A vida é questão de tempo

Juarez Botelho voltou para o Brasil no fim da pandemia e, de lá pra cá, nos reunimos para papos incríveis. Em mais um dos inúmeros papos com meu amigo, eis que falamos da vida. Pois é, sempre falamos de algo interessante, mas dessa vez o papo foi cabeça. Costumo dizer que quando nos encontramos viajamos em assuntos diversos. Temos o espírito de filósofos de boteco e isso é muito gostoso. Isso porque falar da vida nos traz tantas possibilidades e expectativas que podemos ficar horas ou quem sabe, dias, falando. Um Congresso, quem sabe. Vida. É tudo. Vida é ser. Podemos ser sem vida? Óbvio que não. Por isso um tema complexo e justo numa sexta-feira, onde é feriado na cidade do Rio de Janeiro, por se tratar do dia de São Sebastião, padroeiro da cidade e santo cultuado na igreja católica.

Podemos começar essa resenha falando que Deus criou o universo e a terra foi questão de tempo. Sim, podemos. Mas tempo, o que vem a ser isso? É algo que até hoje não se tem uma definição correta. Para cientistas, físicos e até filósofos, ele tem significados diferentes, mas acaba chegando ao destino. Eu tenho um pensamento sobre o tema, mas tenho de admitir que estou com o físico teórico americano John Wheeler, que define o tempo da seguinte forma. “É o jeito que a natureza deu para não deixar que tudo acontecesse de uma vez só.” Ele já não está entre nós, ou melhor dizendo, o tempo dele já passou. Só para registrar, ele nasceu no mesmo dia que eu, claro que em anos diferentes.

Mas voltando à criação, o tempo em que a Terra foi criada e habitada nos parece uma conta sem fim. Aprendemos que a Terra tem 4,5 bilhões de anos e olha: isso quando tínhamos 9 ou 10 anos, não me lembro bem. Imagina o que foi pra mim fazer essa conta. Não fiz. Deixei na folha do caderno até hoje. Mas não deixei de pensar no contexto, como eram os dias, as noites, o clima, etc. Bem, a história nos conta um monte de perspectivas científicas que infelizmente não temos a veracidade como respostas e sim a teoria, baseado em estudos.

Imagina 4.5 bilhões de anos até chegar aos dias de hoje. Quantas coisas aconteceram, ou não; quantos dias e noites de puro tédio, ou não; quantas possibilidades, ou não. Ih, estou parecendo aquele cantor baiano em suas reflexões, ou não. O fato é que o tempo é o senhor da causa. E em determinado momento, Juarez me fez alguns questionamentos: já parou para pensar no tempo de vida que estamos aqui na Terra? O que podemos fazer para deixar marcada a nossa estada por aqui? Por que precisamos de objetivos para nossa vida, uma vez que, em determinado momento não estaremos mais aqui?

Nesse momento fiz meus os questionamentos dele e percebi que tudo faz sentido ou nada faz sentido. Tudo é questão de interpretação ou puramente motivação. Vivemos condicionados a padrões éticos e estéticos que mudaram ao longo dos tempos e que ainda assim nos prendem e nos fazem escravos. Qual é o tempo bom para plantar? E para colher, será que sabemos o tempo certo ou esperar o tempo certo? Olha eu aí de novo questionando. Dizem que o tempo cura todas as feridas, pode até ser, mas ninguém aguenta muito tempo o tratamento.

Passe o tempo com passatempos antes que seu tempo passe em vão

Em determinado momento percebi que já estávamos fazia muito tempo naquela resenha e algumas doses já consumidas e nenhuma resposta concreta a respeito do tema. Começamos o papo falando de vida e quando nos demos conta, o tempo já havia tomado todo o tempo da conversa. Demos umas gargalhadas. Afinal, quando amigos se encontram para “jogar conversa fora” num feriado é isso mesmo que acontece! E entre mais uma dose e um carpaccio percebemos que a vida está ligada ao tempo e sempre esteve. A vida existe justamente dando tempo para que percorra sua trajetória na Terra e faça o necessário para sua construção.

Foi quando me dei conta de que a vida é parceira do tempo. Estão juntos desde o início de tudo. O Big Bang se deu por conta da necessidade da vida transpor a barreira do tempo e seguir em frente. Só que seguir em frente ao lado do tempo. São unha e carne; Batman e Robin; Romeu e Julieta; gato e rato; e Claudinho e Buchecha.