O home office tem sido apontado como a salvação para muitas empresas. Praticidade, agilidade, economia de tempo e de custos com deslocamento são conceitos geralmente associados ao trabalho remoto. Trabalhar em casa é uma tendência que já vinha sendo discutida há bastante tempo. Na quarentena, o que era tendência transformou-se em cotidiano: as mulheres tentam se dividir entre trabalho, cuidados com os filhos e tarefas de casa.
Com a pandemia, além de dar conta de reuniões e planilhas, as mães também preparam as refeições, limpam a casa e cuidam dos filhos. Como as aulas presenciais estão suspensas, muitas escolas têm passado atividades para as crianças fazerem em casa, com acompanhamento dos pais. Como não enlouquecer diante de tantas atividades?
“Quando se trata de nossos filhos, fazemos com amor e muito prazer, mas precisamos dividir as obrigações igualmente entre mães e pais. Em muitas famílias a rotina já é dividida, e é isso é maravilhoso. Mas, infelizmente, não é a realidade de todas as mães e a carga sobre a gente acaba ficando mais pesada”, ressalta Thaís Mariano, gerente de RH na Neotix Transformação Digital e mãe de Antônio, de dois anos.
Thaís Mariano
Saúde mental crítica
Recentemente, uma pesquisa sobre home office realizada pela startup Pin People, com 30 mil trabalhadores do Brasil e da América Latina, mostrou que a saúde mental das mulheres está em estado crítico. Segundo os resultados parciais, as mães estão tendo uma experiência de trabalho remoto pior que os pais.
“Isso não é justo, né? Ainda temos um longo trabalho de conscientização que precisa ser feito, tanto em relação aos pais, para que tomem para si o real papel de pais; quanto para nós, mães, que temos que desapegar do peso de achar que precisamos dar conta de tudo, porque não precisamos”, reclama Simone Cardarelli, mãe de Pedro, de três anos e gerente de projetos da mesma empresa de Thaís.
Como as empresas podem acolher as mamães da equipe?
Muitos profissionais não entendem a sobrecarga das mães, porque não vivem isso. Exigem horários ou entregas que são simplesmente inalcançáveis, ou pior, questionam a dedicação ao trabalho dessas mulheres.
“A maternidade não reduz a nossa competência profissional e cabe às empresas, olhar para o nosso cotidiano com uma visão mais humana. Porque uma colaboradora, mãe, que não se sinta acolhida em seu trabalho será infeliz e, provavelmente, procurará um outro lugar que a acolha”, afirma Thaís.
“Pensar em modelos de trabalho remoto menos engessados, com foco em metas e não, necessariamente, no cumprimento de horários, pode ser uma alternativa que não prejudique o desempenho profissional. Afinal, nosso local de trabalho teve que mudar com a pandemia, mas nosso compromisso e seriedade com o que fazemos permanecem os mesmos”, define Simone.
O home office é mais estressante para mulheres, mas não precisaria ser. Uma gestão que entenda as dificuldades, aberta ao diálogo e a negociações, torna o dia a dia mais leve e transparente. Os líderes, mesmo que sejam homens, precisam fazer o exercício de se colocar no lugar das mães, já que uma gestão mais humana sempre traz resultados positivos para todo o time.
Simone Cardarelli
Cuidar da mente
“Nós, assim como tantas outras mães, estamos trabalhando de casa e enfrentando o desafio de crianças e home office há muitos dias. Cada uma com sua história, uma aprendendo a dividir as tarefas com o marido e a outra em carreira solo, estamos sempre trocando experiências de alegrias e de momentos de desespero que o fato de ser mãe nos proporciona”, diz Thaís.
“O que já aprendemos com tudo isso? Em primeiro lugar, que não somos supermulheres e que não estamos competindo para ver quem consegue fazer mais coisas durante a quarentena. Acho que o nosso maior desafio está sendo deixar de tratar como prioridade coisas que agora já não fazem mais sentido e cuidar da nossa mente, porque precisamos dela para dar o que temos de melhor para as pessoas mais importantes das nossas vidas, que são nossos filhos”, completa Simone.
Fato é que as mulheres-mães não devem se cobrar tanto agora. Afinal, o mundo voltará ao “normal” e o trabalho retornará ao ritmo de antes.