades. Mas não só eles. Quando isso acontece, todos perdem, principalmente a obra.
Quanto ao protagonista, nos lembra o Martin. Isso é emocionante, porque ter acesso a esse homem, ainda que seja no teatro, de alguma forma, mexe com os nossos sentimentos.
São quase três horas de espetáculo que não me deixaram dormir, me emocionaram e, sim, acho que todos deveriam assistir.
Na verdade, Martin deveria ser um grande exemplo aos religiosos dos dias atuais. Um homem que abraçou a ciência. Acredito que hoje não venderia "semente" para a cura do Covid, como alguns fizeram. No começo do espetáculo, a esposa atende um telefonema dizendo que o ativista tinha ganho um valor que, possivelmente, seria doado às causas que o ativista liderava. Não sei se isso é verdade. Pesquisei, mas não encontrei nada a respeito. Porém, é outro aprendizado a alguns religiosos contemporâneos. No link abaixo, tive a oportunidade de aprender mais sobre o ativista, que se uniu ao sindicato para defender os direitos trabalhistas dos negros, além de ser firmemente enlaçado a práticas de esquerda.
Duvido muito que um líder como ele não se levantaria, carregando milhares de pessoas, contra as mortes de jovens negros nas comunidades. Duvido ainda mais que enriqueceria às custas desse povo, sem o defender com imensa coragem que tinha. É o que nos falta hoje…
Este ativista também cometia falhas. Foi um homem com inúmeros casos extraconjugais, segundo a inteligência norte-americana, o FBI, mas isso eu não vi na peça. Havia apenas o homem de bem.
Ao contrário do que vi no espetáculo, King não "apontava arminha", como se viu em muitas igrejas nos últimos tempos. Ele revolucionou uma nação, a história dos negros, nos Estados Unidos e no mundo. Devemos muito a ele a linda históriados negrosnos Estados Unidos e no mundo. Com ela, temos uma lição para começar a mudar a história de milhares de pessoas. Assim como ele, Nina, Mandela, Malcolm X e Bob Marley foram partícipes deste processo "Black Power", entre muitos outros.
No Brasil temos Carolina de Jesus, Mãe Menininha do Gantois (aliás, somente quem estudou a história dessa mãe de santo entende a importância dela na luta contra o racismo e preconceito das religiões de matrizes africanas), Abdias Nascimento, Francisco José do Nascimento, etc. São inúmeros. Todos eles estão para além da religiosidade. Isso não agrega valores, o que faz isso é a humanidade que essas pessoas carregaram não só no coração, mas por meio de uma consciência extraordinária.
SINOPSE
"Luther King - O Musical" retrata a vida e a luta incansável de um dos maiores líderes dos direitos civis da história: o pastor Martin Luther King Jr. Por meio de música envolvente, coreografias emocionantes e atuações inspiradoras, o espetáculo traz à vida a coragem e a determinação do Dr. King, reafirmando a importância da igualdade e da justiça em nossa sociedade. Uma homenagem apaixonante a um líder visionário e seu legado. A história será contada pela mesma produtora do premiado musical “Rua Azusa”, que levou quase 300 mil espectadores para os teatros do Rio e São Paulo. "Luther King - O Musical" dará continuidade à história da luta para o fim da segregação racial nos Estados Unidos e sua forte influência em todo o mundo.
FICHA TE?CNICA
Equipe criativa
Texto e letras
Cai?que Oliveira
Mu?sica
Paulo Ocanha
Direc?a?o
Cai?que Oliveira
Assistente de direc?a?o
Samuel Gonc?alves
Direc?a?o Musical
Paulo Ocanha
Assistente de Direc?a?o Musical
Diego Sampaio
Coreografia
Marc?al Siqueira
Sapateado
Fa?bio Brasile
Elenco
Abraha?o Costa / Alana Sampaio / Aline Menezes / Minsther / Belle Ramos Abib / Bruna Porto / Clarinha Larchete / Danielle Greco / Davi Fields / Emmanuel Aguilera / Fa?bio Brasile / Guii Augusto / Hadassa Mazarao / Henrique Camargo / Je?ssica Stephens / Joa?o Cortins / Josemara Macedo / Luana Misael
Marc?al Siqueira / Matheus Kerr / Miguel Tescaro / Naara / Nicole Sacramento / Ota?vio Menezes / Rebeca Caro / Renan Sampaio / Samuel Conze / Tafnes Adriane / Yasmin Herrera
Direc?a?o de Arte
Alan Maiolli Joy Oliveira
Ceno?grafos
Alan Maiolli Joy Oliveira
Cenote?cnico Serralheiro Projetista
Marcos Almeida
Cenotécnicos
Joa?o Edevaldo / Mario Belarmino / Marcelo Patrick / Edimilson Melo / Alan Maiolli / Joy Oliveira
Figurino e visagismo
Figurinista e visagista
Allan Ferc
Assistente de figurino Chef de camarim
Denise Evangelista
Assistente de figurino
Larissa Andrade
Visagista
Bruna Menezes / Carolina Kodama
Costureira
Agda Henrique
Camareiros
Analu Dupret / Gabriela Reis / Gelson pimenta / Guilherme Romaniche / Gui Neris / Luciene Misael
Iluminac?a?o
Designer e Programador de Luz
Vini?cius Zampieri
Operadora de Luz
Gabriela Ferreira
2o operadora de Luz
Caroline Grechi
Sonoplastia
Designer de som
Paulo Altafim
Operador
Vinicius Suzuki
Microfonista e 2o operador
Thiago Venturi
Microfonista
Kika Fernandes / Iasmine Ferreira
Equipe de produc?a?o
Produc?a?o
Cia Nissi
Compras de Ingressos
https://uhuu.com/evento/rj/rio-de-janeiro/luther-king-o-musical-12543