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Mais de 100 corredores prejudicados com fraude em inscrição de Meia Maratona no Rio

Mulher que vendia kits de inscrição na internet prejudicou centenas de inscritos para a Asics Golden Run

Por André Luiz Coutinho em 28/07/2018 às 09:20:14

Luciana Amaral causou transtornos para mais de 100 corredores de rua (Reprodução: Facebook)

Correr uma meia maratona costuma ser um momento marcante na vida de qualquer corredor amador que, após se desafiar nos 5 e nos 10km, quer se superar em algo maior. Uma das provas mais aguardadas com essa quilometragem é justamente a Asics Golden Run, que acontece no próximo domingo (29). No entanto, mais de 100 corredores não poderão fazer esse desafio por causa de uma pessoa que vendeu, durante meses, as inscrições, mas frustrou todos que foram tentar retirar o seu kit para a prova nesta sexta-feira, no Centro de Convenções Sul-América, Centro do Rio.

Ao chegarem com seus protocolos de inscrição para a retirada do kit, onde vem o número de peito do corredor e a camisa da prova, logo eram surpreendidos no guichê ao verem que, apesar de a inscrição ter sido feita, o pagamento não havia sido efetuado. Essas pessoas fizeram sua inscrição com a policial militar licenciada Luciana Amaral de Freitas Sousa. Ela é administradora da página do grupo de corrida intitulado "Corredores Alados". A página conta com quase 400 pessoas, muitas delas seduzidas pelo preço mais em conta que ela vendia os kits, também anunciados em outros grupos da rede social, além do seu perfil no Instagram e Whatsapp.

Guichê de entrega dos kits e corredores frustrados (Reprodução de internet)

O fato aconteceu, por exemplo, com a empresária Cleuzimar Duarte, conhecida no meio da corrida como Cléo Runner. Ela corre há cinco anos e essa seria a sua quarta Asics Golden Run. Ela fez a inscrição para a prova no último dia 17 de junho. "Eu a conheci por indicação de amigos. Resolvi comprar realmente por causa do preço. Na época estava 160 reais e ela estava me vendendo a 100 no começo de maio. Logo efetuei o pagamento. Nunca passei por isso na minha vida, eu faço inscrições desse tipo com outras equipes como a da Pisa Leve. É aquele negócio, né? O barato sai caro e, às vezes, acabamos quebrando a cara com essas coisas. Fiz com ela por causa do valor e pela confiança de outras pessoas que já tinham feito em outras provas, como a Maratona do Rio e até a própria Asics. Estas pessoas me garantiram que ela era de confiança", explica Cléo, que chegou a indagar outras cinco pessoas antes de comprar.

Ela conta que começou a desconfiar quando ligou para Luciana há duas semanas pedindo o protocolo de inscrição e ela teria enrolado falando que só entregaria na semana da prova. "Ai ela pediu meus dados de novo, eu falei bastava verificar o histórico de conversas, mas ela disse que tinha apagado a conversa e tal, que queria ver na planilha, porém estava na casa dos pais. Ai eu peguei e passei meus dados todos de novo para ela, que provavelmente deve ter viabilizado a minha inscrição nesse dia. Ok, estava lá no protocolo na Ativo, mas não realizou o pagamento, que constou como pendente. Mas teve gente que ela nem fez a inscrição!", conta Cléo, que chegou por volta de 14h no Centro de Convenções para retirar o seu kit e depois de inúmeras tentativas de contato com Luciana, para não ficar sem correr a prova que tanto se preparou, acabou comprando novamente um dos pouco mais de 50 kits que a Ativo, organizadora da prova, disponibilizou na hora.

Diversos relatos parecidos podem ser vistos nas páginas de corrida no Facebook. Em uma das maiores, a Canelas Nervosas, que conta com quase 15 mil pessoas, relatos desesperados de pessoas que compraram e que não conseguiram fazer contato com Luciana. Alguns relataram até que conseguiram contato, mas ela teria alegado problemas de saúde na família, entre outras questões. "Pra cada um, ela dizia uma coisa diferente", disse um comprador lesado em um dos comentários dos posts sobre o tema que dominaram a página nesta sexta. Durante a espera por uma solução na fila do Centro de Convenções, havia, inclusive, corredores de fora do Rio que se inscreveram com ela e que, inconformados, não sabiam o que fazer.

No entanto, nem todos que fizeram a inscrição com a Luciana foram lesados. Foi o caso de Ana Patrícia Acácio, trabalhadora autônoma e que administra o grupo de corrida Máfia dos Corredores. Ela contou que fez a inscrição em abril e que, mesmo com a demora na liberação do protocolo, conseguiu retirar o seu kit. Porém, uma amiga que estava com ela não teve a mesma sorte. "Gisele fez a inscrição há um tempão e ela estava lá comigo pra pegar o kit. Chegou lá na hora e a inscrição não tinha sido paga. Brincadeira, né? Ainda vem dizer que vai devolver o dinheiro? Não existe isso, né? Devolver por quê? Não era do serviço dela? Se está com problema de família avisa antes que vai devolver o dinheiro, que não está podendo. Cada vez que a gente ligava pra ela, sempre inventava uma desculpa e nunca respondia o que a gente perguntava", revelou.

A química Beta Olivier também fez a inscrição através de Luciana e mesmo, sem poder correr por causa de um acidente doméstico, iria repassar o kit. Mas também foi surpreendida pela ausência do pagamento, quando uma amiga indicada por ela não conseguiu reaver seu kit. "Eu vou na delegacia prestar queixa contra ela, porque é caso de estelionato. Não está se importando com nada, várias pessoas foram lesadas! Não acho que a gente vai reaver esse dinheiro, mas alguém tem que freá-la. Se a gente não for em redes sociais, ela fará em outros lugares", afirmou.

Ela, Ana Patrícia, Cleo e outros corredores que foram prejudicados se uniram em um grupo no Whatsapp chamado "Corredores Lesados" que até a madrugada de sexta-feira estava chegando aos 100 membros. Eles estão se organizando para homologar uma ação coletiva contra Luciana.

Apesar da controvérsia com o possível calote, essa espécie de intermediação entre as organizadoras das provas e o público é bastante comum. Grupos de corrida fazem inscrições com o preço mais acessível. Equipes como a Renegados Run fazem esse trabalho há anos e nunca tiveram problemas semelhantes, mostrando que tal prática é segura, dependendo com quem você compre.

Procurada pela reportagem, Luciana Amaral revelou que, após consulta com seu advogado, somente poderá comentar sobre o caso com autorização da Polícia Militar. Mas, após a repercussão dos fatos, ela postou em seu perfil no Facebook sua versão, se comprometendo a ressarcir quem se sentiu prejudicado, conforme consta abaixo.

Resposta padrão da Luciana aos que compraram kits com ela (Reprodução de whatsapp)



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