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"Luiz e Nazinha" era para ser só um espetáculo...

Olhar Teatral, Por Paty Lopes, Crítica Teatral

Em 25/07/2022 às 12:27:21

Enquanto o espetáculo acontece, as músicas são intercaladas, para nossa alegria: "Asa Branca", "O Xote Das Meninas", "Pagode Russo", "Olha Pro Céu", "Sabiá", uma verdeadeira coleção de canções que não esquecemos e, pelo visto, não iremos esquecer!
O cenário vem acompanhado de bandeirinhas e também de malas estampadas com flores de chita. Ah! Chita, tecido que nos remete ao Nordeste!
A iluminação se encarrega de nortear os dias, as noites, tudo bem feito, bem aplicado. Os efeitos ficam por conta das bolinhas de sabão!
Wanderley Nascimento assina o figurino, peças que são harmoniosas, além de lúdicas. Em alguns momentos é possível ver um parente do Chico Bento no espetáculo.
Tudo tão colorido que vamos até as histórias em quadrinhos, sim!
As crianças assistem a montagem entusiasmados, ainda mais quando os pais cantam e começam a levar as músicas com palmas!
Os adereços, como a boneca de Nazinha, fica bem e contribui para boas gargalhadas do público, cujo apelido é "Caolha", coitada!
Nazinha, às vezes, lembra a Mônica e seu coelho Sansão!
Tudo nacional demais!
Alias, o Nordeste, por causa do sol, tem uma biodiversidade que não se encontra em lugar nenhum do mundo!
Essa cultura é nossa, precisa-se valorizar!
O Forró do Gonzagão é Patrimônio Cultural desse país.
Esses artistas sabem fazer teatro e também valorizar nossa música!
Mas não foi só isso que me chamou a atenção...
Penso que a crítica teatral não vale somente para homenagear excelentes artistas, agradecer por seus trabalhos árduos, cheio de caprichos, que nos alimentam, nos educam.
O Brasil atravessa momentos difíceis, e precisamos abrir os olhos para a realidade que nos cercam, e o futuro que parece desencadear diante dos nossos olhos.
Na peça, percebi crianças lindas no teatro Clara Nunes, que está localizado na Gávea, Zona Sul do Rio de Janeiro. No entanto, nenhuma delas era negra...
Em um Brasil com maioria populacional preta, algo estava errado.
Um grupo de crianças se aproximou, pegou seus ingressos através de adultos e entraram para assistir ao espetáculo "Luiz e Nazinha - Luiz Gonzaga para Crianças".
Esses meninos eram de uma casa de acolhimento, crianças reféns de suas famílias,, que já trazem, em suas histórias, o terror. Todas negras. Questiono: coincidência? Ou algo continua errado?
Era só para ser um espetáculo, mas foi mais que isso, foi um passo para mudanças!
Passos para equidade, para acessibilidade...
Desde que foi sancionada, a Lei Federal 8.069, de 13 de julho de 1990, conhecida como Estatuto da Criança e do Adolescente, trouxe os direitos e deveres da criança e do(a) adolescente, as responsabilidades do Estado, da sociedade e da família.
O Direito à Educação, à Cultura, ao Esporte e ao Lazer é um baluarte do movimento dos direitos humanos na medida em que garante à criança e ao(à) adolescente o acesso ao conhecimento histórica e culturalmente construído, permitindo-lhe o desenvolvimento integral.
A ponte feita entre o espetáculo e essas crianças foi a ONG Arte Rede, que promove acessibilidade a pessoas vulneráveis ao teatro e espaços culturais no Rio de Janeiro, também abrindo espaços em São Paulo.
Pedro Henrique Lopes (produtor, ator, autor) e Diego Morais (diretor), abriram as portas para o futuro.
Certo que temos de cobrar dos políticos medidas para melhoramentos. No entanto, não dá para ficar esperando, pois o tempo pra esses meninos está passando, não dá para esperar!
O futuro deles é incerto, atentem para essa realidade. Quando saem da casa, a maioria tem o futuro.
Se a sociedade se unir, ainda teremos tempo de mudar alguma coisa lá na frente.
Não tenho como por em palavras os olhares daqueles meninos para o palco: os olhos brilhavam, não piscavam, saíram pisando em nuvens, com sorrisos em suas bocas.
O espetáculo foi lindo sim, mas criou ainda mais beleza quando as emoções se encontraram.
Eles, os meninos, não trocaram um pio entre eles, estavam focados no espetáculo. Isso faz valer a pena todos os esforços...
Aprenderam, viram um mundo novo, um mundo que pertence a eles também...
Era para ser uma crítica teatral, mas se não reagirmos à realidade, meus caros leitores, nosso Brasil não terá volta, porque está nas mãos dessas crianças o futuro dele!
Era para ser só uma crítica, se essa que vos escreve não fosse humana...
Obrigada a esses artistas pela generosidade, obrigada à Arte Rede, instituição sem fins lucrativos que entende a necessidade da sua existência!
Sigamos, porque a cultura pode ajudar a mudar histórias...

Sinopse

O que falar do Rei do Baião? De suas obras?

Luiz Gonzaga deve ser lembrado pela sua contribuição a nossa cultura, genuinamente brasileira. Ele foi considerado uma das mais completas, importantes e criativas figuras da música popular brasileira.

Suas composições também descreviam a pobreza, as tristezas e as injustiças de sua árida terra, o sertão nordestino. Gonzaga vestia-se como Lampião em suas apresentações, embora tivesse luatdo contra os cangaceiros quando entrou para o exército em 1930.

Esse Luiz Gonzaga não é apresentando às crianças no espetáculo, mas sim um menino meigo, que, através da simpatia, carrega nossos olhares!

Os pais levarem seus filhos para assistir as obras desse grupo de artistas deveria ser uma obrigação pela escolha deles ao fazer suas montagens.

Já assistimos Milton Nascimento, Tropicália, Raul Seixas, Elis Regina, daí percebe-se a riqueza musical que esse projeto "Grandes Músicos para Pequenos" apresentam para esses pequenos espectadores.

Luiz e Nazinha é um espetáculo colorido e alegre, com artistas que entendem de crianças. A linguagem é clara para eles, fazem as crianças rirem e trocarem.

Nazinha foi o primeiro amor de Luiz Gonzaga e esse amor é repassado de maneira dócil, sem maldades.

Os artistas Pedro Henrique e Aline Carrcino interpretam os protagonistas, é uma delícia assistí-los.

Pedro carrega comicidade. É intríseco no artista, tanto para crianças quanto para adultos. Já Aline não fica atrás, alimenta a platéia com risos através das suas caras e bocas.

Erica Riba e Sergio Somene atuam como os pais do casal de crianças que se apaixonam.

São divertidos também, com estalinhos e vozes bem colocadas diante dos textos.

"Luiz e Nazinha – Luiz Gonzaga para Crianças" conta passagens da infância de Luiz Gonzaga no interior do Nordeste, com destaque para a descoberta do amor, quando o jovem Luizinho se apaixona por Nazarena, filha de um coronel que não permite o namoro deles.


Ficha Técnica

Direção: Diego Morais

Direção Musical: Guilherme Borges

Texto: Pedro Henrique Lopes

Elenco: Pedro Henrique Lopes (Luizinho), Aline Carrocino (Nazinha), Erika Riba (Santana / Elvira) e Sergio Somene (Januário / Raimundo)

Cenário: José Claudio Ferreira

Figurino e adereços: Wanderley Nascimento

Iluminação: Pedro Mendonça

Produção e realização: Entre Entretenimento

Serviço

Luiz e Nazinha – Luiz Gonzaga para Crianças

Até 31 de julho

Teatro Clara Nunes Rua Marques de São Vicente, 52 – 3º andar – Gávea – Rio de Janeiro

Telefone (21) 2274-9696.

Dias e horários Sábados e Domingos, às 16h.

Ingressos R$ 80 (inteira) e R$ 40 (meia). Vendas na bilheteria e no site Sympla https://bileto.sympla.com.br/event/74531/d/145481

Lotação 750 pessoas

Duração 55 minutos

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