O Programa Fantástico, da TV Globo, do último domingo (23/04), deu estaque para a acumulação. Quem não conhece ou já teve contato com uma pessoa que está sempre acumulando itens ou objetos? Infelizmente, isso é muito comum. Essas pessoas sofrem com o chamado Transtorno de Acumulação. Ele surge com a grande dificuldade em descartar ou se desfazer de posses, o que faz com que esse indivíduo acumule os objetos, desorganizando áreas de convívio e impossibilitando seu uso. Mas não confunda acumulador com colecionador, pois a grande diferença está no sofrimento psicológico envolvido ao precisar se livrar de coisas de pouco valor e também na forma como se armazena, desorganizadamente, estes objetos.
O mais desesperador é que o acumulador não consegue perceber o quanto esse acúmulo é excessivo. O fato de sentir angústia quando da possibilidade de jogar algo fora torna essa armazenagem uma ação intencional.
Muitos acumuladores são também compradores compulsivos. Adquirem objetos constantemente, independente de precisarem deles ou não. Isso porque a compra em si proporciona satisfação instantânea e uma sensação de segurança ligada à ideia de posse. Juntam esta nova posse à coleção de objetos acumulados, dando a ela desde o início uma conotação emocional. Dessa forma não conseguem mais se livrar dessa aquisição. Assim é gerado um círculo vicioso, onde o acumulador compra, sente satisfação, liga-se ao objeto e não pode deixá-lo mais, mas continua a experimentar um vazio emocional, resultado da substituição da interação com pessoas pela interação com objetos, e supre este vazio comprando novamente. Essa é a dinâmica envolvida na acumulação.
Porém, a maioria dos acumuladores não reconhece a sua condição, sente que simplesmente tem muitas coisas, gosta de comprar e possuir objetos para colecionar. A gravidade desta situação é que todo esse movimento se transforma em uma bola de neve sem fim, que acaba absorvendo a vida útil do acumulador. Este, depois de um tempo, tem a falsa ilusão de que os seus objetos são como uma parte de si e sente que, fisicamente, não pode ficar longe deles. Quando está fora de seu território, ele experimenta sua maior angústia, pois percebe que não possui qualquer controle. Assim, aciona o gatilho da ansiedade e da insegurança. Ou seja, só se sente tranquilo em meio à suas posses e acúmulos. Não existe uma causa específica que justifique o seu surgimento, mas alguns comportamentos também podem ser resultantes de problemas mentais, como: ansiedades, trauma, depressão, transtorno de déficit de atenção ou hiperatividade, abuso de álcool, ter sido criado em uma casa desorganizada, esquizofrenia, demência, compulsão excessiva, alterações de personalidade, entre outros.
Enfim, a busca de ajuda profissional é primordial para a cura deste transtorno. Uma vez diagnosticado e definido o problema, recomenda-se a definição de um tratamento específico, tanto em termos de terapia psicológica individual quanto farmacológica para garantir um prognóstico positivo. Como os sinais são muito evidentes, seja pelo fato da pessoa se tornar antissocial ou mesmo pelo exagero na quantidade de objetos, trabalhar essas questões cautelosamente com o acumulador, sem agressões ou afrontas, pode facilitar no aceite de uma ajuda especializada.
Quem sofre com esse transtorno dificilmente tomará a decisão de buscar ajuda sozinha. Inclusive, em casos mais graves, até a inclusão no contexto de um assistente social é muito importante, além do psiquiatra e do psicoterapeuta, para que o acumulador sinta maior confiança na abordagem e aceite iniciar o tratamento o quanto antes.