Policiais militares receberam telefones celulares da marca Black Berry de traficantes da Favela da Rocinha, em São Conrado, na Zona Sul do Rio, para manterem os bandidos informados sobre operações policiais e o deslocamento das equipes de ronda na comunidade. Eles recebiam semanalmente cerca de R$ 7 mil para ajudarem ao tráfico.
A informação consta na sentença de um processo da 40ª Vara Criminal do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro que investigou a ação de traficantes ligados às facções criminosas Terceiro Comando Puro (TCP) e Amigos dos Amigos (ADA) por crimes cometidos entre os anos de 2013 e 2014.
Entre os condenados está Rogério Avelino da Silva, o Rogério 157, ex-chefe do tráfico na Rocinha, preso no ano passado. Na época, ele ainda não era vinculado ao Comando Vermelho (CV). Ele pegou uma pena de32 anos de reclusão pelos crimes de associação para o tráfico de drogas, tráfico e corrupção ativa.
Cinco de seis policiais militares que faziam parte da Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) da comunidade foram identificados. Esses PMs atrapalhavam as operações realizadas na Rocinha para dar tempo suficiente aos traficantes de se deslocarem e fugirem.
Escutas telefônicas com autorização judicial revelam que a propina chegou a ser de R$ 10 mil semanais e que Rogério 157 teria mandado descontar em R$ 2 mil do valor recebido pelos policiais toda vez que uma equipe da PM entrasse na Rocinha sem que os traficantes fossem avisados,
"Acordo é acordo amigo não me leve a mal, o que combineifoi me avisar antes de subir, quando alguma equipe entrar sem me avisar desconto R$ 2 mil da meta que combinei esempre cumpri com você", disse Rogério a um policial.
Segundo as interceptações, havia um "acordo de paz" entre PMs e traficantes e que a propina era paga semanalmente para que os traficantes pudessem desenrolar drogas, armas, munições e ajudar os moradores da comunidade.
"Quero paz, pagar 7 mil por semana por meu fuzil nas costas e ficar na base desenrolando droga, arma, munição e ajudando os moradores", disse o traficante
A sentença cita uma conversa entre Rogério 157 e um policial em que o traficante em que o PM fala que a UPP da Rocinha vai receber reforços por conta da quebra das câmeras de segurança. Em seguida, o traficante pede ao policial que entregue 200 munições de fuzil 762 ao comparsa José Carlos Souza Silva, o Gênio, que é o atual chefe do tráfico na Rocinha. Gênio foi condenado no processo aseis anos e oito meses de reclusão pelo crime de associação para o tráfico.
Outros "colaboradores"
Um ex-agente penitenciário, um outro PM identificado como Gordo, do 23º BPM (Leblon) e um instrutor de tiro que tinha contatos com o Bope (Batalhão de Operações Especiais) também colaboraram com os traficantes, tanto da ADA, como do TCP. Segundo os autos, eles recebiam pagamento semanal e se aproveitavam de suas funções e seus relacionamentos paracolherem informações junto aos organismos policiais esistema penitenciário e repassá-los para os traficantes.
Para não levantar suspeitas, esses agentesofereciam informações a outros policiais da localização dearmas e drogas, como forma de conseguir a aproximaçãonecessária e poder ter acesso a informações policiais. O PM Gordo também vendia fardas para os traficantes da Rocinha.
Na sentença, consta ainda que os traficantes também tentavam corromper funcionários da Justiça. Em um trecho dos autos, a mulher do traficante Antônio Francisco Bonfim Lopes, o Nem da Rocinha, também citado no processo, Danúbia de Souza Rangel, disse ter pago, a mando do marido, R$ 120 mil a um servidor da Vara de Execuções Penais.
Procurada pelo Portal Eu Rio para falar sobre o caso, a Polícia Militar informou que os policiais estão a disposição da Diretoria Geral de Pessoa, uma espécie de "geladeira" da PMl. Em nota, a corporação acrescentou ainda que que "vale ressaltar que a PM colabora com a Justiça nesses casos".
O TJ-RJ foi contactado pelo portal e não respondeu até o fechamento da matéria.