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O crime sob o ponto vista da saúde mental

Saúde Mental e Bem-Estar, Por Andréa Ladislau, Psicanalista

Em 05/02/2024 às 16:46:58

A onda de violência, conflitos intensos e desordem urbana geradora de tragédias imensas só aumenta. O que mais temos visto, ultimamente, são notícias recheadas por tristeza e vidas perdidas. Mas como compreender e analisar o crime por uma ótica voltada para a saúde mental? O que diz a psicanálise e a psicologia sobre crimes?

Abordando as correntes do pensamento criminológico, podemos levantar uma reflexão para encontrar algumas respostas que levem à identificação de possíveis “anormalidades” de comportamento, ações e pensamentos de um criminoso em relação ao restante das pessoas. Porque, apesar de saber as consequências punitivas de um crime, ainda assim as pessoas insistem na vida de crime? Quais as motivações de tantas infrações?

Em primeira análise, a psicanálise defendia que fraquezas das inibições, na fase da adolescência ou infância, cujas regras de convivência social não haviam sido assimiladas de forma correta, estariam diretamente associadas a características de personalidades criminosas. Tanto que o fato de serem transgressões delituosas de caráter proibitivos podem conferir a eles o tom da permissividade para a ocorrência. Ao consumar o ato, o transgressor tem a sensação do alívio psíquico, já que carrega uma culpa inconscientemente, e esta pode ser amenizada após a realização de um delito. Ou seja, a conscie?ncia de culpa antecede o próprio delito. A culpa não é originária do crime, ela vem, em muitos casos, antes do ato criminoso.

Tudo se inicia na existência universal de uma fase infantil caracterizada por sentimentos hostis nutridos inconscientemente pela criança em relação ao genitor do mesmo sexo, tendo em contrapartida a vivência de sentimentos amorosos pelo genitor do sexo oposto. Ou seja, o crime é consequência do sentimento inconsciente de culpa. Mas trazendo para nosso cotidiano é sempre bom lembrar que, na análise destes três tipos de personalidades, deve-se também levar em conta conceitos e ideias atuais.

A função do crime é, portanto, satisfazer simbolicamente os instintos libidinosos. Ela manifesta-se não apenas de forma inconsciente, como nos sonhos, mas também consciente, por meio das fantasias. Como, por exemplo, no caso em que a pessoa imagina um acidente mortal para a pessoa que odeia, ou até mesmo se imagina a provocar tal acidente. Poderíamos até concluir que, em todos nós, há um criminoso e que todo homem, mesmo o maior cumpridor das leis, é capaz, por exemplo, de matar. A grande questão é: estamos equilibrados emocionalmente? Fortalecidos em nosso autoconhecimento para conseguir separar o instinto negativos da consciência real?

Enfim, o crime sob uma visão psicológica pode ser uma possibilidade constitutiva e inarredável do ser, da existência humana. Sempre haverá crime no mundo, porque o homem é, em seu centro, indeterminação e liberdade. Nada é mais humano que o crime. Ele desmascara, portanto, algo que é próprio da natureza humana, ainda que certamente existam em nós a simpatia, a compaixão e a piedade. O humano pode ser definido, precisamente, pelo conflito entre as vertentes da lei e do prazer. Ou seja, devemos trabalhar e cultuar, cada vez mais, a elevação do nosso “eu” para minimizar as ações dos instintos inerentes e destrutíveis do ser humano.


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