Entre ontem e hoje, praias da Ilha do Governador, Fundão e Paquetá foram inteiramente tomadas pelo mar, chegando a invadir o calçadão e alagar diversas ruas. Uma ressaca também atingiu a praia do Leblon na manhã desta sexta-feira. Segundo um alerta emitido pela Marinha, a ressaca tem previsão de durar até às 21h de sábado (11). De acordo o movimento Baía Viva, o mar está sofrendo os efeitos das mudanças climáticas e "tomando de volta" o que antes lhe pertencia.
Na Ilha do Fundão, o mar inundou ruas da Comunidade da Vila Residencial da UFRJ e Parque Royal entre ontem e hoje. Moradores perderam geladeiras, móveis, livros e outros bens materiais. Na Ilha do Governador, a ressaca fez com que o mar "engolisse" a praia da Engenhoca, fazendo desaparecer a faixa de areia e atingindo o calçadão e a rua. Na Ilha de Paquetá, a praia dos Tamoios foi inteiramente "engolida" e a água alagou a orla. Em São Gonçalo, no Leste Fluminense, comunidades pesqueiras da orla e algumas favelas próximas da Baía da Guanabara também foram atingidas.
Na manhã de hoje, uma ressaca, com ondas de até três metros de altura, tomou a faixa de areia e invadiu o calçadão da Praia do Leblon, na Zona Sul do Rio. Essa foi a segunda vez em uma semana que isso ocorreu no local. A primeira vez ocorreu no último dia 5, em que ondas de até 3,5 metros tomaram o calçadão. Apesar da recomendação de isolamento social, por parte das autoridades, para as pessoas ficarem em casa, a praia estava com vários banhistas e muitos surfistas se arriscaram para aproveitar as ondas.
Segundo o ambientalista Sérgio Ricardo, diretor do movimento Baía, Viva, há estudos científicos que comprovam maior vulnerabilidade das cidades costeiras. "Do caso do entorno da Baía da Guanabara, nós temos historicamente um modelo urbano e industrial, que aterrou 80 quilômetros quadrados do espelho d"água da Baía, dezenas de lagoas, manguezais, rios e a maior parte das cidades foi construída de costas para a Baía. Agora, com marés meteorológicas mais intensas, regiões, como Ilha do Governador, Paqueta, Ilha do Fundão, orla de São Gonçalo, e outras áreas em comunidades costeiras, sofrem estes impactos", conta. "É como se o mar estivesse tomando de volta o que lhe tiraram antes", disse Sérgio.
"Na ausência de um Plano Estadual de Gerenciamento Costeiro e de Plano de Mitigação das mudanças climáticas, as áreas litorâneas do litoral fluminense estão vulneráveis resultando em aumento da destruição de infraestruturas (calçadas, quiosques) e "engolimento" ou desaparecimento da faixa de areia diversas praias.
Estudos do IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas), da ONU, apontam as cidades litorâneas brasileiras, como as que apresentam maior vulnerabilidade às mudanças climáticas", explica o ambientalista.
De acordo com Sérgio Ricardo, no Rio de Janeiro, partes da orla marítima do Recreio dos Bandeirantes, nas ilhas do Governador e Paquetá e em cidades da Região dos Lagos e da Costa Verde Verde fluminense, já vem sofrendo os impactos das inundações e da destruição da faixa litorânea e de infraestruturas urbanas (como calçadas e ruas, píers atracadouros e até mesmo moradias, pousadas e do comércio de praia) que são refeitas e/ou reconstruídas periodicamente pelas prefeituras, de forma paliativa e cada vez mais frequente, como se fosse uma "operação enxuga gelo", cujos custos financeiros são cada vez maiores para os cofres públicos.
E isso não é de agora. "Em setembro de 2017, estive participando do "Festival das Baleias" no município de Prado (Sul da Bahia), que fica na histórica Rota do Descobrimento, e além da beleza de sua riqueza ecológica tropical e solar, me impressionou os efeitos e impactos da elevação do nível do mar que, literalmente, já estava engolindo (ou avançando sobre) partes do litoral de 8 municípios turísticos daquela região", relata Sérgio Ricardo.
Para o ambientalista, houve uma ocupação inadequada e desordenada da área urbana do Rio, que avançou sobre a faixa de praia, pequenas lagoas, aterrando as margens e os espelhos d´água de rios, assim como a vegetação de restinga, que tem a função de reduzir ou mitigar os efeitos dos ventos contínuos sobre o ambiente construído.