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Vacina contra HPV enfrenta preconceito e negligência

Grátis em 36 mil postos, vacinação registra baixa adesão por associação a sexualidade precoce, vírus é fator de risco para câncer do colo do útero

Por Portal Eu, Rio! em 01/11/2019 às 15:27:25

A vacina contra o HPV está disponível gratuitamente em 36 mil postos de saúde do País, para um público de meninas de 9 a 14 anos, e meninos com idades entre 11 e 14 anos Foto Divulgação MS

Em audiência pública promovida na quarta-feira (30/10) na Comissão de Defesa dos Direitos da Mulher da Câmara dos Deputados, debatedores defenderam a implementação de medidas para ampliar a vacinação contra o HPV no País. Cinco anos após ser incluída no Programa Nacional de Imunizações do Ministério da Saúde, em 2014, a vacinação contra o HPV ainda está longe de alcançar a eficácia pretendida.

Entre as razões levantadas pelos debatedores para a adesão inferior à necessária estão: pequena disseminação de informações sobre as doenças que a vacina pode evitar, tabus de pais contra campanhas de vacinação ou contra uma possível relação entre a vacina do HPV e a sexualidade precoce de adolescentes, ou ainda envolvimento insuficiente de entidades estaduais e municipais em uma política nacional de prevenção.

A vacina contra o HPV está disponível gratuitamente em 36 mil postos de saúde do País, para um público de meninas de 9 a 14 anos, e meninos com idades entre 11 e 14 anos, em duas doses aplicadas com intervalo de seis meses. Mas está longe de atingir o público a que se destina para a prevenção de doenças futuras, principalmente o câncer de colo de útero nas mulheres.

A representante do Ministério da Saúde na audiência, Ana Goretti Maranhão, lamentou que ainda haja baixa procura pela vacina. "A segunda dose deixa muito a desejar. Temos 52% de meninas vacinadas, e meninos, não chega a 25%. Tem todo um trabalho a ser feito não só pelo Ministério da Saúde, pelas secretarias estaduais e municipais, mas por toda a sociedade. No sentido de informar sobre o que é o problema de saúde pública e a importância de estar vacinando nossos adolescentes. É uma vacina muito segura", afirmou.

Dados da Sociedade Brasileira de Oncologia revelam que o câncer do colo do útero é a terceira causa de câncer da mulher atualmente no País. São 16 mil novos casos por ano. No mundo, são 300 mil mulheres mortas anualmente, um problema de saúde pública mundial.

A vacina contra o HPV protege contra quatro tipos do vírus HPV, sendo que, no exterior, já existe uma mais sofisticada que protege contra nove tipos. A vacina é a principal forma de prevenção contra o aparecimento do câncer do colo de útero. Nos homens, a vacina protege contra os cânceres de pênis, orofaringe e ânus. Além disso, previne mais de 98% das verrugas genitais, doença que estigmatiza e é de difícil tratamento.

A infecção pelo HPV é contraída principalmente pela via sexual, mas também pelo contato direto com a pele, e o contágio com o HPV pode ocorrer mesmo na ausência de penetração vaginal ou anal. Não está comprovada a possibilidade de contaminação por meio de objetos, do uso de vaso sanitário e piscina ou pelo compartilhamento de toalhas e roupas íntimas.

Para a representante da Sociedade Brasileira de Oncologia, Angélica Nogueira, o câncer de colo do útero é um problema de saúde pública que não deveria existir mais, dada a eficiência da vacina. De acordo com Angélica, a incidência de câncer provocado por HPV é estável no País. Mas há variações regionais. Na região Norte do País, ainda é maior na mulher, superando o câncer de mama.

Campanhas de prevenção devem combinar estímulo à vacinação com debates sobre sexualidade

Para a deputada Flávia Morais (PDT-GO), que pediu a realização da audiência, é preciso enfrentar tabus e cobrar responsabilidades de familiares e entidades públicas para ampliar a prevenção do HPV.

Já a deputada Erika Kokay (PT-DF) sugeriu que a Comissão de Defesa dos Direitos da Mulher prepare uma publicação para que as pessoas conheçam melhor o que representa a vacina. Ela lembrou de tabus que enfrentou em um trabalho com meninas em escolas do Distrito Federal em gestão governamental do passado.

"Sofremos muita resistência, à época, de segmentos fundamentalistas que achavam que aquilo significava incitar a uma sexualidade precoce. Muitas famílias se organizando para impedir que suas filhas pudessem ser vacinadas. O que se apresentou como um desafio para enfrentar essa discussão", disse a deputada.

Para o presidente da Sociedade Brasileira de Doenças Sexualmente Transmissíveis, Mauro Romero Passos, as campanhas sobre vacinação contra o HPV devem vir acompanhadas por debates sobre sexualidade.



Fonte: Com Agência Câmara de Notícias

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