Pesquisas apontam que o exército de pessoas solitárias no mundo cresce, assustadoramente, a cada ano. São pessoas que, por diversos motivos, vivem de braços dados com a solidão.
Mas o que chama a atenção é que muitos relatam sensações dolorosas em serem sozinhos. Tanto que uma frase de impacto revela essa cruel realidade: “me sinto tão sozinho que chega a doer!”. Ou seja, as pessoas podem apresentar sofrimentos psíquicos motivados pela solidão.
Principalmente, se vierem associadas a algumas perdas específicas: perda da saúde, autonomia, produtividade, papéis sociais, perda de cônjuges, amigos, entre outras perdas pessoais, muito comuns entre os idosos, por exemplo.
Alguns relatos mostram que a dor é tão intensa e insustentável que pode chegar a ser física. Uma verdadeira incoerência em meio ao crescimento populacional e a vida atribulada que vivemos.
Porém, a verdade é que o ser humano está cada vez mais solitário e fechado em seu mundo particular. Um cenário que preocupa, pois pode agravar diversos problemas de saúde, desencadeamento síndromes, transtornos e outras questões de cunho psicológico e fisiológico.
Viver rodeado de pessoas, agitado por inúmeras tarefas, não é sinônimo de que a pessoa não se sente, no fim das contas, solitária. Essa é, inclusive, a principal queixa de muitos: “mesmo me relacionando com muitas pessoas, tenho sempre a sensação de estar só”.
Isso ocorre porque os sentimentos de angústia e depressão tendem a acompanhar e alimentar a sensação de solidão.
Quando ela se torna crônica, as pessoas tendem a se resignar. Podem ter família, amigos, mas não se sentem verdadeiramente em sintonia com ninguém. E é neste momento que transtornos ou síndromes oportunistas podem avançar, como por exemplo, a demência, que se caracteriza por um declínio cognitivo ou alterações comportamentais que interferem na capacidade funcional e independência do indivíduo.
Isso manifesta sintomas como a perda de memória; desorientação; confusão mental; alterações de humor; dificuldades na assimilação de tarefas; mudança de personalidade; regressão da linguagem; perda da autonomia; agressividade; e incapacidade de resolução de problemas cotidianos.
O motivo é que, quando o cérebro entende o seu entorno social como algo hostil e pouco seguro, permanece constantemente em alerta. E as respostas do cérebro solitário podem funcionar para a sobrevivência imediata.
Os familiares e amigos geralmente são os primeiros a detectarem os sintomas de solidão crônica. Quando uma pessoa está triste e irritável, talvez esteja pedindo, em silêncio, que alguém a ajude e se conecte com ela.
Por isso, a importância em acolher e integrar o indivíduo no ciclo familiar e social, a fim de evitar tanto a solidão quanto a demência por falta de interação.
Enfim, a solidão é complexa, por ser uma condição mal compreendida e estigmatizada. No entanto, dada sua frequência e suas repercussões na saúde, é preciso mais informação a respeito, acolhimento para identificá-la e abordá-la, com empatia e carinho.
Claro que, todos precisamos de momentos de reflexão interna e afastamentos momentâneos. Mas o alerta precisa ser acionado se essa prática acontece com frequência, intensamente e em detrimento das relações interpessoais.
Precisamos voltar o olhar para o solitário que precisa reintegrar-se ao meio social e familiar para se sentir útil e vivo evitando, assim, o surgimento de doenças emocionais ou cognitivas e o desenvolvimento de sintomas e patologias psicológicas que irão contribuir para o prejuízo psíquico e mental.