O luto é um tema que remete a angústia e suscita lembranças que causam dor e muita saudade. Com ele muitos sentimentos negativos e de desesperança podem inundar o indivíduo e provocar o que chamamos de “desejo de entrar em uma ostra”. É quando o enlutado perde o ânimo de viver e de se relacionar com qualquer pessoa. Mas você sabe quando o luto termina? Antes de tentarmos esclarecer essa dúvida, precisamos definir o luto e suas fases. Identificar qual importância ele tem em nossa vida e quais os benefícios podemos ter se aprendermos a construir internamente esse processo, de forma a minimizar a dor e equilibrar as emoções e os sentimentos.
O luto é uma experiência emocional profunda e individual que se define pela capacidade de lidar com as perdas. É o estado de recolhimento. E esse estado passa por algumas etapas. A primeira fase do luto é a negação, onde as pessoas negam a situação para combater as emoções que estão experimentando por causa de sua perda. A raiva é a segunda etapa, que ocorre quando os efeitos da negação começam a se desgastar. Em seguida, temos a fase de negociação, onde a pessoa de luto pode experimentar pensamentos do tipo “se apenas…”. Na quarta fase temos a depressão, que surge quando as pessoas têm de enfrentar os aspectos práticos da sua perda. E, por fim, temos a fase da aceitação, onde após externar sentimentos e angústias, a tendência é que o paciente aceite sua condição e comece a elaborar estratégias pessoais de adaptação dentro de sua nova realidade. Mas resistir e pular etapas pode fazer com que o sofrimento seja prolongado e gere traumas emocionais. Por esse motivo, é importante vivenciar o luto, entregar-se à dor e chorar. Respeitando, claro, o tempo de cada um.
Não sabemos lidar com a morte. Agimos, instintivamente, na direção da eliminação da dor da perda, e não estamos preparados para tratar disto. Porém, o luto não é doença, assim como a tristeza não é depressão. É um equívoco acreditar que existe um tempo cronológico para essa tristeza ou essa dor terminar. O luto não se define por seu tempo de duração, mas sim pelo processo de elaboração sobre a morte, que é feita por cada um. A maneira como compreendemos o momento do luto pode ser crucial. Temos um tempo interno, que se chama Kairós. Ele designará o tempo correto em que essa dor será amenizada, diferente do tempo Chronos, o tempo que mede os dias e as horas.
Falar do luto é importante, já que, psicologicamente, não poder manifestar sua dor é uma agressão e pode alimentar outras dores e somatizar a angústia. Isso ajuda a elaborar mais rápido. É um recurso muito positivo e muito saudável. Falar e ouvir sua dor. E aqui entra uma outra questão importante em todo esse processo: como é difícil aguentar ouvir a dor do outro e como não estamos preparamos ou não preparamos nossos filhos para essa atitude diante do sofrimento alheio. Nem sempre estamos preparados emocionalmente para esse ato empático. Importante entendermos que não existe dor maior ou menor. Existe dor e cada um a vive conforme sua própria bagagem de vida. Não existe fim do luto, existe fim do processo de sua elaboração. O importante não é cair, mas voltar a se levantar.
Portanto, por todo exposto, é natural que após enfrentar o luto, ou mesmo em meio a ele, o ser humano se torne tão vulnerável que encontre na depressão sua principal companhia, fazendo com que fique preso nas fases do luto, sem forças para se libertar. Porém, é importante que a perda não seja reprimida. Do contrário, pode se manifestar posteriormente como algum outro sintoma. Por isso, trabalhar a elaboração da perda é fundamental para estimular a dura tarefa de encontrar ferramentas para enfrentar as frustrações e dores causadas pela morte. Afinal, o objetivo é eliminar o desespero e dar lugar a uma maior serenidade, através do enfrentamento consciente da saudade.